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Ao deixarem o quarto do hospital, mesmo que por alguns minutos, as crianças têm a oportunidade de se distrair e de interagir com outros pacientes | Giuliano Gomes/ Gazeta do Povo
Ao deixarem o quarto do hospital, mesmo que por alguns minutos, as crianças têm a oportunidade de se distrair e de interagir com outros pacientes| Foto: Giuliano Gomes/ Gazeta do Povo

Auxílio no tratamento

O médico Ricardo Reis Blum, oncologista pediátrico do Erasto Gaertner, ressalta a importância do atendimento escolar nos hospitais para a recuperação de crianças e adolescentes. "Para muitas de nossas crianças o tratamento é longo, chega a durar anos. É um estímulo não só pelo fato dessa criança não ficar afastada da escola. Ficar internado no hospital não é legal para ninguém e é pior sem ter o que fazer. Com o atendimento escolar o humor melhora e a criança fica mais tranqüila para aceitar o tratamento", diz.

Na opinião da professora Viviane Pereira Maito, que atua numa sala de aula instalada dentro do ambulatório onde são atendidos pacientes com câncer, o atendimento vai além da questão escolar. Segundo ela, apesar do atendimento ser feito em grupo e ser multisseriado (atender crianças de várias séries), cada aluno recebe atenção individual. Viviane, como exemplo, sabe do histórico de cada criança, acompanha o tratamento e procura trabalhar as dificuldades pedagógicas. "Tive de aprender a lidar com a perdas. Acompanhei um menino que foi para a cirurgia e quando voltou não lembrava de quase nada. Ele reconheceu seu nome no quadro. Precisei trabalhar toda a aprendizagem novamente porque ele perdeu parte da memória", diz. (TD)

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Integração entre salas de aula e ambiente próprio para atender pacientes, internados ou em tratamento, estão permitindo que o ensino nos hospitais não fique mais restrito aos leitos. Desde o início do ano, as crianças e adolescentes com condições de saúde atendidas no Pequeno Príncipe e no Hospital de Clínicas (HC) saem dos quartos para receber aulas nas mini-escolas montadas dentro do ambiente hospitalar. "É melhor porque ficar só na cama cansa. Sem contar que posso aprender um monte de coisas e me distraio um pouco", resume Amanda Antunes Rodrigues, 9 anos, em tratamento cardíaco no Pequeno Príncipe.

No HC, o atendimento não se restringe aos pacientes. Nos casos em que doentes de câncer têm alta, mas não podem freqüentar a escola devido à baixa imunidade, ou em que adolescentes grávidas se recusam a voltar para o colégio, o acompanhamento escolar dentro do hospital continua a ser ofertado. Maicon Douglas Prestes de Oliveira, de 10 anos, é uma das crianças atendidas na escola do HC. Entre uma explicação e outra da professora Viviane Perreira Maito, ele precisa sair da aula para receber medicação do tratamento de quimioterapia. "Tenho de ir de novo?", questiona, em tom desanimador. A professora oferece sua companhia e o estimula a prosseguir. Minutos depois, Maicon retorna aparentemente bem e retoma suas atividades da 3ª série. "Quando crescer quero ser médico de criança", planeja, entusiasmado.

Esse tipo de atendimento está sendo oferecido desde o início do ano, quando tanto o HC quanto o Pequeno Príncipe ampliaram os espaços cedidos para as escolas que funcionam dentro do hospital. O objetivo vai além de garantir o aprendizado das crianças durante longos períodos de tratamento de saúde. Também inclui a socialização e a integração entre as crianças. "Tentamos fazer com que a criança não tenha prejuízos quando voltar para a escola. É uma forma de evitar a evasão escolar", diz a coordenadora pedagógica do programa de escolarização do HC, Marleiza Zanella de Castro.

No Hospital Erasto Gaertner o atendimento escolar é oferecido há cerca de 15 anos. Desde 1991, há uma sala similar à de uma escola, para receber as crianças. "As que têm condições vão até lá para ter aulas. Talvez a gente ganhe mais espaço no futuro", diz a professora da rede municipal Mirta Cristina Pereira Pacheco. No Hospital Evangélico são duas salas de aula: uma para atender os alunos de 1ª a 4ª série, localizada no 2º andar, e outra para os de 5ª a 8ª série e ensino médio, que fica no terrraço. A coordenadora do voluntariado, professora Eunice Zacharow, conta que o serviço já funcionava informalmente há 22 anos na instituição. "Sempre nos preocupamos em evitar que as crianças perdessem o ano. No começo o atendimento era mais lúdico e depois foi ganhando corpo mesmo", diz.

Impulso

Em Curitiba, a preocupação com o ensino no hospital ganhou impulso em 1987, quando a assistente social Margarida Miggiati abordou numa dissertação de mestrado a necessidade de apoio pedagógico para as crianças atendidas pelo Hospital Pequeno Príncipe e que estavam impedidas de freqüentar a escola. Um ano depois surgiu a primeira parceria entre a prefeitura de Curitiba e o Pequeno Príncipe, para o acompanhamento escolar de 1ª a 4ª série. Atualmente o convênio abrange também o Hospital de Clínicas, o Evangélico e o Erasto Gaertner. Desde o ano passado, o governo do estado mantém também o Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar (Sareh), que em Curitiba funciona no Hospital do Trabalhador.

"Até 1998 o trabalho era mesmo mais recreativo. Depois passou a ganhar um caráter pedagógico", ressalta uma das coordenadoras do atendimento hospitalar da prefeitura, Fabiana Neves Rego Barbosa. Atualmente, se a criança ou o adolescente passa mais de 15 dias internado num desses hospitais, uma comunicação é feita à escola, que repassa conteúdos e avaliações que podem ser trabalhados pelo professor que vai atender o paciente.

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