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Endividamento nas principais economias europeias aumentou fortemente. Veja os dados |
Endividamento nas principais economias europeias aumentou fortemente. Veja os dados| Foto:

Qual é o tamanho da crise europeia? A preços de 31 de dezembro de 2010, é um jogo de 7,8 trilhões de euros. Esse é o valor da dívida somada dos 17 países da zona do euro – uma bolada que equivale a 4,9 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que é a soma de todas as riquezas produzidas no país em um ano.

Uma análise dos dados econômicos do continente, mesmo que superficial, revela que a gastança estatal é um fenômeno antigo, mas que se tornou mais agudo recentemente. Para fugir de uma crise, em 2008, os governos europeus usaram grandes quantidades de dinheiro para salvar empresas e bancos que corriam risco de quebrar durante a crise de 2008, provocada pela inadimplência nos financiamentos habitacionais dos Estados Unidos. A conta chegou agora – e está difícil pagar.

Mesmo considerando países que não usam o euro, mas fazem parte da União Europeia ou estão se preparando para ingressar no mercado comum, percebe-se que a dívida é um problema. De um universo de 31 nações, apenas uma – a Noruega – conseguiu reduzir a relação dívida/PIB de 2008 para 2009. Alguns casos, como o da Islândia, são drásticos. O endividamento do Estado quase triplicou: cresceu de 3,5 bilhões de euros, em 2006, para 9,2 bilhões de euros no ano passado. A relação dívida/PIB subiu de 28% do PIB para 93%.

Na semana passada, a crise tornou-se mais aguda porque tocou, pela primeira vez, a Alemanha. O país pretendia fazer uma emissão de títulos de 6 bilhões de euros, com prazo de resgate para dez anos. A demanda, entretanto, ficou em 3,6 bilhões de euros. Isso significa que a confiança dos bancos na capacidade de pagamento do país já não é mais a mesma. Os juros também subiram, ultrapassando os 2,2% ao ano. Embora estejam bem mais baixos que os da Itália e Espanha – estes, em tono de 7% ao ano –, esse é outro sinal de que o mercado perdeu o respeito pelo gigante germânico.

"Isso muda bastante o cenário", admite Luiz Augusto Pacheco, diretor de gestão de recursos da boutique de investimentos Inva Capital. Até então, esperava-se que a Alemanha se convertesse no grande fiador das dívidas europeias – um papel que, no jargão do mercado, é chamado de lender of last resort (em português, "emprestador de última instância"). Os alemães vinham se recusando a assumir esse papel e, agora, o mercado parece estar julgando que eles não serão capazes de assumi-lo.

Uma saída para a crise é difícil porque depende de negociações políticas complexas entre os países-membros. O problema principal está no fato de que todos são muito diferentes, apesar de usarem a mesma moeda. E não há caminho para os países mais afetados pela crise – Irlanda, Grécia, Itália, Espanha, Portugal e Chipre, por enquanto – sem a adoção de medidas duras. Corte de funcionários públicos, aumento de impostos e redução de benefícios são questões que estão na ordem do dia. As medidas são, obviamente, impopulares. Causaram revolta popular na Grécia, greve geral em Portugal (ocorrida na quinta-feira) e já resultaram na queda de governos – o último deles na Espanha, que teve o Partido Popular, de oposição, como vencedor das eleições do domingo passado.

Mesmo que todo o dever de casa seja feito, a caminhada posterior tende a ser dura. Rossano Oltra­mari, chefe da área de análise da XP Investimentos, prevê que a Europa deve enfrentar um longo período de crescimento baixo nos próximos anos. "Prevemos que a Europa da próxima década será como o Japão dos anos 90: uma região rica, mas estagnada", diz.

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