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Local do show visto de dentro da sala onde a prova foi aplicada |
Local do show visto de dentro da sala onde a prova foi aplicada| Foto:

Responder 90 questões e fazer uma redação em cinco horas e meia exige muito foco dos estudantes que fazem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No entanto, os alunos que realizaram a prova no último domingo (05) na Universidade Nove de Julho (Uninove), campus Barra Funda, em São Paulo, tiveram um desafio a mais: concentra-se ao som de um show de rock que acontecia no Espaço das Américas, casa de eventos vizinha do local. 

O problema é que o mesmo espaço prevê outro show para o próximo domingo (12), data do segundo dia do Enem. A apresentação do cantor Bell Marques está agendada para as 17h. Para tentar impedir a realização do evento, a estudante Bruany Bianchi, 25, criou uma petição pública que já conta com quase 10 mil assinaturas. 

Segundo ela, o evento do último domingo ocorreu no estacionamento da casa de shows, o que piorou o barulho. No começo, a estudante pensou que fosse apenas uma brincadeira dos veteranos, já que algumas faculdades fazem uma espécie de “recepção” aos candidatos. 

“É muito comum que nos locais de prova tenham baterias das universidades antes do início do exame. Pensei que fosse isso. Mas o som continuou quando o Enem começou, e o rock foi ficando cada vez mais pesado”, contou ela à Gazeta do Povo

Bruany tenta uma vaga para medicina e sabe que precisa de uma nota elevada para ser aprovada em uma universidade. As músicas altas, segundo ela, atrapalharam o seu desempenho. “A banda estava tocando do outro lado da rua, literalmente. Eu não conseguia me concentrar. Confesso que a minha confiança está abalada, porque estava difícil escutar os meus próprios pensamentos para expor as ideias no papel”, disse. 

Ao final da prova, com a autorização dos fiscais do Enem, Bruany fez um vídeo para dar uma dimensão do barulho dentro da sala.

[ENEM] Por favor peço a ajuda de vocês! ❤️ ASSINE NOSSO ABAIXO ASSINADO : Petição contra a realização do Show no...

Publicado por Bruany Bianchi em Domingo, 5 de novembro de 2017

Ela conta que, em sua sala, os estudantes não sabiam o que fazer. “Tinha gente olhando para o nada, como se estivesse desistido. A maioria, porém, colocava as mãos nos ouvidos para tentar fazer a prova. Uma menina chegou a chorar, vi outras nessa mesma situação passando pelo corredor”, afirmou. 

E não foram só as músicas que atrapalharam os estudantes. Brenda Zied, 19, também fez a prova na Uninove, porém em uma sala um pouco mais distante do evento. “Eu não escutava o show em si, mas sim uma gritaria do público. Não consegui me concentrar e nem organizar os meus pensamentos por causa do barulho”, diz. 

Redação 

Para os estudantes, a prova de redação foi a mais prejudicada, já que a estratégia da maioria dos candidatos é iniciar o exame por ela. É o caso de Victor Henrique Cardinali, 17, que precisou parar o texto que estava fazendo por falta de concentração. 

“O som começou um pouco mais baixo, então iniciei a prova pela redação, já que essa sempre foi a minha estratégia. Porém, aos poucos, o barulho foi se tornando um absurdo. Estava tão alto que nem escutávamos o que o aplicador da prova falava. Precisei parar o meu texto na metade para tentar fazer as questões, mesmo assim senti dificuldade”, diz. 

Cancelamento

A petição de Bruany pede o cancelamento do show marcado para o próximo domingo, além da anulação da prova anterior. No documento online, ela afirma que mais de 3 mil candidatos foram prejudicados.

O evento no Espaço das Américas começou às 14h e só acabou às 16h30, aproximadamente. A prova do Enem foi das 13h30 às 19h. 

De acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura Regional da Lapa, responsável pela região de Barra Funda, não é possível suspender eventos que ocorrem dentro de um espaço legalizado. Somente se o show acontecesse na rua haveria o que fazer. 

Até o fechamento desta reportagem, o Espaço das Américas não tinha respondido às nossas tentativas de contato.  

Inep 

Os candidatos ouvidos por esta reportagem relataram à Gazeta do Povo que tentaram entrar em contato com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) — órgão responsável pelo Enem — diversas vezes, sem sucesso. 

“Eu e outros candidatos tentamos conversar com o Inep durante a prova. A resposta foi que eles não podiam fazer nada. Um fiscal chegou a dizer que esperava ‘não ouvir reclamações da nossa sala novamente’. Quando cheguei em casa, mandei vários e-mails para ouvidoria do órgão, mas não tive nenhuma resposta”, diz Victor Henrique. 

Para ele, a forma como os alunos foram tratados foi desrespeitosa. “A coordenação não se dispôs a fazer muita coisa, as respostas eram inconclusivas. Foi bem desagradável”, afirma. 

Procurada pela Gazeta do Povo, a assessoria de imprensa do Inep disse que o instituto não recebeu qualquer reclamação oficial e que, em caso de queixas, os alunos devem enviar um e-mail para sic@inep.gov.br ou entrar em contato pelo telefone 0800-616161. 

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