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Bernardo, 5 anos, se diverte com a mãe Luciana Moreira e o pai Paulo Masi após a família reorganizar a rotina | Ricardo Duarte/Agência RBS
Bernardo, 5 anos, se diverte com a mãe Luciana Moreira e o pai Paulo Masi após a família reorganizar a rotina| Foto: Ricardo Duarte/Agência RBS

Envolvimento

Dicas para estreitar laços com as crianças:

• Reserve um período do dia para acompanhar os estudos do seu filho. Dê uma olhada nos cadernos, ajude nas tarefas, pergunte sobre as notas e estude ao lado dele. Participe.

• Saia da rotina. Nos finais de semana, leve seu filho para conhecer lugares novos, sem horários rígidos nem compromissos. Leve a parques e faça atividades ao ar livre. Andar de bicicleta e fazer piqueniques são opções que as crianças adoram.

• Se você chegar em casa e ainda tiver de preparar o jantar, convide seu filho para cozinhar com você.

• Se for preciso deixar a criança em uma creche ou com babá, pesquise bem antes de escolher. Visite escolas, converse com as cuidadoras e escolha alguém que tenha valores semelhantes aos seus.

• Se você chegar em casa e seu filho já estiver dormindo, dê uma passada no quarto dele e, sem acordá-lo, faça carinho, beije e fique um tempo ao seu lado. O contato físico é sempre muito importante.

Qualidade

Para a psicóloga Raquel Suertegaray, pais que necessitam deixar os filhos com alguém por um período do dia devem aproveitar bem o tempo com os pequenos para criar vínculos fortes, educar de forma correta e estabelecer laços afetivos. Quando o casal transfere a tarefa de cuidar, os filhos perdem a referência do cuidador e podem ficar sem a noção de limites e ter dificuldades de relacionamento.

Distraído em meio a uma sala cheia de brinquedos, ora jogando futebol com o pai, ora brincando de carrinho com a mãe, Bernardo, 5 anos, esbanja animação e energia. No entanto, na hora de chamar pela mãe, o menino mostra sinais de um passado bem diferente do que vive hoje. "Profe? Mãe?", confunde-se.

Imediatamente, a mãe, Luciana Moreira, 48 anos, atende ao chamado. Acos­tumada com a confusão, esforça-se para reconquistar o papel que, sem se dar conta, foi deixando de lado durante os primeiros 2 anos de vida do único filho. Antes de completar 4 meses, Bernardo foi colocado em uma creche, onde permanecia diariamente das 7 às 19 horas. Distante dos pais, que acabaram ausentando-se da vida do menino para trabalhar e sustentar a casa, ele se tornou mais um exemplo dos chamados "filhos terceirizados".

Criadas e educadas sob os cuidados de babás, professores e ajudantes, crianças como Bernardo passam os primeiros anos de vida distantes dos cuidadores primários (em geral, os pais) e acabam não criando vínculos fortes com a família. Em sua maioria, não saem ilesas desse período.

Saúde emocional

Conforme a psicóloga Tatiana Hemesath, as consequências da terceirização dos cuidados com os filhos são estudadas por diversas áreas do conhecimento. Com conclusões diversas, o que todos indicam é que o cuidado que a criança recebe nos primeiros anos de vida é decisivo para o desenvolvimento e pode predizer, entre outras coisas, sua saúde emocional no futuro. "Esses cuidados não dizem respeito apenas à alimentação, higiene, estímulo físico, mas também à inserção de afeto e de limites na educação da criança."

Vivendo uma rotina frenética de trabalho, foi somente em uma conversa com a diretora da escola que Luciana passou a perceber as falhas na relação com o filho. Pouco antes de completar 2 anos, Bernardo começou a se tornar agressivo com os colegas e o diagnóstico foi dado aos pais de forma clara e objetiva. "Nos disseram que estávamos abandonando nosso filho. Foi um choque perceber isso, mas foi importante, pois imediatamente decidimos começar a resgatar o vínculo com ele. Me dei conta que eu nem conhecia o Bernardo direito", relembra a mãe.

Para passar mais tempo com o filho, o casal procurou a ajuda de psicólogos e reorganizou os horários de trabalho, colocando a família em primeiro lugar. "Logo depois que mudamos nosso comportamento, ele também mudou. Hoje é mais afetivo e deixou a agressividade de lado. Sei que o período em que ficamos afastados ainda pode trazer consequências para o futuro, mas nos esforçamos todos os dias para reduzir isso."

Agressividade é só um dos sinais

O primeiro ano de vida de uma criança é, para muitos especialistas, o mais importante para estabelecer fortes laços entre pais e filhos. Conforme o pediatra José Martins Filho, é nesse período que o bebê começa a construir sua personalidade e rompimentos repentinos com a figura do cuidador podem interferir no desenvolvimento.

Estudos mostram que "filhos terceirizados" tendem a ter menos facilidade nos estudos e mais chance de ficarem desempregados.

Os sinais dessa falta dos pais são manifestados desde cedo. Além da agressividade, a demanda pela atenção materna e paterna pode ser observada quando as crianças começam a ficar mais manhosas, a mostrar resistência para ir à escola, na hora de dormir ou comer. É fundamental os pais conhecerem os filhos e saber como agir.

Além de garantir um tempo de qualidade ao lado dos filhos, escolher bem com quem deixar os pequenos nos outros turnos é importante para que a criança cresça em um ambiente harmonioso. Não adianta, por exemplo, proibir a criança de assistir à tevê enquanto a babá libera até o controle remoto para ela.

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