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 | Albari RosaGazeta do Povo
| Foto: Albari RosaGazeta do Povo

O envelhecimento da população brasileira é um caminho sem volta. A média de filhos por mulher, que era de 6,1 em 1940 e de 2,4 em 2000, hoje está em 1,7.  

A queda na natalidade não começou agora: vem desde os 1970. Acontece que, durante a maior parte do período, o país ainda estava lutando para colocar as crianças na escola. Ou seja: o número de alunos aumentava, apesar da queda no total de nascimentos. Agora, com o ensino universal, praticamente não há quem trazer para as escolas. 

Os dados oficiais já mostram essa nova realidade. Segundo o Censo Escolar do INEP, órgão do Ministério da Educação, o número total de matrículas nas escolas brasileiras passou de 53,2 milhões em 2008 para 48,8 milhões em 2016. 

Havia quase 18 milhões de alunos nas séries iniciais do ensino fundamental no Brasil em 2008. Em 2016, eram 15,3 milhões. Nos anos finais, eram mais de 14 milhões em 2008 e 12, 2 milhões em 2016. 

“A queda de matrículas do ensino fundamental ocorre tanto pela melhoria dos indicadores de fluxo escolar quanto a fatores demográficos”, explica o documento. 

A mudança demográfica ocorre no país todo, mas ocorreu de forma mais acentuada nas regiões urbanas, especialmente as mais ricas. Já no ensino médio, houve estabilidade no número de matrículas na última década: apesar de o número de adolescentes estar em queda, há um número considerável de adultos que retomaram os estudos nessa etapa escolar. 

Gráfico mostra queda no número de alunos no Brasil: tendência irreversívelReprodução / INEP

Escolas menores

Uma  consequência óbvia da redução no número de alunos é o encolhimento das escolas.

Quando o governo de São Paulo decidiu fechar ou reduzir algumas unidades de ensino, em 2015, a reação foi intensa: unidades foram ocupadas por integrantes do movimento estudantil. O governador Geraldo Alckmin acabou cedendo e cancelou a reorganização. É apenas uma questão de tempo, entretanto, antes que essa realidade seja inevitável.

Em Curitiba, a rede municipal de ensino – focada nos anos iniciais do ensino fundamental – ainda não sente os efeitos da redução na natalidade. Mas, em alguns bairros, escolas que antes eram da rede municipal hoje dividem espaço com classes da estadual, com estudantes mais velhos. 

“Alguns bairros já precisaram de saulas de aula com maior prioridade para os anos iniciais, mas hoje têm uma maior necessidade dos anos finais ou ensino médio. Isso faz com que tenhamos prédios com gestão mista com o estado”, explica a secretária de Educação da capital paranaense, Maria Silvia Bacila Winkeler. 

No plano estadual, o efeito da mudança demográfica é mais evidente. A queda é constante desde 2007: a perda de alunos foi de 280 mil, ou 20,7%. Para o governo do Paraná, o desafio agora é aumentar a qualidade do ensino. 

“Como há uma diminuição e temos nossas escolas, o esforço atualmente tem sido na ampliação da oferta da educação integral. Ou seja, para que o aluno esteja no espaço escolar nove horas por dia”, explica Inês Carnieletto, superintendente de Educação do Paraná. 

Mas, embora a redução no número de alunos permita uma atenção maior à qualidade do ensino, a pressão sobre esses estudantes será maior. “Vamos precisar investir mais em cada criança. Os adultos do futuro terão de ser altamente produtivos e capazes para poder produzir em uma população envelhecida”, explica Izabel Marri, gerente de projeto de estimativas e de projeção populacional do IBGE.

Por fim, a redução da sobrecarga no sistema não significa que todos serão beneficiados automaticamente: em muitas áreas, especialmente nas zonas rurais, ainda há poucas escolas.

“Trabalhei um tempo atrás no estado do Acre, e lá realmente é bem difícil em  algumas regiões específicas. Em algumas áreas se leva duas horas, em época de chuvas, de canoa, para chegar à escola”, diz Lúcio Telles, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

O professor lembra ainda que adultos que já passaram pela escola têm graves deficiências de leitura. “Uma grande parte da população adulta não sabe ler e escrever bem. A redução do número de pessoas que entram na escola pode permitir que os recursos sejam usados também na Educação de Jovens e Adultos”, diz. 

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