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A euforia é tanta no mundo da tecnologia que é possível questionar se o setor está atravessando mais uma bolha especulativa – como aquela que estourou no fim de 2000, levando milhares de empresas "ponto com" à falência e deixando outros milhares de investidores a ver navios. O motivo do oba-oba é uma tal de Web 2.0. Não se preocupe se você nunca ouviu falar no termo, muito menos se você ouviu e não entendeu do que se tratava. O importante é que, se você já usou o Google Earth, se cadastrou no Orkut ou recebe notícias por meio de RSS, pode se considerar inserido na nova onda. Mais ainda: caso tenha criado um blog ou apenas adicionado informações na Wikipedia, você é um dos construtores da Web 2.0.

O apelido, criado por um dos papas do movimento em prol do software livre, o irlandês Tim O’Reilly, surgiu em outubro de 2004 para definir uma série de mudanças pelas quais a internet passa. A primeira – e mais importante – delas é que a rede mundial está cada vez mais dinâmica e interativa. "Ora", muitos irão dizer, "velocidade e troca de informações são intrínsecas à internet e não há nada de novo nisso". Certo, mas uma série de inovações tecnológicas surgidas no fim da década passada fez com que a web ficasse cada vez mais interessante por causa da participação dos usuários. "É difícil dar uma definição para a Web 2.0, afinal é algo que ainda está em fase de formação. Os motores dessa nova web, entretanto, podem ser apontados, e eles são os blogs, os wikis e o RSS", diz o professor de pós-graduação em tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Marcelo Stein de Lima Sousa, um dos poucos brasileiros a tratar do assunto.

Há uma boa dose de marketing em se criar um termo que denota uma segunda versão da web – como se a primeira (poderíamos chamá-la de Web 1.0?) tivesse de ser substituída. Não é nada disso. A transformação é linear e gradual, com os serviços oferecidos na internet tornando-se pouco a pouco mais cooperativos. E é exatamente essa característica que tem o poder de tornar a grande rede tão excitante a ponto de passar a sensação de estarmos inflando mais uma bolha "ponto com". Os sintomas estão todos aí: ações de empresas baseadas na internet ultravalorizadas (os papéis do Google negociados na Nasdaq, por exemplo, estão mais de 500% acima do que valiam há 2 anos), novos "gênios" da informática celebrados (como o sueco Niklas Zennström, fundador do Skype) e negócios multimilionários sendo fechados (o aporte feito recentemente por um fundo de investimentos norte-americano de R$ 20 milhões no YouTube, popular serviço de compartilhamento de vídeos).

Mas o fato é que a web está mais próxima daquele conceito bolado por teóricos em seus primórdios. Estão incluídas aí as teorias da "superdistribuição" (na qual consumidores de informação passam automaticamente a distribuidores de informação), da "inteligência coletiva" (em que várias mentes poderiam se tornar um gigantesco cérebro) e do "hipertexto" (um meio de informação não-linear e totalmente sob demanda).

"A Web 2.0 funciona basicamente em torno do usuário. Nela, o internauta passa de mero receptor para produtor de conteúdo ou código", afirma Sousa. "O termo está virando clichê nas publicações especializadas, como sinônimo de tudo o que é novo na internet e muitos dos serviços citados como exemplo de Web 2.0 já existiam tempos antes de inventarem o apelido", enfatiza o consultor de marketing online e colunista do Fórum PCs, Júlio Preuss. "As aplicações da Web 2.0 são construídas sobre uma rede cooperativa de serviços de dados. Quando os programas são conectados à internet, essas aplicações deixam de ser artefatos de software, são serviços contínuos. Portanto, a chave para a vantagem competitiva na nova web está na extensão em que os usuários são donos das informações que fornecem", conclui Preuss.

Os especuladores estão aproveitando, há muitas iniciativas brigando por uma mesma fatia de internautas (principalmente na área de relacionamento, com Orkut, MySpace e afins) e outras tantas sem objetivo definido. Mas graças aos erros da década passada e ao clima de colaboração que tomou conta da rede é quase certo que a Web 2.0 veio para ficar.

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