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Traduzido para a linguagem escrita, o título acima significa um convite para um bate-papo virtual. Reflete também uma tendência confirmada por uma pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a do surgimento de uma nova linguagem: o internetês. A autora do estudo, Marisa Ganança Teixeira da Silva, defende que a linguagem foi criada especificamente para que alguns grupos se comuniquem pela web.

O internetês nada mais é que a abreviação feita no momento de digitar as palavras entre pessoas ou grupos, na internet, para tentar reproduzir a linguagem falada. De acordo com a pesquisadora, só existe em função da tecnologia. "Se não fosse o teclado, o internetês não existiria. Existem atalhos para escrever mais rápido", diz.

A pesquisadora também aponta diferenças entre os atos de teclar e digitar. O primeiro estaria mais relacionado com a informalidade. Já a digitação é normativa. "Não deixa espaço para brincadeiras com a língua", observa Marisa.

O estudo também revela que não existe apenas uma tradução possível para o internetês. A conclusão veio após uma análise de 41 comunidades linguísticas que se formaram no site de relacionamentos orkut. Entre as comunidades que são adeptas do internetês, Marisa observou concursos de traduções de poemas e letras de músicas. "O objetivo é brincar com a sonoridade da língua", comenta. Em sua tese, Marisa cita a letra da música Trem das Onze, de Adoniran Barbosa, e do poema Motivo, de Cecília Meireles (veja ao lado).

Atrapalha?

Com o uso das novas tecnologias, cada vez mais frequentes entre os jovens, uma das preocupações entre professores de educação básica é que o internetês atrapalhe o ensino da Língua Portuguesa. Na opinião da autora da pesquisa, a preocupação não tem sentido. "O internetês só existe com a tecnologia", afirma.

O estudante da 6.ª série do Colé­gio Dom Bosco João Gabriel Pen­teado, 12 anos, conta que tem dificuldades com o português porque usa muitas abreviações nas linguagens de programas de informática que desenvolve. "Por isso evito usar o internetês quando estou na internet para conversar com amigos", comenta.

A professora de Língua Portu­guesa do colégio Positivo Mara Solange Guedes Campos diz que não percebe interferência do internetês na grafia dos alunos. "Eles sabem muito bem diferenciar uma linguagem da outra", afirma. Para a professora, um dos prejuízos que o internetês pode agravar é a falta de coesão nos textos de jovens e adolescentes. "Como eles mantêm diálogo com muitos interlocutores, há dificuldade para compor o texto numa sequência lógica", diz.

A nova linguagem não deve ser temida, na opinião da diretora de Tecnologias e Difusão Edu­cacional da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, Maria Maril­da Guiraud. "É mais um gênero de linguagem que surge. Cabe à escola e à família continuar orientando sobre a existência de vários tipos de linguagens", afirma.

Para o mestre em estudos literários e consultor linguístico da Gazeta do Povo Adilson Alves, o internetês nada mais é que uma abreviação da língua portuguesa falada. "O internauta tenta acompanhar o ritmo da fala. É como se fosse uma taquigrafia. O telegrama e o e-mail já sobreviveram a estes temores", analisa.

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