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Imagem de um dos vídeos postados pelo ministro Abraham Weintraub, ao lado da presidente do FNDE, Karine Silva dos Santos.
Imagem de um dos vídeos postados pelo ministro Abraham Weintraub, ao lado da presidente do FNDE, Karine Silva dos Santos.| Foto: Reprodução

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi às redes sociais, no início do mês, para divulgar os kits escolares licitados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e disponíveis para compras de estados e municípios, mas acabou chamando a atenção para alguns problemas na licitação que definiu a empresa fornecedora dos materiais para o país inteiro.

Os kits, com cadernos, lápis, canetas, réguas, calculadoras e outros acessórios, para alunos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio da rede pública, foram licitados pelo FNDE para que estados e municípios tenham a possibilidade de adquiri-los com menos burocracia e um preço mais vantajoso, aderindo à compra nacional. “É o dinheiro do imposto de vocês voltando para vocês”, declarava o ministro ao final dos vídeos, que pedia para a população cobrar os prefeitos para aderirem à compra nacional e os deputados para destinarem emendas parlamentares à aquisição dos kits.

Ao dar maior visibilidade aos kits, no entanto, o ministro acabou criando uma série de transtornos ao ministério, com contestações quanto à pressão sobre prefeitos, a propaganda de um serviço que já era prestado por governos anteriores, a impressão deixada de que o governo federal que bancaria os kits, enquanto eles precisam ser comprados por estados e prefeituras e, principalmente, quanto à lisura do processo de licitação e a idoneidade da empresa contratada.

Reportagem do jornal O Estado de S.Paulo revelou (e a Gazeta do Povo confirmou) que a empresa vencedora da licitação, que hoje está credenciada para vender os kits para todo o Brasil, arrecadando R$ 164 milhões, com os 3,1 milhões de kits já comercializados, a Brink Mobil, teve seus dirigentes presos em uma operação policial na Paraíba, por fraude em licitação. O atual pregão também foi alvo de acusações de fraudes e o Tribunal de Contas da União analisa o caso.

O que são esses kits?

Para gerar economia e padronizar a qualidade do material didático utilizado na rede pública de ensino, o FNDE organiza a ata de compras compartilhada de material didático. O FNDE faz uma licitação nacional e a empresa vencedora compromete-se a vender, pelo preço apresentado no pregão, os materiais para qualquer cidade ou estado que aderir ao programa. Por ser uma licitação nacional, com maior concorrência e com a garantia da venda de uma grande quantidade, os valores ficam abaixo do mercado e abaixo do que um município, ou mesmo consórcio de educação conseguiria em uma licitação própria. São quatro kits: educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental, anos finais e ensino médio. De acordo com a necessidade de cada fase escolar, o kit traz materiais como cadernos, lápis, canetas, giz de cera, canetinhas, tesoura, cola, calculadora, entre outros materiais de apoio. Com preço variável de acordo com o kit e com a região do país em que está sendo adquirido, eles custam, em média, R$ 55,00 por aluno e são suficientes para um ano letivo.

Os kits são uma novidade dessa gestão?

Não. O decreto que regulamenta a compra conjunta organizada pelo FNDE é de 2013 e a primeira aquisição foi feita em 2015. O próprio ministro, após os primeiros vídeos divulgando os kits como novidade, voltou às redes para explicar que a distribuição já ocorria em governos anteriores, mas que o governo, agora, estava intensificando, com 3,1 milhões de kits distribuídos em 2020 e a intenção de superar os 10 milhões de kits nos próximos anos

Quem paga por eles?

Estados e municípios que decidem adquiri-los. O FNDE elabora as especificações dos produtos, faz o estudo de mercado, realiza a licitação de forma centralizada e gere as atas de registros de preços, centralizando os critérios de compra e promoção de qualidade. Aos entes federados que se utilizarem desse registro de preços resta o planejamento de sua demanda, a adesão à ata do FNDE, o pagamento direto à empresa fornecedora e a gestão e fiscalização dos seus contratos. Abraham Weintraub chegou a divulgar vídeo criticando a Prefeitura Municipal de Fortaleza que, ao receber os kits por ela adquiridos, colou um selo da prefeitura sobre a marca do governo federal impressa em alguns materiais, afirmando que o prefeito Roberto Cláudio (PDT) estaria colocando a marca da prefeitura em material comprado pela União. A prefeitura de Fortaleza divulgou as notas fiscais da compra de R$ 12,7 milhões em materiais e o ministro tirou seu vídeo do ar.

Do que o MEC está sendo acusado?

De contratar uma empresa envolvida em processo por fraude em licitação.  O dono da Brink Mobil, empresa vencedora da licitação, Valdemar Ábila, foi preso preventivamente pela PF na Operação Calvário em dezembro de 2019. A operação investiga o desvio de R$ 134,2 milhões de serviços de saúde e educação do governo da Paraíba. No início deste ano, Ábila foi denunciado pelo Ministério Público da Paraíba por organização criminosa. O empresário, de acordo com a denúncia, faz parte do núcleo econômico da quadrilha.

Em 2018, o Cade recomendou que a empresa fosse condenada por prática de cartel (combinação de preços) na compra de uniformes, mochilas e materiais escolares. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a pedir a suspensão do pregão, mas os ministros da corte decidiram apenas recomendar ao FNDE que altere as regras para as próximas licitações.

Os vídeos do ministro apresentando os kits e pedindo para que a população pressione prefeitos e deputados para que os comprem também foram vistos, pro opositores, como mais uma ação em favor da empresa contratada.

Isso impacta os municípios?

O Ministério Público Junto ao TCU recomendou às prefeituras e governos estaduais que não adquiram os kits sob o risco de estarem comprando material fornecido por empresa acusada de corrupção. Mas, como não há nenhuma decisão judicial ou mesmo do próprio TCU contra a licitação, os kits das regiões norte, nordeste, sul e sudeste já foram adquiridos e distribuídos e a compra conjunta para estados e municípios do centro oeste segue aberta, sem nenhum empecilho.

O que diz o FNDE?

Em nota, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação afirma que o processo licitatório para compra de kits escolares respeitou a legislação vigente, incluindo a consulta no Cadastro de Empresas Inidôneas e Suspensas, da Controladoria Geral da união (CGU). Segundo o FNDE, até momento da assinatura do contrato (fevereiro de 2019), a referida empresa encontrava-se em condição regular. Também apresentou os atestados de capacidade técnica exigidos em edital

O que diz o ministro?

No Twitter, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, escreveu que a Brink Mobil não foi condenada pela Justiça e que ele estaria cometendo um crime se impedisse a empresa de participar da disputa. "A empresa ganhou a licitação e não estava condenada, não tenho como excluí-la (eu estaria cometendo um crime)", disse o ministro.

O que diz a empresa?

Em nota à imprensa, a Brink Mobil afirma que segue autorizada a contratar com o poder público e tem auxiliado a Justiça no caso em que é investigada na Paraíba. Confira a íntegra:

A empresa paranaense Brink Mobil, que há mais de 30 anos cria, desenvolve e vende produtos educacionais, esclarece que não tem impedimento algum de participar de concorrências públicas em todo o território nacional por nunca ter sido condenada judicial ou administrativamente.

Em relação ao citado envolvimento em possíveis irregularidades no Estado da Paraíba, reitera que, desde o primeiro momento está à disposição da Justiça, mas que não responde a nenhuma acusação de superfaturamento ou fraude naquele estado.

A empresa informa que participou em fevereiro de 2018 de um pregão eletrônico realizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional (FNDE), ao lado de empresas concorrentes, e venceu o processo à época por oferecer o melhor produto e o melhor preço. Neste caso, o FNDE não comprou o material licitado. São as prefeituras que fazem a adesão ao pregão eletrônico, salvo em poucos casos, nos quais pode ter mínima participação de recursos do Fundo mediante convênio. Não há nenhuma irregularidade e nem tão pouco impedimento da Brink Mobil em continuar fornecendo recursos educacionais de excelência e contribuir com a melhoria da educação pública do País.

Assessoria Jurídica da Brink Mobil

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