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A imagem mostra a fachada de um ônibus escolar dos Estados Unidos.
Foto: Pixabay.| Foto:

Heloise Moxey não quer mandar Bentley, seu filho de quatro anos, para as escolas municipais de baixo desempenho que ele está autorizado a frequentar, na região sul do Bronx, em Nova York. “Não vou mandá-lo para as escolas públicas locais. As avaliações são horríveis”, disse ela, acrescentando que o filho mais velho, Lamar, de 8 anos, está indo muito bem na escola charter (escola pública de gestão privada) Leader’s Institute, no Harlem.

Mas Bentley está em listas de espera nas escolas charter Zeta, Success Academy, Bronx Classical e Democracy Prep. “É difícil conseguir uma vaga”, comentou Heloise, “Deveriam abrir quantas escolas charter fosse preciso para anteder à comunidade. Os pais deveriam ter opções”.

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A dificuldade de Heloise, relatada no New York Post, é a mesma enfrentada por 52.700 nova-iorquinos, que estão desesperados para encontrar alternativas às terríveis escolas públicas, e cujos filhos estão padecendo nas listas de espera das escolas charter. No ano letivo de 2018-19, havia 79.600 candidatos para as aproximadamente 26.900 vagas disponíveis nas 238 escolas charter de Nova York que serão abertas em setembro deste ano.

Essas longas listas de espera refletem o fracasso das políticas públicas de educação do prefeito de Nova York. Em 2013, Bill de Blasio fez campanha contra escolas charter, e quando eleito, em 2014, prometeu à Federação Unida de Professores, o sindicato local, uma mudança brusca em relação às políticas de seu antecessor, Michael Bloomberg, de fechar escolas públicas e abrir escolas alternativas.

Durante os últimos cinco anos, o prefeito travou uma guerra implacável contra o crescimento das escolas charter. A alternativa de Bill de Blasio às escolas charter foi um programa de US$800 milhões para “renovar” as falidas escolas municipais. Esse programa não conseguiu melhorar as escolas, e foi interrompido em fevereiro de 2019. Enquanto a gestão de Bloomberg melhorou as escolas, aumentou o número de opções dos pais e economizou dinheiro, a abordagem do prefeito atual desperdiçou milhões de dólares e manteve milhares de crianças condenadas a escolas ruins.

As reformas educacionais de Bloomberg

Durante os três mandatos do prefeito Michael Bloomberg, Nova York esteve na vanguarda da reforma educacional nos EUA. A gestão Bloomberg fechou 160 escolas que vinham sendo continuamente mal avaliadas e convidou educadores com histórico comprovado de bons serviços a se candidatarem para ocupar as vagas. O resultado foi uma proliferação de novas escolas municipais pequenas, além de escolas charter, como alternativa viável ​às péssimas escolas municipais para nova-iorquinos de baixa renda. De 2001 a 2013, o número de escolas charter na cidade de Nova York cresceu mais de 600% – uma taxa seis vezes superior à média nacional.

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Com o apoio de Bloomberg, pioneiros de escolas charter, como Geoffrey Canada (Harlem Children's Zone), Eva Moskowitz (Success Academy), Jeff Litt (Icahn), Seth Andrew (Democracy Prep) e David Levin e Mike Feinberg (KIPP), criaram redes de escolas charter de alto desempenho em bairros de baixo desempenho. Essas escolas charter matriculam por sorteio e atendem alunos com o mesmo perfil econômico e racial das escolas municipais. Em poucos anos, os alunos das escolas charter não só estavam obtendo melhores resultados que seus colegas nas escolas públicas tradicionais; eles também estavam superando o desempenho de alunos brancos de bairros mais ricos.

Essas escolas charter operavam fora do controle dos sindicatos, e eram livres para contratar professores de maneira que focasse nas necessidades dos alunos. Os contratos dos professores das escolas charter geralmente têm uma ou duas páginas e permitem que os diretores demitam sem problemas. Em contrapartida, o contrato do sindicato de professores das escolas públicas tem centenas de páginas e foca na proteção do emprego e em tudo aquilo que os professores não podem ser solicitados a fazer durante a jornada de trabalho.

As novas escolas charter produziram melhores resultados acadêmicos a um custo muito mais baixo para os contribuintes. De acordo com um estudo da Universidade do Arkansas, um aluno de escola charter de Nova York custa anualmente 5.000 dólares a menos do que um aluno de escola pública municipal. O gasto anual per capita nas escolas municipais de Nova York é de 17.500 dólares.

Há também evidências de que as escolas alternativas que Bloomberg promoveu ajudaram a melhorar as escolas municipais, que tinham de disputar alunos. À medida que novas escolas charter abriam, as escolas municipais elevavam seus padrões acadêmicos e se tornavam mais seguras. O índice de conclusão do ensino médio em Nova York aumentou mais de 20%. De 2003 a 2013, as notas dos alunos de 4ª e 9ª séries do exame nacional de avaliação da educação (NAEP) melhoraram continuamente em leitura e matemática, eliminando a diferença que existia entre Nova York e o resto do estado.

Ataque às escolas charter

Durante sua campanha para prefeito, Bill de Blasio defendeu que as escolas charter deixassem de compartilhar espaços com escolas municipais e passassem a pagar aluguel para usar edifícios públicos. Essas propostas acabariam com a viabilidade da maioria das escolas charter da cidade. Assim que assumiu o cargo, de Blasio começou a revogar colocações e, em 4 de março de 2014, onze mil estudantes, pais e defensores de escolas charter foram até Albany, capital do estado, para protestar. Para o deleite da multidão, o governador Andrew Cuomo ofereceu seu apoio.

“Vamos salvar as escolas charter”, disse Cuomo no comício:

Gastamos mais dinheiro por aluno do que qualquer estado da nação, mas estamos na 32ª colocação em desempenho. Não se trata de simplesmente colocar mais dinheiro no sistema público de educação – trata-se de tentar algo novo, e as escolas charter são exatamente isso... Estou empenhado em garantir que as escolas charter tenham a capacidade financeira, o espaço físico e o apoio do governo para prosperar e crescer.

No dia 28 de março do ano seguinte, com o apoio de Cuomo, a maioria republicana do Senado do Estado de Nova York aprovou uma lei que restabeleceu a norma que Blasio havia revogado, proibiu o prefeito de revogar outras colocações ou cobrar aluguel de escolas charters, e exigiu que a cidade fornecesse às novas escolas charter instalações ou fundos para alugar esses espaços. Embora tais medidas tivessem garantido, por alguns anos, o futuro das escolas charter existentes em Nova York, o prefeito continuou colocando obstáculos à abertura de novas escolas. Nos últimos cinco anos da gestão de Bloomberg, foram aprovadas 150 colocações, média de trinta por ano. Nos primeiros cinco anos da gestão de Blasio, apenas dezoito novas escolas charter receberam espaço em edifícios de escolas públicas.

O prefeito de Blasio citou a “superlotação” como motivo para se opor às colocações, mas dados indicam que há muito espaço vazio nos prédios das escolas municipais de Nova York. Desde 2013, todos os anos, os 133 edifícios escolares em toda a cidade tinham mais de 300 carteiras vazias nas salas de aula. Os bairros onde as escolas charter desejam se instalar geralmente são aqueles cujas escolas municipais têm baixo desempenho e mais espaço disponível em suas instalações.

Uma aposta desperdiçada

Em novembro de 2014, Bill de Blasio anunciou que seu novo plano de gestão, chamado “Renovação”, “abalaria as estruturas da educação de Nova York”. Em vez de fechar escolas com baixo desempenho, o plano aumentou os gastos por aluno nessas escolas, financiou a formação de professores e acrescentou uma hora a cada dia escolar. Para complementar a Renovação, o prefeito criou uma Iniciativa Escolar Comunitária (CEI), que oferecia serviços sociais às escolas em dificuldades.

Em 2014, Bill de Blasio disse que o plano custaria 150 milhões de dólares em 94 das escolas de menor desempenho da cidade. Os custos da Renovação chegaram a estratosféricos 773 milhões de dólares em 2017, embora estudos tenham apontado a ineficácia do projeto. Aaron Pallas, do Teacher's College, Marcus Winters, da Universidade de Boston, e a RAND Corporation, encontraram poucas evidências de melhorias nas escolas. Em fevereiro de 2019, o prefeito admitiu o fracasso da Renovação e encerrou o plano. Mais de 750 milhões de dólares resultaram em pouca mudança e mantiveram milhares de crianças e jovens de Nova York confinados em instituições falidas.

Quando lançou a Renovação, a gestão de Blasio já tinha todas as evidências necessárias para saber que o programa iria fracassar. Iniciativas semelhantes de foram malsucedidas em Jersey City, Cleveland, Denver, Chicago e Houston. A partir de 2009, o governo Obama gastou 7 bilhões de dólares para renovar escolas de baixo desempenho, porém o resultado obtido foi que, “de maneira geral, em todas as séries... [esses programas] não tiveram impactos significativos nas notas dos testes de matemática ou leitura, no índice de conclusão no ensino médio ou de matrícula em faculdades”.

Chester Finn, que foi Secretário Adjunto de Educação do governo Reagan, explica por que as “renovações” não funcionam:

Uma escola funciona de acordo com suas rotinas, expectativas, cultura e currículo. Você pode mudar um, dois ou três desses elementos, mas isso não muda o curso da educação. Se quiser mudar o curso, é preciso mudar a marcha e girar 180 graus.

Ou, como diz Naomi Schaefer Riley, “se você não contratar um novo diretor, e se não deixar o novo diretor escolher novos professores e funcionários, nada vai mudar”.

A Harvard de Bill de Blasio

O prefeito também propôs mudanças nos critérios de admissão nas escolas públicas de elite de Nova York, que acabaram comprometendo sua missão educacional.

Em março de 2019, uma reportagem no The New York Times divulgou que “apenas sete estudantes negros foram admitidos na Stuyvesant, escola de ensino médio mais seletiva de Nova York, que oferece 895 vagas”. 74% dos calouros do próximo ano letivo será de origem asiática. Esses alunos entraram na Stuyvesant por meio do exame de admissão (SHSAT) criado para testar os conhecimentos necessários para ter um bom desempenho nessa exigente escola.

A reação do prefeito foi exigir que o Estado de Nova York abolisse o teste de admissão SHSAT e o substituísse por um sistema de cota à moda de Harvard, que reduziria drasticamente o número de estudantes asiáticos em escolas especializadas de ensino médio. O secretário escolar da prefeitura, Richard Carranza, disse: “Simplesmente não acredito na narrativa de que um grupo étnico pode dominar o processo de admissão nessas escolas”.

Mas, ao contrário da retórica de Carrera, há imensa diversidade étnica, racial e religiosa entre os alunos de origem asiática. Eles vêm de dezenas de países do sul, sudeste e leste da Ásia, e também do Oriente Médio. Além disso, Kay Hymowitz, do Instituto Manhattan, relatou no City Journal que a maioria dos asiáticos admitidos em escolas especializadas de ensino médio vêm de bairros de baixa renda, onde os pais imigrantes “se amontoaram em apartamentos minúsculos, trabalhando longas jornadas servindo mesas, lavando pratos e limpando quartos de hotel”.

Na esteira da controvérsia, os editores do New York Post escreveram:

O exame é apenas o mensageiro, determinando com bastante precisão quais alunos da oitava série estão realmente preparados para as matérias difíceis da Stuyvesant High School e outras escolas de elite. Para saber as razões pelas quais tão poucos estudantes negros e latinos se saem bem no teste, é preciso procurar em outro lugar: nas escolas de ensino fundamental.

Eva Moskowitz, fundadora das escolas charter Success Academy, argumenta que as notas dos testes são um indicador limitado de desempenho dos alunos; no entanto, são indispensáveis. O curriculum e os boletins de alunos das escolas de baixo desempenho não provam que eles realmente têm o conhecimento necessário de matemática e leitura para conseguir acompanhar as aulas em uma escola de ensino médio de elite.

Bill de Blasio poderia melhorar as perspectivas de crianças negras e latinas de entrar nas escolas mais disputadas – sem comprometer a qualidade dessas escolas – por meio da expansão de redes charter. Isso economizaria o dinheiro do orçamento da cidade e produziria melhores resultados. As notas de estudantes negros e latinos da Success Academy no exame SHSAT costumam ser o dobro da média dos alunos da rede municipal. Infelizmente, é improvável que o prefeito de Nova York sequer considere uma opção que favoreça escolas charter, porque isso iria de encontro às suas aspirações presidenciais. Além de ter sua imagem política progressista manchada, de Blasio perderia o apoio dos sindicatos de professores, que doam três vezes mais dinheiro aos candidatos democratas do que qualquer outro sindicato ou grupo.

* Robert Carle é professor de teologia no King's College, em Manhattan. Dr. Carle é colaborador da Public Discourse, Academic Questions, The American Interest, Newsday, Society, Human Rights Review e Reason.

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