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Certa vez li um texto de Ítalo Cal­vino, escritor do século XX, sobre o valor das coisas. Dizia que, às vezes, o espelho aumenta o valor das coisas e, às vezes, o anula. En­tão, volto ao título deste texto: O que é de valor? É uma boa pergunta para o segundo semestre.

Será que tudo que vemos e ouvimos tem valor? Ou o valor é dado pela mídia, que valoriza a audiência? Ou será que o que tem valor é a ideia marqueteira de alguma empresa, para valorizar seu produto? Nossas crianças, que ficaram tantos dias em casa, viram muitas imagens na televisão e no computador que normalmente não vi­­riam se estivessem na escola. Tantas coisas ruins, que permeiam os noticiários. São tantas possibilidades enchendo a cabeça dos estudantes durante o período de férias.

Seria necessária uma mudança de postura geral para evitarmos e pouparmos nossas crianças de terem acesso a tanta coisa inútil. Será que nós, adultos, não temos condições de discernir o que é bom ou ruim para elas? Ou até sabemos, mas não temos condições de lutar contra todo esse emaranhado de sujeira? Como fica, então, a noção de valor das coisas que elas veem? Como justificar que um adulto mate, roube, engane, minta, se o adulto é o mentor dessa criança, referência para a vida?

Muitas vezes queremos que a criança nos respeite, mas como se dar ao respeito se nós, adultos, estamos envoltos em tanta barbaridade? Como querer que essa criança seja diferente se vê situações tão negativas e, muitas vezes, copia isso... Precisamos, com urgência, de um posicionamento mais eficaz do papel de educar, com um governo que reaja às inconsequências da mídia com leis à altura. Que escolas mostrem às crianças aquilo que realmente valha a pena. Que as famílias percebam que filho é para sempre. Que é um tipo de contrato que não pode ser rescindido, em que todas as cláusulas serão cobradas, mais cedo ou mais tarde.

Esther Cristina Pereira é psicopedagoga, diretora da Escola Atuação e membro do Conselho de Educação RPC.

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