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No Brasil, estima-se que existam mais de 680 mil crianças entre 6 e 14 anos que deveriam estar na escola, segundo a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda. Três perfis desse contingente de crianças fora da escola já foram identificados. Grande parte é de crianças pobres e com deficiências múltiplas graves. Há ainda aproximadamente 50 mil que estão na região amazônica e não chegam à escola por falta de transporte; e ainda existem as que vivem no meio rural, em áreas de difícil acesso. "Não são dificuldades iguais para todas. Mas os mais afetados são sempre os mais pobres", diz.

Para o presidente da União Nacional dos Dirigentes Muni­cipais da Educação (Undi­me), Carlos Eduardo Sanches, o cruzamento dos dados não revela a realidade. De acordo com ele, relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado em 2007, indicava que havia 39 mil crianças com idades entre 7 e 14 anos fora da escola no Paraná. "Mesmo com a inclusão das crianças com 6 anos, esse número de 56 mil não deve retratar a realidade do Paraná. Deve haver uns 4% ou 5% de distorção", contesta Sanches.

Atraso escolar

Na pesquisa que compara a quantidade de matrículas e a estimativa da população na faixa etária do ensino fundamental, o Brasil tem mais matrículas do que crianças que deveriam, nesta idade, estar na escola. E isso é consequência direta da distorção idade-série. "O maior problema é da 5.ª série em diante, porque já virou praxe entre os professores que lecionam da 1.ª à 4.ª série passar de ano todos os alunos. Mas esta prática não acontece nas séries seguintes. Então, o aluno que chega e sente dificuldades de se adaptar às novas regras, ou chega sem ter aprendido o que deveria, vai se tornar um repetente", afirma Angelo Souza, da UFPR.

Pesquisas educacionais comprovam a tese – das crianças que ingressam na 1.ª série, 92% conseguem chegar à 4.ª, mas apenas 60% alcançam a 8.ª. "Muitas entram na 5.ª série sem saber ler e escrever direito, em decorrência de passar de ano mesmo sem o merecimento. É claro que, por outro lado, esta prática gera um custo menor ao sistema e melhora as condições de vaga das escolas. Além de fazer com que o aluno não desista da escola porque reprovou de ano", diz Souza.

Estima-se que a taxa de distorção idade-série atinja 60% das crianças no Brasil e 28% no Paraná. "Isto quer dizer que ainda temos o que corrigir e isso se faz com políticas públicas. Sabemos que o problema pode ocorrer tanto dentro como fora da escola. O abandono e a reprovação são os principais sintomas desta distorção", diz a secretária de Estado da Educação, Yvelise Arco-Verde. O aluno sai porque não se adapta às regras de uma escola que tem problema de gestão, ou vira um repetente em decorrência das faltas – ora ele trabalha e não consegue cumprir todos os compromissos, ora precisa ficar em casa para cuidar dos irmãos. Estes são apenas alguns exemplos.

No ensino médio, são 106,5 mil jovens no Paraná que abandonaram os estudos, em decorrência, muitas vezes, da própria distorção de idade do ensino fundamental. Em média, são estudantes com 15 anos que não querem mais ir para a escola para estudar com os menores. E isso tem reflexos diretos na Educação para Jovens e Adultos (EJA). "Eles fazem o EJA para tentar um emprego. Mas, na verdade, isso já não tem sido garantia de colocação no mercado de trabalho. Por isso digo que o ensino médio sofre uma crise de identidade. Hoje serve apenas para quem quer passar no vestibular. E o resto dos adolescentes?", questiona Souza.

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