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“Eu me declaro pardo”: reprovados por comitê de cotas, alunos protestam contra UFPE

Comissão da universidade avaliou que 280 alunos, classificados por cotas através do Sisu, não se enquadram no perfil de pessoas pardas ou negras. Estudantes reivindicam

Estudantes se reuniram em frente à reitoria da UFPE para protestar contra desqualificação | Júlio Gomes/LeiaJá Imagens
Estudantes se reuniram em frente à reitoria da UFPE para protestar contra desqualificação (Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)

Estudantes autodeclarados negros ou pardos realizaram protesto, na manhã desta terça-feira (12), em frente à reitoria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O motivo do ato é que 280 alunos classificados por cotas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) tiveram a inscrição na instituição negada. A Comissão de Validação de Autodeclaração Racial da universidade avaliou que os estudantes não se enquadraram no perfil de pessoas pardas ou negras, não podendo, dessa forma, ocupar as vagas destinadas a esse público.

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Na realidade, esse é o segundo protesto do tipo. Um dia após a divulgação do resultado do Sisu (6), um grupo de cerca de 50 pessoas foi à reitoria da UFPE para questionar a desqualificação dos estudantes. Na ocasião, Paulo Góes, pró-reitor de assuntos acadêmicos, teria dito que quem se sentisse prejudicado “poderia entrar com recurso até o dia 11 de fevereiro”, e os alunos teriam de passar por uma nova análise da Comissão. Em último caso, ele indicou que o aluno poderia recorrer à Justiça.

Dos 280, apenas 188 entraram com recurso. A nova análise será feita até o dia 22 de fevereiro.

Um dos estudantes desqualificados pela comissão, Guilherme Feitosa, 18, conversou com o portal de notícias LeiaJá, e afirmou estar “indignado com a situação”. “Eu fiz o Enem, tive uma nota boa, fui aprovado no Sisu em primeiro lugar no meu curso, na cota para a qual eu sentia que pertencia porque sou pardo”, disse o aluno em entrevista ao LeiaJá.

Justificativa

Os estudantes só foram impedidos de obter a vaga quando houve unanimidade da Comissão sobre a decisão. Um documento publicado pela UFPE deixa claro, além disso, que foram escolhidos para fazer parte do comitê avaliadores que “possuem vínculo com movimentos sociais organizados ligados à questão étnico-racial ou que têm algum tipo de proximidade com a questão”. O grupo é formado por 3 membros (docente, técnico-administrativo e aluno). 

Paulo Góes afirmou que “a universidade está apenas cumprindo a lei”. Outras instituições, inclusive a Universidade Federal do Paraná (UFPR), adotam medidas semelhantes em relação aos candidatos cotistas.

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artigo 7.9 do edital diz que “para validar a autodeclaração de candidatos às vagas reservadas a negros (pretos ou pardos)” seriam “considerados unicamente os aspectos fenotípicos do candidato, sendo vedado qualquer outro critério, inclusive as considerações sobre a ascendência”. A UFPE também entende por fenótipo “o conjunto de características físicas do indivíduo, predominantemente a cor de pele, a textura do cabelo e os aspectos faciais, que, combinados ou não” permitem validar ou invalidar a autodeclaração.

A universidade ofertou mais de 6,9 mil vagas no Sisu, das quais 2,4 mil foram destinadas a cotas raciais. Dos perfis desqualificados, 219 são do câmpus de Recife, 53 de Vitória de Santo Antão e oito de Caruaru.

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Unesp

Em 2018, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) expulsou 27 estudantes que tinham se autodeclarado pardos e pretos e conquistado vagas pelo sistema de cotas. Os alunos foram proibidos de realizar nova matrícula na universidade nos próximos cinco anos após a decisão.

Veja o edital com as diretrizes sobre os alunos cotistas:

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