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FOZ DO IGUAÇU - Considerado o primeiro idioma oficial das Américas, o guarani é falado atualmente por cerca de 15 milhões de paraguaios, argentinos, brasileiros e bolivianos. Tamanha representatividade fez com que a Comissão de Educação, Cultura, Ciência, Tecnologia e Esportes do Parlamento do Mercosul aprovasse a recomendação de que o guarani receba o título de idioma oficial do Mercosul. Caso a proposta seja aceita também pelo Conselho do Mercado Comum (CMC), a língua de origem indígena e sistematizada pelos jesuítas a partir do século 16 terá o mesmo peso que o português e o espanhol.

Para começar a ser aplicada, a proposta ainda precisa passar pelo Plenário do Parlamento do Mercosul. Depois de adotada e em vigor, todos os documentos e pronunciamentos em eventos do bloco deverão ser traduzidos também para o guarani. Segundo o autor da proposta, o deputado paraguaio Héctor Lacognata, a mudança daria maior visibilidade ao idioma nacional que no país vizinho compõe obrigatoriamente o currículo escolar desde 1992. A presença do guarani é tão forte na educação paraguaia, lembra o parlamentar, que muitos políticos poderiam se expressar melhor usando a língua materna.

No Paraguai, o guarani – desde 1995 reconhecido pelos ministros de Educação e Cultura dos países do Mercosul como língua histórica do bloco –, faz parte do dia-a-dia de 85% da população. Jornais, noticiários de TV, placas indicativas e as conversas diárias estão recheados de expressões típicas. E, em algumas regiões, o idioma tem mais importância que o próprio espanhol. O indigenista Francisco Amarilla Barreto explica que onde a tradição indígena é mais forte, o guarani tem lugar de destaque e o espanhol só é usado com os que vêm de fora ou quando não há palavra correspondente no vocabulário nativo.

"O guarani por muito tempo foi marginalizado. No tempo da ditadura, era proibido ser falado. Hoje, é obrigatório nas escolas. Por isso, quem fala e escreve o guarani deve ter muito orgulho desta língua que deveria ser oficial não só no Paraguai, mas em toda a América do Sul", defende o indigenista, ao lembrar que a influência do idioma pode ser observada principalmente no nome de cidades e estados como Paranaguá, Paraná e Pará, assim como na maioria dos rios que cortam o território brasileiro, a exemplo do Iguaçu e do Piquiri.

Guaranhol

De raiz distinta do português e do espanhol, o guarani soa estranho aos ouvidos de muitos brasileiros. Na fronteira entre Foz do Iguaçu, no Oeste do estado, e Ciudad del Este, o convívio com os paraguaios ajuda a gravar algumas palavras e frases prontas, o que fez surgir o chamado "guaranhol". A universalização da língua, no entanto depende da inclusão na grade escolar. Essa parte do processo, ainda deve levar algum tempo, já que no Brasil o uso do espanhol na rede pública de ensino começou a ser incentivado em 2005 – amparado por uma lei federal que prevê prazo de implantação até 2010.

Os parlamentares reconhecem que a adoção da língua, mesmo que apenas restrito às atividades de trabalho do bloco, seria difícil, mas não impossível. Do lado dos entusiastas da idéia, o deputado paraguaio Nelson Alderete afirma que o guarani é uma língua viva e um elemento de integração. "Vamos resgatar nossa identidade a partir de nossa cultura original", reforçou. O também paraguaio deputado Ricardo Canese lembrou que uma pesquisa feita no período eleitoral indicou que 62% dos entrevistados gostariam que o presidente se dirigisse ao povo em guarani.

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