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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Sem trauma com os números

Diante de exercícios de Matemática que considerava impossíveis de serem resolvidos, Karla Stachera Rohrich (no centro da foto, ao lado da professora Sônia Mincov de Almeida) passou a infância apelando para a decoreba. "Por muitos anos, consegui a aprovação porque decorava as regras e as formas de solucionar exercícios", conta. Apesar dessa experiência, Karla optou pela carreira de Pedagogia e teve de enfrentar alguns fantasmas. Quando a professora perguntou quais universitários gostavam de Matemática, apenas um colega levantou a mão. "A professora mostrou que hoje a Matemática pode ser ensinada de uma maneira lúdica e atrativa. Durante um semestre, pude reaprender a Matemática com uma metodologia inovadora", conta. Pelo estágio, Karla levou o conceito dos jogos para alunos do 3º ano do ensino fundamental e tem ajudado novas turmas a aprenderem sem traumas.

Aceitação

Jogos podem encontrar resistência dos pais

Habituados com uma Matemá­tica "difícil", que exigia ambiente silencioso, rigidez e disciplina para ser aprendida, alguns pais podem ser resistentes à introdução de jogos no ensino da disciplina. "Precisamos mostrar que o papel lúdico do jogo pode ser parte das aulas. Sugiro aos professores que apresentem aos pais os jogos que serão desenvolvidos em classe, com os conteúdos intrínsecos a eles", conta a doutora em Educação Cármen Brancaglion Passos.

A especialista lembra que teve problemas de aceitação com o jogo Nim, que usa palitos. Os pais reclamaram que os filhos ficaram jogando "palitinho" na aula. "O Nim tem implícito o algoritmo da divisão e muitos outros conceitos. Uma reunião com os pais foi importante para as famílias perceberem que o ‘recurso’ jogo não pode ser confundido quando é intencionalmente planejado para ser um elemento pedagógico", afirma.

Diversas avaliações de desempenho escolar apontam para o mesmo problema: o ensino de Matemática não é eficiente na educação básica brasileira. O resultado preocupante é comprovado, por exemplo, pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que coloca o Brasil na 58.ª posição entre 65 países. A avaliação internacional ainda indica que metade dos alunos se vê sob tensão ao resolver os exercícios matemáticos, o que tem impacto direto no desempenho escolar.

Experimente um jogo com seus filhos e alunos

Recentemente, uma reformulação do currículo no Paraná priorizou a Matemática e o Português, garantindo mais tempo de aula dessas disciplinas. Contudo, a medida só ajudaria a reverter falhas de aprendizagem se estivesse associada a outras iniciativas. A mais importante delas é a formação continuada de professores, o que favoreceria a criação de aulas mais dinâmicas e atrativas. "Seria desejável que os professores de Matemática criassem em sala de aula um ambiente de desafios, investigações, explorações matemáticas, de modo que os alunos se motivassem a resolver os problemas", comenta a doutora em Educação Cármen Lúcia Brancaglion Passos, professora do Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas da Universidade Federal de São Carlos.

Aliado

Para a mestre em Educação Matemática Sônia Regina Mincov de Almeida, que há 20 anos ensina a disciplina no ensino fundamental, os estudantes querem recursos novos e que estejam de acordo com o que pensam. O uso de jogos matemáticos pode ser um aliado nesse processo de transformação. Ultrapassando a função lúdica, os jogos se mostram ferramentas de construção e de potencialização de conhecimentos matemáticos. "Os jogos ajudam a desmistificar a imagem da Matemática como bicho papão e é uma das metodologias capazes de fazer com o que o aluno comece a gostar e a perceber a Matemática como algo que tem significado", conta.

Um jogo matemático tem a vantagem de não permitir a atitude de conformismo do aluno. "Se o aluno olha para o exercício no papel, pode dizer ‘ah, isso eu não sei fazer’ e querer desistir. Com os jogos, é incentivada a investigação para a resolução de problemas. O aluno quer ganhar, então tem outra postura perante o obstáculo", diz Sônia, que também é professora do curso de Pedagogia da FAE Centro Universitário. Por lá, universitários repensam a relação estudantil com a disciplina e descobrem o prazer em entender a Matemática usando ferramentas como os jogos, que são adaptados ou criados por eles. É o começo de uma nova geração de professores para crianças que devem crescer sem medo de adições, subtrações, raízes quadradas, fatoriais.

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