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O Google pede a sua licença para usar um pouco mais do que sabe a seu respeito - mas promete que será para o seu bem e para, como efeito colateral, mudar o mundo. Com postulados repetidamente interrompidos pela ressalva "com a sua permissao" - ou "com a sua licença" ou "se você desejar" -, o CEO do Google, Eric Schmidt, apresendou nesta terça-feira, em Barcelona, os planos da maior empresa da internet para o mundo da mobilidade.

Conceitualmente, explicou, nao é possível pensar nas aplicaçoes do futuro sem imaginar o uso e a associaçao inteligentes das informaçoes que os usuários compartilham nas redes ou as novas formas seguras de guardar dados nos aparelhos.

Foi um discurso muito menos objetivo do que o do ano passado no mesmo evento, o Mobile World Congress. Em 2010, poucos meses depois do lançamento do Android, o CEO do Google disse a um auditório supreso que a empresa passaria a priorizar as plataformas móveis em seus desenvolvimentos e mostrou uma série de protótipos. Em um ano, o Android passou de aposta a 300 mil ativaçoes (novos aparelhos em operaçao) por dia em 69 países. Já está em 170 aparelhos distintos de 27 fabricantes. E apesar de o robozinho verde que simboliza o OS estar presente em cada esquina do congresso, este nao foi o principal tema da fala de Schimidt. Desta vez, o discurso tocou, conceitualmente, no delicado tema da privacidade.

"Enquanto estivermos de acordo "com a sua permissao", acho que as pessoas vao adotar o que propusermos e nao haverá problemas legais", disse Schimidt. "Isso é perturbador. Muda as vidas e os negócios das pessoas. É aterrador e excitante. É aterrador porque lida com informaçao, e as pessoas se preocupam. Estamos ouvindo isso", reconheceu.

Schmidt citou situaçoes práticas, mas nao planos concretos. Disse que o Google quer ser capaz de entregar resultados de busca - entendidos aqui de maneira muito mais ampla do que uma consulta à ferramenta tradicional da web - de maneira muito mais personalizada.

"De repente, agora, estou no trânsito escolhendo para onde ir. Por que meu telefone nao pode falar com meus amigos para me dizer qual caminho pegar?", frisa.

O recurso sonhado nada tem a ver com induzir uma ligaçao de voz e, sim, rastrear por onde meus amigos passaram, quando, em quanto tempo e dizendo o quê nas redes sociais, por exemplo.

Pagamento com celular

Parte da informaçao que Schimdt julga fundamental para o futuro da comunicaçao móvel está nos servidores mundo afora, que usamos, entre outras coisas, para compartilhar dados com nossas redes de amigos e de interesseste. (Outro nome disso é a nuvem: território de processamento rápido e potencialmente inteligente bem conhecido do Google.)

Outra parte da informaçao que promete facilitar a vida de todo mundo vai morar num chip minúsculo, dentro do celular, e nao será compartilha do com ninguém.

A tecnologia NFC (Near Field Comunication) promete tornar realidade enfim o uso do celular para transaçoes financeiras, como um cartao de crédito, e há rumores de que o Google se interessa neste mercado. Rumores que Schimdt nao desmentiu.

"Temos ai uma mega oportunidade pela frente", disse ele.

Sorvete quente

Um ano atrás, com o Google ainda dando os primeiros passos públicos em mobilidade, Schmidt ocupou a tribuna em Barcelona já triunfante.

Para a platéia lotada, fez o mais concorrido e significativo discurso do evento, anunciando a nova orientaçao da empresa: "Mobile first". Disse que o Google compreendia a mobilidade como um advento transformador do comportamento, do consumo e da comunicaçao. Uma revoluçao. Listou, satisfeito, 35 aparelhos que estavam saindo com Android, e demonstrou o uso do celular para traduçoes de textos ou busca por voz.

Em doze meses, tudo usso parece muito antigo e o robozinho verde passou de azarão a campeao. Já é o sistema operacional mais popular do mundo, e está por trás dos principais lançamentos de Samsung, LG, Motorola e HTC entre outros gigantes trazidos para a feira, a principal do mundo da telefonia móvel. Está em celulares, com o apelido Gingerbread para a versao mais recente, e Honeycomb, para a versao especial para tablets. E vem aí um meio termo.

"Estes lançamentos estao ocorrendo em ciclos de seis meses", disse Schimidt, que prometeu que o próximo "doce" da lista é uma sobre mesa que começa com I (para manter a ordem alfabética) e vai associar recursos pensados para os dois tipos de device. (Deve ser o suficiente para insuflar especulaçoes sobre um possível... Icecream? )

Schimidt também comentou a movimentaçao da concorrencia. A Nokia - cujo sistema proprietário, o Symbian, o Android está desbancando do topo da popularidade - nao aparece na lista de fabricantes com Android, por causa da recém anunciada parceria estratégica com a Microsoft e vai lançar celulares com o Windows Phone, a versao do Windows 7 para celular:

"Adoraríamos que tivessem escolhido o Android. Escolheram os outros caras, a Microsoft. Mas a oferta está de pé para o futuro. Achamos que o Android era uma escolha melhor para a Nokia", frisa.

Também disse que é a Microsoft e seu sistema de busca Bing que mais preocupam como concorrentes - problema que nao vê nos modelos de publicidade do Facebook. Sobre o Twitter, evitou comentar os rumores de compra. "Amamos o Twitter e eu gosto muito de twitar", destaca.

Conversas para evitar guerras

A maior parte de sua fala, porém, Schimidt dedicou as transformaçoes que a mobilidade vem trazendo à sociedade. O celular, disse, serve primariamente para comunicaçao. Em seguida para serviços de dados e nagevacao. Mas e se fosse uma plataforma que ajudasse você a conhecer coisas e encontrar pessoas que nao conheceria ou encontraria de outra forma? Este é o futuro.

"É alarmante o quao poderosas sao as coisas que podemos colocar na mao das pessoas", disse Schmidt, referindo-se ao casamento entre redes de dados cada vez mais rápidas (as primeiras LTE entram em operaçao neste ano), telefones com capacidade de processamento de um PC e a parceria da nuvem para acelerar a associaçao das informacoes.

Além disso, "dois bilhoes de pessoas novas estao entrando na conversa graças à mobilidade", disse Schmidt sobre os mercados em que o telefone celular é o primeiro contato de muitas pessoas com a internet e as redes.

"Nao sei se vamos evitar guerras, mas vamos fazer as pessoas se falarem mais."

E pouparem tempo. Hoje, explicou ele, os smartphones eliminam uma série de eventos comuns e indesejados da condiçao humana. O simples e livre exercício da memória e do esquecimento, por exemplo, mudou.

"Nao somos bons nisso (em lembrar). Os computadores sao", disse Schimidt. "Perder-se com um celular destes no bolso, por exemplo, é quase impossível. E mesmo que você se perca, seus amigos podem achar você. Com a sua permissao", destaca.

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