• Carregando...
Pedro começou a usar o computador aos 4 anos para brincar com jogos. Hoje, aos 5, já sabe ler o que aparece na tela. Segundo a mãe, o estímulo da família foi fundamental | Walter Alves/Gazeta do Povo
Pedro começou a usar o computador aos 4 anos para brincar com jogos. Hoje, aos 5, já sabe ler o que aparece na tela. Segundo a mãe, o estímulo da família foi fundamental| Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo

Exemplo

Adeus ao giz e ao quadro negro

A alfabetização vai começar de forma diferente para os alunos das sete escolas municipais de Tibagi, interior do Paraná. A prefeitura está comprando lou­­sas interativas multimídia para todas as salas de aulas, da pré-escola ao 6 º ano, que devem estar nas escolas até março.

O prefeito Sinval Silva diz que nelas o professor vai poder escrever normalmente – assim como fazia no quadro. A diferença é que além disso ele poderá acessar internet e usar outros programas multimídias com o aluno. "Agora um professor de Biologia pode mostrar o corpo humano em três dimensões. Vai facilitar muito o aprendizado, além de tornar a aula mais interessante. Tudo ficará mais dinâmico."

Para Silva, as televisões que as escolas estaduais usam hoje estão ultrapassadas e por isso a preferência por algo mais moderno, para que os alunos desde muito cedo tenhamcontato com a tecnologia. Para que os 150 professores municipais saibam utilizá-la serão ministrados cursos. O investimento é de R$ 1 milhão – o que corresponde a um décimo do orçamento anual de educação do município – e será pago em três anos.

Acompanhe de perto

Embora os benefícios do uso do computador desde cedo sejam grandes para a alfabetização, os pais e professores devem ficar atentos a alguns pontos:

De olho na escrita manual

Por estar acostumada a digitar no teclado, a criança pode ter dificuldade com a caligrafia. O traçado pode ficar ruim e a letra ilegível. Para isso os professores precisam reforçar as atividades com lápis e papel. É fundamental que a escola trabalhe a coordenação motora fina, que corresponde ao movimento mais delicado e preciso. Ela servirá tanto para o desenho das letras no papel quanto para o controle sobre o mouse.

Cuidado com a preguiça

Se por um lado eles ficam mais ágeis mentalmente, por outro deixam as atividades físicas de lado. Para balancear e evitar problemas como a obesidade, pais e professores precisam limitar o tempo dos pequenos no computador, não só em casa, mas também na escola. Os professores não devem substituir atividades dinâmicas, como pular corda, que desenvolvem coordenação motora. O computador é apenas mais uma ferramenta. Segundo especialistas, o limite máximo em casa deve ser de uma hora – se possível espaçada durante o dia – e 40 a 50 minutos na escola.

Estimule contato físico

Deixar a criança muito tempo no computador, sozinha ou não, diminui o contato físico com os pais, o que na faixa etária de 3 a 6 anos é muito importante. O ideal é brincar com ela com outros jogos lúdicos – que também podem ser úteis na alfabetização – e evitar cercá-la de brinquedos que lembrem o compu­tador e outros eletrônicos, como notebooks e celulares de mentira.

Drible o superestímulo

A criança que fica muito no computador e começa a aprender a ler e escrever por ele pode se sentir desestimulada quando vai para a sala de aula, por não encontrar lá os mesmos estímulos visuais que vê na tela. Quando um aluno souber o conteúdo e não quiser prestar atenção na aula o papel do professor é fazer com que ele ensine e ajude um colega. Assim, o conhecimento que ele tem a mais o deixa feliz e não desinteressado.

Fontes: Cynthia Wosche, professora do Colégio Saint Michel, Maria Conceição Diniz, professora da Pré-Escola Recanto Infantil e Annelise Alcoba Ruiz, coordenadora da Educação Infantil e Ensino Fundamental I do Colégio Dom Bosco.

  • Com uma ajudinha do irmão -Artur Haj Mussi Pereira Oliveira, 8 anos, usa o computador para jogar desde os 5 anos. Quando sua irmã mais nova, Laura, 7 anos, entrou na idade de alfabetização, aos 6 anos, ele passou a dividir com ela a tela e o teclado. Curiosa com as letras, Laura começou a se interessar em ler e escrever nomes de personagens que via nos joguinhos. O exemplo contribuiu para o letramento

Confira no vídeo abaixo vídeo o contato do pequeno Pedro Henrique com as letras:

****VIDEO****

O computador está mudando o processo de alfabetização das crianças. O acesso fácil desde cedo ? a partir dos três anos de idade, de acordo com educadores ? incentiva os pequenos a ingressarem no mundo das letras muitas vezes antes mesmo de ter contato com a escola. ?É uma geração que está muito à nossa frente em relação ao uso do computador e isso tende a crescer. Não faz mais sentido alfabetizar sem levar em conta essa vivência de informática?, diz o pós-doutor em educação, autor de livros sobre sociologia da educação e professor da Universidade de Brasília (UnB) Pedro Demo.

O uso precoce, porém, não deve preocupar os pais. Pelo contrário. Segundo os especialistas, faz parte da tendência inevitável de incorporar tecnologia à vida das crianças desde que nascem. Quando ela começa a ser alfabetizada na escola, por volta dos 5 anos ? não está mais crua, ou seja, as letras não são mais novidade para ela. ?Claro que essa mudança não é de hoje. Acontecia com outros meios, como televisão, brinquedos e outros objetos que ela tinha acesso em casa. Mas o que muda é que o computador entrou nisso e o contato com o mundo online, principalmente com jogos, desperta a curiosidade pela leitura e escrita?, explica a professora de linguística da Universidade de Cam­­pinas (Unicamp) Raquel Fiad.

Pedro Henrique Momm Maciel, 5 anos,é um exemplo típico desta mudança. Com 4 anos começou a usar o computador em casa para brincar com jogos. Aos poucos sentia necessidade de ler o que estava escrito na tela e perguntava para a família.?Um dia cheguei em casa e minha filha mais velha, de 9 anos, gritou: mãe, o Pedro está lendo. Não acreditei e fui correndo ver. Era verdade?, conta Raquel Momm, que também tem um importante papel na aprendizagem. Cada vez que Pedro quer acessar um determinado jogo, ela não digita o endereço do site para ele, mas faz com que ele mesmo escreva. ?Soletro e faço achar cada letra no teclado. Assim ele percebeu a lógica da escrita?, diz.

No entanto, Raquel, que além de é diretora de escola, preocupou-se em não deixar que o único incentivo à leitura e escrita viesse do computador. Colocou etiquetas em muitos objetos do filho ? meias, brinquedos, gavetas ? com o nome de cada um em letra maiúscula, para que ele fosse aprendendo. Segundo ela (palavra de educadora), este é o comportamento ideal, pois tudo vai influenciar na aprendizagem, das cores dos brinquedos às legendas de filmes e desenhos que ela vê em casa. ?Cada criança tem sensibilidade diferente. Uma aprende mais com um estímulo, outra com outro. Mas nenhum deles fará mal. Pelo contrário?.

Aprendendo com eles

Para Pedro Demo, quando se fala em dominar a tecnologia as crianças muitas vezes estão na frente dos adultos. Segundo ele, uma pesquisa norte americana mostrou que elas passam em média 20 horas por dia conectadas. A conta inclui as horas em que os aparelhos celulares e computadores passam ligados mesmo quando os pequenos dormem ou fazem outras atividades, mas é um bom indicativo da realidade da Geração Y, a geração que já nasce conectada. De outro lado, os adultos ? a Geração X ? são iniciantes nesse processo, pois tiveram de incorporar o computador à sua vida e não o contrário. Essa diferença se reflete em sala de aula: muitas vezes quem precisa aprender é o professor. A ele, cabe a sensibilidade de perceber que o processo de letramento precisa atender um novo perfil de aluno, aquele que começa a ler pelo GPS do carro do pai, pelo celular e computador e não pelos livros apresentados em sala.

Há 20 anos trabalhando com alfabetização no Colégio Saint Michel, a professora Cynthia Wosche conta que há dez percebeu essa mudança em sala, mas que mesmo assim ainda se assusta com o que os alunos trazem. ?Tento me atualizar não apenas com cursos, mas com a realidade. De tempos em tempos investigo com meus amigos o que os filhos pequenos deles fazem, gostam de ver, mexer. É uma forma de aprender, para surpreender antes de ser surpreendida.?

Para alguns, o primeiro contato é na escola

Enquanto nas escolas particulares a maioria das crianças tem acesso ao computador em casa, nas instituições públicas a situação é diferente. ?Não temos o número exato, mas no dia a dia percebo que muitas usam o computador pela primeira vez aqui na escola?, conta Regina Moro Milléo de Medonça, diretora do Departamento de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba.

Desde os 4 anos de idade os alunos dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) podem usar o computador durante as aulas, mas sempre orientados pelos professores. Os primeiros contatos são com atividades complementares, principalmente jogos e imagens que os professores pedem para que eles identifiquem e associem com o que acabaram de aprender. Em cada sala de aula existe o que eles chamam de ?Canto.com?, implantado em 2008, que é um espaço onde fica o computador. Para os alunos em fase de alfabetização, os jogos mais usados são os didáticos, que brincam com letras e palavras.

Mas quem pensa que por não terem computador em casa as crianças se atrapalham está enganado. Regina diz que fica assustada com a agilidade e que os pequeninos aprendem muito rápido. ?Eles nascem vendo computadores por toda parte, na televisão, na secretaria da escola. Não tínhamos mais como ignorar isso.?

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]