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Estudantes comemoram a conquista de uma das seis medalhas de ouro conquistadas pelo Brasil no Worldskills, em Londres | Divulgação/ Worldskills 2011
Estudantes comemoram a conquista de uma das seis medalhas de ouro conquistadas pelo Brasil no Worldskills, em Londres| Foto: Divulgação/ Worldskills 2011

A atenção dos setores industrial e de prestação de serviços de todo o mundo esteve voltada, na última semana, a um grupo de 944 estudantes do ensino profissional de 51 nacionalidades. Os jovens participaram, em Londres, da 41.ª edição do World­­skills – competição para descobrir quem são os melhores técnicos em formação em cada uma das 46 áreas disputadas, chamadas de skills, ou habilidades, em português. Entre os participantes do desafio estavam 28 brasileiros, que garantiram ao país a segunda colocação na competição, ficando atrás somente da Coreia do Sul.Foram quatro dias de competição. Nas 25 categorias em que disputou, o Brasil conquistou 11 medalhas (seis de ouro, três de prata e duas de bronze) e 10 certificações de excelência. Entre as áreas que tiveram algum brasileiro no pódio estão Refrigeração e Ar Condicionado, Mecatrônica, Automação e Web Design. A eficiência dos nossos competidores fez com que o Brasil deixasse para trás nações como Japão, Suíça e Alemanha, além de superar o terceiro lugar obtido na última edição da competição, em Calgary, no Canadá.

Paranaense

O responsável por levar o nome do Paraná para o Worldskills em Londres foi o estudante Gabriel D’Espíndula, ganhador da medalha de ouro em Eletrônica Industrial. "Tivemos cinco mó­­dulos de tarefas, realizados ao longo dos quatro dias de prova", explica ele, que fez o curso técnico no Senai Paraná e atualmente dá aulas na instituição. "É uma realização pessoal, pelo fato de eu sempre gostar de desafios. Além disso, ao estudar para a competição, eu tive a oportunidade de aprender mais sobre a área do que aprendi no curso técnico ou mesmo na faculdade."

As provas simulavam desafios do dia a dia de trabalho e os competidores precisavam de­­monstrar habilidade técnica e, principalmente, foco, para não se deixar influenciar pela presença dos cerca de 150 mil visitantes que passaram pelo evento. "Eles [competidores brasileiros] mostraram sua competência, controle emocional e disciplina. Utilizamos a parceria com outros países para compensar o fato de que ainda não temos acesso à tecnologia a que muitos têm", afirma o líder do time brasileiro, Antonio Carlos Dias.

Onze prêmios, seis lições

Mais que medalhas, o Worldskills deixa ao Brasil algumas lições a respeito de como a educação profissional tem capacidade de levar o país ao nível de grandes nações e o que ainda falta para chegar lá. Confira:

1 Educação básica de qualidade

Pouco adianta oferecer um bom ensino técnico se o aluno não estiver preparado para recebê-lo. "Sem um ensino básico de qualidade, é difícil ter um ensino técnico de qualidade. Como ensinar cálculo para o estudante se ele chegar sem saber o básico?", questiona o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que visitava a competição.

"O segredo do sucesso é baseado em um sistema simples e de fácil acesso, além do fato de todas as escolas seguirem um padrão de qualidade e desempenho", afirma Matti Haapanen, coordenador do Euroskills e do Worldskills na Finlândia, país líder no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).

Para Roberto Spada, vice-presidente do Worldskills Internacional e representante do Brasil na competição, o problema da educação básica não é apenas do Estado, mas de toda a sociedade. "A sociedade e as famílias têm de estar comprometidas, cobrar e também investir. Na Coreia [do Sul], por exemplo, os pais investem anualmente cerca de 5 mil dólares em atividades complementares [extra-classe] para seus filhos. Isso é sinal de comprometimento", diz.

2 Estratégia de desenvolvimento

O sucesso da educação profissional depende de uma mudança de mentalidade quanto à finalidade desse tipo de formação. Contudo, não se pode ignorar o caráter social do ensino técnico e seu papel transformador na vida dos jovens. Exemplo disso é o embaixador mundial do Worldskills, o brasileiro Marcos Pontes, único astronauta do Hemisfério Sul a participar de uma missão espacial da Nasa. "O ensino profissional pode transformar vidas, tanto no sentido profissional, por ensinar uma habilidade, quanto no pessoal, por contribuir com a autoestima", diz ele, que iniciou sua trajetória no Sesi e no Senai.

No entanto, é preciso encarar o ensino profissional como uma estratégia de desenvolvimento do país. "Um país sem habilidades é um país sem economia. As habilidades técnicas têm um grande papel, é só olhar para países que possuem poucos recursos naturais, como Suíça e Japão, e grandes potenciais técnicos. 80% dos jovens suíços não estão na universidade, fazem cursos de formação profissional", diz Jack Dusseldorp, presidente do Worldskills Internacional.

3 Sem preconceito

"Muitos pais acham que seus filhos serão melhores se tiverem diploma, mas de nada adianta ser inteligente se não tiver um emprego", afirma Dusseldorp. Segundo ele, essa mentalidade "bachaleresca" é responsável, em partes, pela crescente taxa de desemprego em países europeus que enfrentam crise financeira. "Muitos têm educação geral e buscam empregos tradicionais, enquanto faltam técnicos competentes em muitas áreas", diz. Para Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia do Sistema Indústria, é necessário quebrar esse tabu. "É preciso acabar com a ideia de que a mobilidade social está apenas no ensino superior" defende.

4 Educação continuada

"Para garantir a qualidade é preciso assegurar formação regular, longa e continuada, que se adapte às necessidades do mercado", afirma Roberto Spada. Essa necessidade é consenso entre estudantes (como o medalhista paranaense Gabriel D’Espíndula, que depois de terminar o ensino técnico resolveu cursar Engenharia Elétrica) e órgãos de educação. "A OCDE lançou recentemente um programa [Piaac] que permite que as pessoas voltem a estudar. Na Finlândia, 20% dos jovens que cursam o ensino médio técnico acabam indo para a educação superior", conta Haapanen.

5 Aprender com outras experiências

Além de ser uma oportunidade para mostrar competências a outras nações, investidores e empresas multinacionais, o Worldskills abre a possibilidade de aprender com os demais competidores. "Temos a oportunidade de ver como fazem os países que mais se destacam, como Alemanha, Suíça, Coreia e Japão", afirma D’Espíndula.

Mais do que a experiência adquirida pelos competidores, o know-how de quem está à frente do Brasil, em termos de desenvolvimento industrial e inovação tecnológica, também é fundamental. "Nós ficamos de olho no que tem de novo. Prestamos atenção na atualização tecnológica", afirma Edson Campagnolo, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).

6 Intercâmbio

Com a percepção de que o mundo é um só, empresas deixam de buscar profissionais apenas em âmbito regional e passam a buscar mão de obra fora do país. Assim, nada mais oportuno do que uma competição internacional para saber onde estão os melhores profissionais.

Para os jovens que foram a Londres, a competição serviu como uma verdadeira vitrine. "Durante as provas, blindamos os estudantes para que o assédio não comprometa o desempenho. Mas o assédio é inevitável. Tanto que todos os participantes vieram com cartões para serem entregues aos olheiros", explica o líder do time brasileiro, Antonio Carlos Dias.

E não são apenas os estudantes os beneficiados. Os frutos desse intercâmbio são colhidos por toda a sociedade. "Fomos procurados por vários países, como Holanda, Japão, França. Temos muitas perspectivas de parcerias que nasceram no Worldskills", conta Campagnolo, da Fiep. Ele explica a lógica: quanto maior a oferta de mão de obra especializada em determinada região, maiores são as chances de uma multinacional se instalar nela.

A jornalista viajou a convite do Senai.

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