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Uma instituição latino-americana vem se destacando nos rankings internacionais de qualidade universitária e chamando a atenção das suas equivalentes nos países vizinhos. No Chile, a Universidade Diego Portales (UDP) tem registrado uma subida meteórica nas avaliações – no último ranking elaborado pela revista britânica Times Higher Education (THE) considerando apenas países emergentes, divulgado em maio, a UDP ganhou 34 posições e chegou ao 89º lugar da lista. 

Não é a primeira vez que a Diego Portales atinge essa proeminência. A instituição também tem subido nas outras avaliações da THE, e no ano passado já havia sido considerada a melhor universidade “nova” (fundada há menos de 50 anos) da América Latina. “O reconhecimento é uma prova de que as instituições privadas ou extra-estatais podem ser projetos de alto desempenho e de alta qualidade”, disse o reitor Carlos Peña em entrevista à Rádio Cooperativa, de Santiago.  

Uma instituição jovem 

A UDP é uma das chamadas instituições “não-tradicionais” do ensino superior chileno: está entre as universidades que surgiram na esteira da reforma imposta por Augusto Pinochet no início da década de 1980, que encerrou a gratuidade nas instituições públicas (algo que retornou recentemente, no governo de Michelle Bachelet encerrado em março) e facilitou a entrada grupos privados no mercado universitário. Na época, faculdades novas surgiram para disputar espaço com instituições como a Universidade do Chile, as Universidades Católicas de Santiago e de Valparaíso e a Universidade de Concepción, que integravam o grupo das “tradicionais”. 

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Fundada em 1982, a UDP foi uma das instituições novas. Ao longo dos anos, as universidades fundadas desde então têm sido vistas com reservas por muitos chilenos, que as consideram menos interessadas no desempenho acadêmico dos alunos do que nos resultados financeiros oriundos das matrículas – embora o lucro com o ensino superior seja vetado pela lei chilena, escândalos na última década demonstravam que importantes grupos universitários do país vinham burlando as regras impunemente já que, apesar da legislação, não existe qualquer punição prevista para quem lucrar. As universidades “não-tradicionais” também acabam tendo mais dificuldades para obter verbas estatais para pesquisa e extensão. 

Em sua entrevista à Cooperativa, o reitor Carlos Peña destaca que o sucesso recente da UDP foi alcançado “sem aportes diretos do Estado e graças a uma comunidade acadêmica e estudantil que compartilha do projeto intelectual da universidade”. Como o ranking da THE dá grande peso à produção científica de cada instituição, a crítica mercantilista acaba não afetando projetos como o da Diego Portales. Segundo Peña, os resultados são “outra razão para que o governo abandone os preconceitos com as universidades privadas e, em vez de inibir seu desenvolvimento, apoiá-lo”. 

Ascensão meteórica 

De acordo com a Times Higher Education, a universidade chilena conseguiu sua subida rápida graças a uma melhora em índices como “ambiente de ensino”, “ambiente de pesquisa” e “influência da pesquisa”. Entre outros fatores, o aumento no número de citações dos estudos publicados por professores da UDP contribuiu decisivamente para que a produção de seu corpo docente fosse mais bem pontuada levando em consideração critérios de relevância internacional. 

Segundo Ellie Bothwell, editora dos rankings globais da THE, um financiamento estatal sustentado (mesmo para as instituições privadas) e uma internacionalização do conhecimento têm sido chave nos países que se destacam entre os emergentes. “Embora o financiamento público não garanta sucesso no ensino superior, ele ajuda muito: a China domina o topo do ranking, em parte graças a um grande e contínuo investimento por parte do governo”, diz, em entrevista à Gazeta do Povo

“Universidades com grande penetração internacional também têm excelentes performances: colaborações com pesquisadores estrangeiros ajudam a produzir pesquisas mais fortes, que atraem bons estudantes e verbas mais altas”, completa.. 

A editora da THE, no entanto, alerta: “não existe uma fórmula para garantir a subida nos rankings”. Ellie Bothwell entende que nenhuma universidade deve ter a posição nas listas internacionais como o seu objetivo principal, e sim como resultado do trabalho bem feito.

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“O ranking julga as instituições em todas as suas missões básicas, incluindo ensino, pesquisa, transferência de conhecimento e presença internacional. Ou seja, universidades que fizerem melhorias em áreas fundamentais vão ver sua performance no ranking melhorar como consequência”, segue.

Dificuldades brasileiras 

No Brasil, os resultados em rankings do tipo têm ido na contramão daqueles que fizeram a instituição chilena se destacar. Por aqui, até universidades tradicionais vêm apresentando um declínio e perdendo espaço, mesmo quando considerados apenas os países emergentes. 

Em uma época de vacas magras para instituições públicas e particulares, nenhuma das universidades brasileiras mais bem posicionadas escapou ilesa: a USP já está há dois anos apartada do top-10 no ranking dos emergentes, ocupando o 14º lugar; a Unicamp despencou cinco posições no último ano, tendo ido parar na 33ª posição; primeira instituição privada do Brasil na lista, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) caiu seis posições e aparece em 61º lugar. 

“Pode-se dizer que as universidades brasileiras em geral têm caído em nossos rankings há alguns anos, e não há dúvida de que a crise econômica teve um papel importante nisso. Mas isso não significa que a tendência tenha que continuar nos próximos anos”, diz Ellie Bothwell.

Para Bothwell, um caminho para assegurar que o ensino superior brasileiro interrompa o ciclo de perda de relevância passa por buscar mais financiamento externo. “Nossos rankings mostram que as universidades brasileiras geralmente recebem poucos financiamentos da indústria”, aponta. “Outras nações emergentes, como China e Rússia, são muito mais fortes nisso”.

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