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Atividades extras

Comprometimento no aprender

É comum a criança começar uma atividade extracurricular e desistir no meio, ou até no início, do caminho. Os pais devem aproveitar o momento para conhecer melhor o filho e ensinar sobre responsabilidade

Betina começou a fazer balé clássicou, mas depois decidiu fazer dança flamenca | Antonio Costa / Gazeta do Povo
Betina começou a fazer balé clássicou, mas depois decidiu fazer dança flamenca (Foto: Antonio Costa / Gazeta do Povo)

Juliana Mejia tem apenas 12 anos, mas já estudou xadrez, teatro, vôlei, natação e Kumon. Quer dizer: já começou a estudar. De todas as atividades, apenas a última foi feita sem interrupções, mais por vontade da mãe, a psicóloga Ivanise Salvador Mejia, 39 anos, do que por um desejo da filha. "Ela faz Kumon há três anos, tem afinidade enorme com a professora e mesmo assim pensou várias vezes em desistir. Eu é que não deixo", conta. Segundo professores e pedagogos, as crianças têm todo o direito de não gostar de um curso que começaram. Com a ajuda dos pais, entretanto, a continuidade das atividades realizadas fora da escola podem ensinar lições de comprometimento e responsabilidade.Um dos passos determinantes para a manutenção ou não em uma atividade é haver concordância entre o que querem os pais e o que deseja o filho, explica a psicopedagoga Jocian Machado Bueno, professora do curso de Pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). "O curso tem de estar de acordo com a personalidade da criança", afirma. Por outro lado, ela diz que estudantes com até 10 anos de idade normalmente não apresentam discernimento suficiente para escolher. A família, nesses casos, pode sugerir a atividade. "Nessa faixa etária a criança ainda é muito insegura com relação às suas escolhas. Os pais devem fazer uma peneirada, extraindo tipos de atividades que tenham a ver com o perfil do filho. Podem dar duas ou três opções", recomenda.

Professora do curso de Pedagogia da Pontifícia Uni­­versidade Católica do Paraná (PUCPR) e doutoranda em Educação, Maria Silvia Bacila Winkeler destaca que nem todas as decisões dependem da vontade dos filhos, porque algumas atividades atendem às exigências atuais do mercado de trabalho ou são importantes para a saúde da criança. "Ela tem de entender a importância de uma língua estrangeira, por exemplo. Os pais precisam usar argumentos para que a proposta seja acordada", afirma.

A professora diz que os pais podem até permitir que o filho abandone um curso de dança ou futebol, desde que investiguem antes a causa do desinteresse e que a desistência não se torne uma conduta habitual. Em sua avaliação, o estudante deve frequentar as aulas por pelo menos um semestre, em média, para que perceba com clareza se tem afinidade com a área. A presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto, sugere que os pais estipulem prazos antes do início da atividade. Para que a criança crie compromisso com a escolha, a família pode determinar que ela faça no mínimo seis meses ou um ano de curso. "A criança deve entender que a escolha precisa ser mais bem pensada. Ela não pode escolher uma coisa hoje e amanhã não querer mais", afirma.

Para as professoras, outra dica importante antes de bater o martelo é levar o filho para uma aula experimental. O teste serve para que o estudante compreenda a dinâmica do curso e para que os pais verifiquem se o professor e a escola atendem às suas expectativas.

Motivos da desistência

Depois de iniciado o curso, é fundamental que os pais acompanhem o desempenho dos filhos e conversem com os professores, até para compreenderem os motivos da diminuição do interesse pela atividade. A criança pode querer abandonar as aulas porque brigou com os colegas, porque um amigo deixou as aulas, porque está sobrecarregada ou por não querer enfrentar as exigências do curso. "Normalmente crianças são seduzidas por parte da atividade, pelo produto final, como sair falando inglês ou fazer uma apresentação de dança. Os pais devem explicar que levará tempo para o filho conquistar as coisas", afirma Jocian. Outra possibilidade que explica a desistência é o estudante ter sido colocado em um grupo muito avançado para sua idade ou formação.

Mãe de Betina Paixão, 8 anos, Raquel Alves, 32, conta que a filha fez balé clássico dos 3 aos 5 anos, mas desistiu porque não avançava para as fases seguintes. "Eu fiz dois anos de flamenco e a Betina acompanhava algumas aulas. Quando ela tinha 7 anos, disse que queria aprender aquela dança em que os bailarinos mexem as mãos", conta, referindo-se a um dos movimentos básicos da dança flamenca. Com a ajuda da atual professora, Raquel diz que a filha se sente cada vez mais estimulada. "A professora sentiu que ela tinha bastante facilidade, por isso passou a convidá-la para participar de algumas aulas mais avançadas", diz.

A causa do desestímulo também pode ser bem mais séria, como percebeu a psicóloga Ivanise Mejia. Ao avaliar as atitudes da filha Juliana, ela descobriu que a menina apresenta Transtorno do Déficit de Atenção (TDA), distúrbio caracterizado por atitudes repetitivas de desatenção, inquietude e impulsividade. Segundo Ivanise, hoje a filha está medicada e melhorou consideravelmente.

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