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Entrevista

Carlos Henrique Wiens, coordenador pedagógico de Matemática da Editora Positivo e palestrante.

Com 17 anos de atuação em consultoria sobre educação matemática e materiais peda­gógicos, Wiens fala sobre as dificul­dades no aprendizado da disciplina.

Matemática é uma disciplina realmente difícil?

Ela tem um rigor e uma linguagem própria, mas é algo que pode ser compreendido. É preciso uma alfabetização para a leitura, escrita, interpretação e produção do texto matemático. A leitura é a compreensão do exercício e a escrita é a resolução de um problema por meio de cálculos e raciocínios.

A dificuldade da resolução de problemas matemáticos está ligada à dificuldade de se compreender o enunciado dos exercícios?

Sim. O problema é traduzir corretamente a linguagem matemática para o português e entender o que deve ser resolvido.

As operações fundamentais são simples, por que os professores atribuem a elas uma das principais causas das dificuldades?

Elas são operações simples, mas o conceito que envolvem, não. A subtração, por exemplo, tem três conceitos relacionados: a ideia de retirar – de extrair uma quantidade de um total; a comparação – se eu tenho 10 maçãs e você tem cinco, quantas eu tenho a mais?; e o de completar – para comprar um objeto qualquer preciso de R$ 40 e tenho R$ 20, quanto é necessário? Cada operação básica tem diversas ideias relacionadas. Estima-se que uma criança de 6 a 8 anos demore em média dois anos para entender esses conceitos. Muitos professores pensam que elas aprendem de uma hora para outra.

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É mais difícil aprender as quatro operações fundamentais – adição, subtração, multiplicação e divisão – do que logarítimos, funções ou geometria analítica. Isso mesmo. A chamada matemática básica é uma das grandes responsáveis pelas rasteiras levadas pelos alunos no ensino médio. Que o digam as dez escolas de Curitiba mais bem classificadas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), em 2009: para todas elas a matemática é a disciplina que os alunos têm pior desempenho. O motivo é simples: o aprendizado, que deveria ocorrer no período entre a quinta e a oitava série, é arrastado até a adolescência e, muitas vezes, escondido atrás de fórmulas e exercícios.

"Matemática básica não é só somar e subtrair. É como se fosse um alicerce. O conhecimento é construído colocando uma fileirinha a mais de tijolos a cada novo tópico, mais complexo", afirma Olga Harumi Saito, assessora pedagógica de Matemática dos cursos de ensino médio integrado da Universidade Federal Tecnó­logica do Paraná (UTFPR).

Para o professor Julio Cezar Haluszczak, do Colégio Sagrado Coração de Jesus, o problema está em reconhecer essas operações simples em um exercício mais complicado. "Esse é o ponto chave. Muitas vezes eles não sabem nem por onde começar", diz o professor.

Não é raro encontrar escolas que, após o péssimo diagnóstico, no início do ensino médio, organizam aulas de matemática básica no contraturno. "Agora mesmo vamos fazer uma turma para trabalhar a divisão, porque muitos deles se atrapalham quando há três números na chave."

Causas

Algumas das razões para que a deficiência em operações básicas seja arrastada durante o ensino fundamental é a metodologia e a formação dos professores. "Não dá para atribuir a culpa ao professor. Há todo um sistema, uma metodologia. Acho que o principal é entender que os alunos precisam compreender o pensamento algébrico e não apenas o mecanismo, a fórmula", afirma Ettiene Guerios, professora do curso de pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A interpretação dos enunciados e a visualização dos conteúdos também é um problema para os alunos. Um dos tópicos mais complicados é geometria espacial e analítica. "Os professores trazem essa queixa nos cursos de formação. Eles dizem que é muito difícil fazer os alunos visualizarem o conteúdo. Uma das formas de driblar isso é usar programas em 3D e imagens", diz Ettiene.

Além de estratégias na escola, em casa os pais podem ajudar de uma forma muito simples: acabando com o preconceito. Segundo Olga, é comum a família criar na criança uma resistência à disciplina e "vender" a matemática como vilã. O ideal seria que os pais acompanhassem de perto as tarefas nas séries iniciais. "O único jeito de perder o medo é com a prática. Os alunos podem mudar a forma de encarar os problemas, e vê-la como um desafio."

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