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análise

Escolha de gestores para a educação deveria ser por resultados (e não partidária)

 | Soraya Sakamoto/Arquivo Gazeta do Povo
(Foto: Soraya Sakamoto/Arquivo Gazeta do Povo)

A tentativa de Donald Trump de chamar uma democrata para a pasta da Educação do seu novo governo, que acabou não dando certo, é curiosa para um observador do Brasil. Aqui, poucas vezes se vê nas esferas de poder o cuidado por preencher um cargo com alguém com um currículo de bons resultados, independentemente da sua cor partidária – o que não chega a ser um elogio para Trump, já que ele tinha outros interesses nessa escolha. Mas em geral, em solo brasileiro, vence a necessidade de manter as promessas de campanha e encontrar um lugar no governo para todos os aliados. Atitude que é preocupante para a educação, já que alguém sem conhecimentos na área terá mais dificuldades de adotar medidas bem-sucedidas.

“O Ministério da Educação é muito visado no Brasil porque tem um orçamento grande e com políticas de bastante penetração. Por outro lado, enquanto que nos Estados Unidos dificilmente seria indicado para ministro da Educação uma pessoa sem familiaridade com a área, aqui nós já tivemos muitas personalidades curiosas no cargo e continuamos tendo”, diz o professor Ângelo Ricardo de Souza, coordenador do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A lógica partidária de um gestor público atrapalha se ela não está de acordo com os elementos técnicos que mostram quais são as melhores práticas. “É muito importante que as decisões sejam tomadas com base na evidência sobre pesquisas, literatura, sobre o que funciona na educação. Até porque no campo da educação hoje há um enorme campo de evidências do que funciona e do que não funciona em termos de melhoria da aprendizagem dos alunos”, afirma Olavo Nogueira Filho, gerente de projetos do movimento Todos pela Educação.

Em um país em que os índices educacionais estão muito abaixo da média, com consequências permissivas para o desenvolvimento e o bem-estar da população, adotar uma postura menos técnica e mais partidária é algo grave. “No Pisa [avaliação internacional de qualidade educacional], nós estamos nos últimos lugares e as expectativas para os próximos resultados não são boas. Por isso, é importante ‘despartidarizar’, principalmente nas secretarias estaduais e municipais, para enfrentar com coragem essa questão da aprendizagem que não vem avançando no Brasil”, frisa Claudia Costin, professora visitante de Harvard e ex-diretora de Educação do Banco Mundial.

Formação continuada

Não é necessário ser um pesquisador em educação ou um pedagogo para cuidar bem da educação, mas é preciso dominar a área e estar interessado em fazê-la funcionar. Ao mesmo tempo, é essencial que seja uma pessoa capaz de implementar as políticas públicas necessárias e enfrentar com habilidade as dificuldades, pois, definitivamente, a educação no Brasil ainda não é prioridade, infelizmente. “O ideal, difícil de encontrar, é uma pessoa com conhecimento técnico, que opere politicamente com eficácia”, descreve o professor Ângelo de Souza, da UFPR. “Mas na falta dela, nada impede de indicar alguém com um conhecimento menor, mas com interesse de aprender e interessado; já vimos pessoas assim no Brasil, que deram contribuições importantes”, afirma.

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