Conforme mostrado estatisticamente em artigo anterior, as famílias adeptas do ensino domiciliar são minoria em qualquer país do mundo, inclusive naqueles onde a modalidade é permitida há décadas. Há, portanto, evidências mensuráveis para se afirmar que educar os filhos em casa, sem levá-los diariamente para uma escola, é sempre a opção de poucos. Esse fato, somado à perseguição que enfrentam, à falta de apoio do estado e ao preconceito contra o qual lutam, torna possível enquadrar com perfeição essa parcela da sociedade no já clássico conceito de minoria social. Apesar disso, constata-se com facilidade que poucos grupos são tão desprezados – e às vezes odiados – por supostos defensores de minorias como o das famílias homeschoolers.
Parte dessa contradição pode ser explicada pela crença em estereótipos ideológicos desprovidos de sólido fundamento. Para a militância progressista mais dependente de aceitação no meio em que escolheu atuar, homeschooling é pauta conservadora, portanto, deve ser combatida. As justificativas para tal posição vêm depois da decisão tomada. Se a causa afeta direitos humanos fundamentais, isso não chega a gerar grande constrangimento, já que, automaticamente, esse aspecto passa a ser visto como periférico e administrável pelos produtores de narrativas.
Não há boas condições de diálogo com quem pensa dessa forma, pois não é a razão o que norteia suas ações. Entre os autênticos defensores de minorias, contudo, há os mais sensatos, os que não aderem, nem confrontam de forma robótica conjuntos de causas previamente rotuladas. Para esses, que sentem legítima compaixão por quem tem direitos negados, é preciso expor mais a realidade diária das famílias educadoras, enquanto minoria indefesa e desprezada.
Diferente da comunidade negra, de grupos LGBT ou de coletivos feministas, as famílias adeptas do ensino domiciliar não podem simplesmente organizar grandes e vistosas marchas com pautas de reivindicações. Algumas até o fazem em certa medida, mas têm consciência de que, no dia seguinte, podem ser denunciadas a agentes públicos dispostos a infernizar suas vidas, aproveitando-se da omissão do Poder Legislativo em regulamentar a modalidade. As denúncias contra famílias homeschoolers, sob a absurda acusação de “abandono intelectual”, são uma constante faca no pescoço de quem tem coragem – ou petulância, para os críticos – de pedir reconhecimento de direitos. Ameaçadas, muitas optam por uma vida de reclusão, invisibilidade social ou saem do país.
Por serem uma minoria numericamente pequena inclusive entre minorias, as famílias educadoras também são incapazes de garantir um volume de votos atraente para políticos motivados por cálculos eleitorais. Além disso, não há nenhuma grande fundação, instituto ou ONG com fartos recursos financeiros que tenha abraçado sua causa até agora. A ausência desses fundos costuma ser um fator a mais para parlamentares e outras autoridades eleitas desdenharem o tema, pois o atendimento da demanda não vai lhes render grande prestígio, nem convites para palestrar em eventos glamurosos, nem amizades convenientes que, quem sabe, resultem num eventual financiamento de campanha no futuro
A única alternativa restante para as famílias homeschoolers é o velho – e nem sempre eficaz – convencimento das consciências. No caso dos políticos, uma a uma. Não há truque, nem lobby poderoso, nem celebridades influentes por trás dessa minoria. Apenas pais e mães sofrendo, que gostariam de viver suas vidas sem ter medo do que o vizinho ou algum desafeto pode fazer contra a paz de seus lares.
*Jônatas Dias Lima é jornalista e assessor parlamentar na Câmara dos Deputados, onde atua junto à Frente Parlamentar em Defesa do Homeschooling. E-mail: jonatasdl@live.com
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