• Carregando...
Maria do Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do Ministério da Educação | Pedro Serápio/ Gazeta do Povo
Maria do Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do Ministério da Educação| Foto: Pedro Serápio/ Gazeta do Povo

O número de brasileiros – 1,1 milhão – que freqüentam a escola e, mesmo assim, não sabem ler e escrever já inclui crianças de 7 e 8 anos. Para a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar Lacerda, esse dado deve ser analisado com cautela. "Tem de se considerar que, com 8 anos de idade, o indivíduo está no fim do seu ciclo de alfabetização", comenta a secretária, que esteve em Curitiba na semana passada, quando participou da cerimônia de premiação aos semifinalistas da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.

O dado alarmante foi revelado pela Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílios, divulgada recentemente, e que considerou o desempenho de crianças e adolescentes com idade entre 7 e 14 anos. A secretária não culpa os professores pelas falhas na aprendizagem desses estudantes, mas ressalta que eles também têm responsabilidade. "O professor tem de entender que não é culpa dele se um aluno não aprende. Mas é sua responsabilidade profissional, assim como tratar de um doente é responsabilidade de um médico", resume. Acompanhe os principais trechos da entrevista concedida à Gazeta do Povo:

A última Pnad, divulgada recentemente pelo IBGE, mostra que 1,1 milhão de crianças entre 7 e 14 anos estão na escola e não sabem ler e escrever. Onde está a falha?

Tem de se tomar cuidado com essa pesquisa. Parece ser normal ter crianças na escola que não saibam ler e nem escrever. Não é verdade. Quando as faixas etárias são repartidas dá para perceber que esses números caem. Por outro lado, é bom que a gente saiba que há 1,1 milhão de crianças com dificuldades de aprendizagem dentro das escolas brasileiras. Há 20 anos elas estariam todas fora da escola. Com base nesse levantamento, podemos fazer políticas mais focadas.

Quais seriam essas políticas?

Temos o plano de desenvolvimento da educação, em que a meta número um é a aprendizagem e a meta dois é garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas até os 8 anos. Nós estamos falando de todos. Sabemos – e várias pesquisas mostram isso – que todas as crianças podem ler e escrever, e a maioria esmagadora até os 8 anos.

Quais as principais dificuldades para alcançar essas metas?

Na escola brasileira dos anos 70, quase 50% das crianças estavam fora da escola, e, entre as que estavam na escola, boa parte estava fora da faixa. Então a escola brasileira se acostumou a trabalhar para poucos. Logo existia dificuldade de aprendizagem, mas a escola não via, porque nos próprios estatutos regimentais não era admitida a repetência por duas vezes. As políticas do MEC estão com o foco na aprendizagem da criança, mas sabemos que não vamos conseguir fazer isso se o professor não tiver uma formação sólida.

Como chegar até essa formação?

O professor tem de entender que não é culpa dele se um aluno não aprende. Mas é sua responsabilidade profissional, assim como tratar de um doente é responsabilidade de um médico, ou relatar notícias verdadeiras é dever do jornalista.

Como ter consciência dessa responsabilidade?

A responsabilidade profissional não vem do nada, vem de um processo sólido de formação que não encontramos ainda na faculdade. Por isso é importante políticas e projetos como a Olimpíada da Língua Portuguesa, que não é só disputa. Tem um processo inteiro de formação, todos se envolvem. O professor percebe que a escrita não é um dom, mas um processo de aprendizagem. Na minha época, o professor riscava e dizia que estava ruim. Hoje ele diz que pode melhorar. Com essa provocação a criança escreve melhor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]