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Questionada sobre a situação, a FGV informou que o caso está sendo tratado na Justiça e que não comentará o assunto. | Reprodução.
Questionada sobre a situação, a FGV informou que o caso está sendo tratado na Justiça e que não comentará o assunto.| Foto: Reprodução.

O retorno às aulas, por decisão judicial, do estudante da FGV (Fundação Getulio Vargas) de São Paulo que havia sido suspenso por ter chamado um colega negro de "escravo" tem causado polêmica na instituição. Cartazes contra o retorno do aluno foram espalhados nesta segunda-feira (7) na sede da escola de administração, no centro da capital paulista, e o movimento negro da instituição publicou nota de repúdio.

O aluno de administração havia sido suspenso por três meses no início de março depois de uma mensagem racista atribuída a ele ter vazado de um grupo privado de WhatsApp. Nela, ele encaminha uma foto de outro estudante negro com o seguinte comentário: "Achei um escravo no fumódromo! Quem for o dono avisa!".

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Nesta segunda, cartazes espalhados afirmam que "o racista voltou". "Lugar de criminoso é dentro da cadeia e não na sala de aula". Outro cartaz afirma: "Racistas não vão assistir aula ao nosso lado. Ao ver ele nas salas e nos espaços da FGV saiam".

A FGV havia suspendido o aluno, no dia 8 de março, por três meses. A sanção era prevista no Código de Ética e Disciplina da fundação. A análise para uma possível expulsão do aluno estaria ainda sendo realizada.

A família do aluno conseguiu na Justiça uma decisão liminar (temporária) que garante seu retorno às aulas. Ele voltou a frequentar a unidade na quinta-feira (3).

Os pais são advogados e assinam a defesa. Segundo a mãe, a fundação não deu amplo direito de defesa a seu filho. "Em 24 horas [a FGV] fez um procedimento contra ele, sem dar o direito de chamar os pais ou advogado, e ofertou a suspensão".

O jovem, porém, teria admitido a autoria da mensagem à direção da instituição. No processo, entretanto, a família argumenta que isso não ocorreu. "Ele só disse que tinha visto a mensagem, não confirmou que foi ele", disse a mãe do estudante. "Não foi ofertada ampla defesa, portanto essa confissão foi dada em ambiente questionável", completou.

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No processo, a família informou ainda que o garoto havia tido o celular roubado. O roubo teria ocorrido em novembro de 2017, cerca de quatro meses antes da frase racista. Segundo a mãe, ele teve uma volta tranquila às aulas.

O coletivo Negro 20 de novembro da FGV divulgou na semana passada nota de repúdio em que exige novo processo administrativo e a expulsão do aluno. "Sofremos juntos a vítima que terá que conviver no mesmo ambiente que seu agressor", diz a nota.

Estudantes ainda articulam a realização dentro da escola do espetáculo de teatro "Baquaqua - Documento Dramático Extraordinário", baseada na única autobiografia conhecida de um africano que foi escravizado no Brasil (Cia. do Pássaro). 

Segundo uma mestranda em direito na FGV, o retorno do estudante causou revolta entre os estudantes. "O esforço de tentar articular uma intervenção cultural é para que falemos do tema, mas sem que haja linchamento de nenhum dos lados."

Questionada sobre a situação, a FGV informou que o caso está sendo tratado na Justiça e que não comentará o assunto.

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