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Ao mesmo tempo que o país forma menos professores, a quantidade de docentes sem diploma só cresce, segundo o Censo | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Ao mesmo tempo que o país forma menos professores, a quantidade de docentes sem diploma só cresce, segundo o Censo| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

"Quem trabalha de verdade fica doente"

São Paulo - "Era muito sofrimento", resume a ex-professora Rita Rodrigues, que após 9 anos dando aulas de artes nas redes estadual e municipal de São Paulo decidiu mudar de carreira no ano passado. Ela abriu mão da estabilidade de dois concursos públicos para se tornar autônoma – aos 28 anos, faz consultoria de harmonização de ambientes com base na técnica chinesa do Feng Shui. "Foi triste largar. A gente se sente bem quando dá uma boa aula, mas não tinha condições de trabalho."

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São Paulo - O número de formandos nos cursos que preparam docentes para os primeiros anos da educação básica – como Pedagogia e Normal Superior – caiu pela metade em quatro anos, segundo dados do Censo do Ensino Superior, realizado anualmente pelo Ministério da Educação (MEC). De 2005 a 2009, o número de alunos que concluiu essas graduações caiu de 103 mil para 52 mil, o que comprova o desinteresse dos jovens pela carreira.

Houve queda também nos graduandos em cursos de licenciaturas, que preparam professores para atuar no ensino médio e nos últimos anos do fundamental – em 2005 foram 77 mil, contra 64 mil em 2009. No mesmo período, o total de estudantes que concluíram o ensino superior no país cresceu de 717 mil para 826 mil.

Ao mesmo tempo em que o Brasil forma menos professores, o número dos que estão em sala de aula sem diploma vem crescendo: são 636 mil nos ensinos infantil, fundamental e médio, o que representa 32% do total. Em 2007, eram 594 mil.

"Os municípios se preparam para ampliar o nú mero de matrículas para crianças de 4 e 5 anos, que se tornarão obrigatórias em 2016. Isso projeta um cenário de falta de docentes", afirma o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Un­­dime), Carlos Eduardo Sanches, que classificou a queda como "preocupante".

Déficit

Especialistas em ensino alertam que o Brasil já enfrenta um déficit de professores nas redes públicas. "Muitos desses formandos preferem seguir na área acadêmica, ir para colégios particulares ou atuar em outras áreas, onde ganham mais. Eles não vão para as escolas públicas", diz Mozart Ramos Neves, membro do movimento Todos Pela Educação.

Para reverter o quadro e trazer mais jovens para o magistério, Neves indica três medidas. "Preci­sa­­mos de um salário inicial atraente para o jovem, ter uma carreira promissora e dar boas condições de formação e de trabalho. En­­quanto não houver um pacto na­­cional pela valorização do professor, não resolveremos o problema."

A coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Márcia Malavasi, diz que a desvalorização do magistério tem feito muitos docentes abandonarem a carreira e muitos jovens desistirem antes mesmo de entrar na faculdade. "Ao procurar informações sobre a profissão e conversar com quem atua na área, os jovens não têm ouvido boas recomendações e se desmotivam", afirma a coordenadora.

Para Márcia, os alunos acabam prejudicados por essa situação. "O professor que está em sala deixa claro que não gostaria de estar lá – e mesmo assim o aluno precisa se submeter. Isso cria um ambiente desfavorável ao aprendizado", afirma. A coordenadora lembra, porém, que existem exceções. "Professores em algumas escolas de grandes centros têm bons salários e se sentem valorizados."

Plano B

Quem entra no curso de Peda­gogia, além do amor pela sala de aula, costuma ter também um plano alternativo de carreira. É o caso de Regiane Ferreira, 22 anos, que cursa o último ano de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). "Assim que me formar, vou tentar um mestrado. Quero seguir a carreira acadêmica", revela. "Vou tentar conciliar a pós-graduação com aulas na rede municipal de Marília, mas, se não der, posso pedir uma bolsa."

Weling­­ton das Neves Moreira, 53 anos, terminou há um semestre o curso de Pedagogia e diz estar animado para tentar um concurso e dar aulas na rede pública de São Paulo. "Sei que não é uma carreira fácil, mas tive boas experiências nos estágios. Se não der certo, continuo tocando."

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Que medidas o governo deveria pôr em prática para tornar mais atraente a carreira no magistério?

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