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Turma da professora Luzilete Ramos: menção honrosa da Secretaria deEstado de Educação por trabalho sobre nazismo | Priscila Foroni/Gazeta do Povo
Turma da professora Luzilete Ramos: menção honrosa da Secretaria deEstado de Educação por trabalho sobre nazismo| Foto: Priscila Foroni/Gazeta do Povo

Em sala de aula

A professora Maria Luiza Tucci Carneiro diz que o nazismo pode ser abordado nas mais diversas disciplinas:

- História: o trabalho ligado ao ensino de história do nazismo pode ir além de apenas retratar fatos e abordar também a questão dos direitos humanos, imigração, cidadania e construção da sociedade e o papel dos líderes na história mundial.

- Língua Portuguesa: é possível trabalhar temas ligados aos discursos antissemitas e ao poder de persuasão da palavra. Outra possibilidade são livros de Literatura sobre o Holocausto, os livros de memórias (como O Diário de Anne Frank e o diário de Lore Dublon).

- Literatura: uma sugestão da professora é trabalhar a leitura e a dramatização do poema A Canção da Judia de Varsóvia, escrito por Jorge Amado.

- Geografia: abordagem de assuntos como delimitação de fronteiras e cartografia da Europa antes, durante e depois da ascensão de Hitler, trilhas de avanço nazista e rotas de fuga dos refugiados.

- Ciências/Biologia: a disciplina abre possibilidades de falar sobre raça, minorias nacionais, limpeza racial e o trabalho de Albert Einstein contra o nazismo.

"Eu nunca mais vi outra borboleta. Aquela borboleta foi à última. Borboletas não vivem no gueto". Foi assim que o judeu tcheco Pavel Friedman descreveu sua chegada ao campo de concentração de Terezin, na antiga Tchecoslováquia, durante o regime nazista de Adolf Hitler. E foi essa poesia que a professora Luzilete Falavinha Ramos escolheu para falar sobre respeito e esperança com seus alunos do 1.º ano do ensino fundamental. A professora, que ensina no Centro de Educação Integral Issa Na­­cli, conta que, depois de ter participado da II Jornada Inter­­disciplinar sobre o Ensino do Holocausto, em 2009, decidiu que o tema seria a porta de entrada para tratar diversos outros assuntos com seus alunos. "No ano passado, eles tinham seis anos e mesmo assim resolvi apostar nessa questão, adaptando o tema pa­­ra o universo infantil e para valores atrelados a ele", explica ela.

Por meio da poesia de Pavel e de livros com o ponto de vista das crianças que viveram o Holocausto, como A Mala de Hana (Editora Melho­ra­men­tos, R$ 30 em média), Luzilete trabalhou temas como a valorização e respeito às diferenças de cada um. "Fizemos um quadro com borboletas amarelas, que são citadas na poesia, e gravamos vídeos com depoimentos. Foi tão interessante que continuei esse trabalho com eles, agora no 2.º ano", conta.

De passagem por Curitiba para participar da terceira edição da jornada de ensino do Holocausto, realizada pela B’nai B’rith Paraná, instituição judaica que atua em prol dos Direitos Humanos, a professora doutora Maria Luiza Tucci Carneiro afirma que é possível trabalhar o tema de forma interdisciplinar. Ela, que é historiadora e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discri­mina­ção da Universidade de São Paulo (Leer/USP), defende que os professores trabalhem o tema com os seus alunos de forma que vá além dos fatos históricos, trazendo os reflexos disso para o dia a dia deles. "A partir das histórias de vida dos judeus e das demais minorias excluídas pelo regime nazista, como a dos homossexuais e Testemunhas de Jeová, é possível trazer para a discussão em sala de aula diferentes elementos, como intolerância, exclusão, teorias racistas, solidariedade, formação da cidadania e valorização dos direitos humanos", afirma ela.

A professora também é uma das pesquisadoras responsáveis pelo site www.arqshoah.com.br, que reúne documentos e livros online sobre o assunto, entre eles diários de memórias como o da menina Lore Dublon, que viveu foragida com a família na Bélgica. Para ela, esses materiais são ótimas fontes para trabalhar o assunto em sala. "Os professores podem estimular os alunos a escreverem um diário contando suas experiências, suas alegrias e tristezas, a violência que podem ter vivido ou visto em determinada situação e assim o grupo pode refletir sobre temas que afligem as pessoas na sociedade de hoje, de forma universal", diz.

Outro livro que pode ser usado por conta da sua universalidade é O Diário de Anne Frank (Editora Jorge Zahar, R$ 40 em média), escrito por uma adolescente alemã refugiada na Holanda. A mestre em Direito e especialista em educação sobre o Holocausto, Marili Berg, afirma que o livro consegue tocar o jovem de hoje porque foi escrito por uma menina, e passa a eles uma mensagem de tolerância e valorização da vida. "O livro é uma lição de universalidade e de direitos humanos e, apesar de tudo, é uma injeção de otimismo, de que as coisas vão melhorar", finaliza.

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