Estudo realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado no início de setembro, mostra que a taxa de desemprego de brasileiros economicamente ativos (25 a 64 anos) foi maior entre os que têm ensino médio completo, em 2008. O índice foi de 6,1% contra o porcentual de desocupados de 4,7% entre os que não concluíram essa etapa da escolarização. Entre os países que não são membros da organização, mas são parceiros (além do Brasil, Eslovênia, Estônia e Israel), a existência de maior número de desempregados com mais qualificação só foi observada no Brasil. A explicação para o índice de desemprego mais elevado entre pessoas com ensino médio completo não é conclusiva, mas há algumas hipóteses, como a qualificação por meio do trabalho, e não pelo estudo, e a mudança do perfil exigido. Para o professor de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Cláudio Considera, um dos reflexos neste índice pode ser o fato de setores precisarem de mão de obra especializada em uma determinada área, o que não implica em escolaridade formal.
Um destes segmentos é o de serviços. Em 2008, por exemplo, a área liderou a geração de empregos, com 648 mil postos, seguida por construção civil e indústria da transformação, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No primeiro semestre deste ano o setor de serviços continuou a ser o líder em geração de vagas, com 480 mil empregos. "Para estes setores, o que vale é o treinamento que o trabalhador já teve em experiências anteriores no mercado. O nível de escolaridade acaba importando pouco", explica Considera.
O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Cid Cordeiro, lembra que o perfil do mercado de trabalho nesta década também se modificou . "Nos anos 90, como o desemprego era alto, as empresas estabeleciam critérios que a função não exigia. Hoje, com mais postos, as exigências caíram e se contrata trabalhador com ensino médio apenas para cargo que realmente precise." Para ele, esta nova organização ajuda a diminuir a insatisfação no trabalho. "Pessoas que executam uma função simples com salário baixo, mas que tem mais escolaridade, costumam se cansar rapidamente daquele trabalho, o que prejudica tanto ele quanto a empresa. Mas o fato é que o emprego hoje no país está alto para pessoas com formação em todos os níveis de ensino."
Já o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Corbucci, acredita que o ensino médio se perde no meio do caminho da dinâmica do mercado de trabalho brasileiro. Segundo ele, existem três situações: a de pessoas com ensino superior completo, que têm a possibilidade de conseguir trabalho em profissões regulamentadas; grande demanda para ocupações onde não são necessários muitos anos de estudo, e sim formação específica ou técnica (como construção civil, trabalhadores domésticos e serviços); e a proporção de pessoas com ensino médio completo. Estas últimas ficam no meio do "caminho", portanto, com maior dificuldade para se inserir no mercado. "Essas pessoas ou ficam desempregadas por opção, em busca de algo melhor, ou não se incluem em vagas mais segmentadas por falta de formação técnica ou experiência", explica Corbucci.
Outra possibilidade seria a de o jovem estar mais focado em entrar no ensino superior do que em trabalhar. Ainda segundo dados do estudo da OCDE, a taxa de homens jovens, com idade entre 15 e 19 anos, que não estão na força de trabalho é de 37,3%, índice que diminui à medida que a idade avança. "O jovem que está procurando qualificação geralmente não busca trabalho", acredita o professor da UFF. Para o pesquisador do Ipea, os índices de desocupação nesta faixa etária deveriam ser cada vez maiores. "O ideal é que ele estude, não trabalhe. E, geralmente, esse jovem é obrigado a trabalhar, ou para poder custear a sua entrada no ensino superior, ou para ajudar em casa. O que ocorre, na última situação, é que são famílias geralmente mais pobres. O jovem acaba abandonando a escola. O correto é que a taxa de empregabilidade para essa faixa etária fosse muito baixa."
Renda
Na contramão do emprego mais fácil para quem tem menos qualificação, o aumento da renda é diretamente proporcional aos anos de estudo. Dados do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), baseados em números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), indicam a progressão salarial com os anos de estudo. A renda média mensal de quem tinha de oito a 11 anos de escolaridade em 2009 foi de R$ 684,41. Com 12 anos ou mais, o valor salta para R$ 2.168. "A ideia de que estudar faz bem para o bolso é verdadeira. A pessoa que faz os três anos de ensino médio sai de uma renda de R$ 700 para uma média R$ 1.600", diz o economista-chefe do CPS/FGV, Marcelo Côrtes Neri. A questão crucial a ser resolvida, segundo ele, é o pouco tempo de estudo no país, o que acentua a desigualdade social (a Pnad mostra que um em cada cinco brasileiros com 15 anos ou mais tem menos de quatro anos de estudo). "A escolaridade explica a desigualdade de renda mais do que qualquer outro fator. Tem de se investir na qualidade do ensino e ampliar a oferta de educação."
Cid Cordeiro salienta que um nível de escolaridade baixo no país prejudica o desenvolvimento. "A mão de obra pouco qualificada pode criar um gargalo no mercado. É importante que o governo combata o trabalho infantil e que os benefícios sociais que garantem a permanência da criança na escola sejam mantidos. Tudo isso contribui para a redução da desigualdade social."
Quem são os jovens expoentes da direita que devem se fortalecer nos próximos anos
Frases da Semana: “Kamala ganhando as eleições é mais seguro para fortalecer a democracia”
Iraque pode permitir que homens se casem com meninas de nove anos
TV estatal russa exibe fotos de Melania Trump nua em horário nobre
Deixe sua opinião