• Carregando...
Essa foi a estratégia dos Wendland. A mãe, a dona de casa Marli, por ter horários mais flexíveis, fica responsável por comparecer aos eventos da escola e levar e buscar a filha mais nova, Emanuelly Thais, de 10 anos, aluna da Escola Municipal São Luiz. Para o pai, o vendedor Henrique, ficou o acompanhamento diário das lições de casa. Apesar de trabalhar o dia todo, ele não reclama da tarefa. “Pelo contrário, acho que é um investimento no futuro da minha filha e tenho prazer em tirar algumas horas à noite para mostrar que, apesar do pouco tempo, ela é muito importante para mim”, explica Henrique | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Essa foi a estratégia dos Wendland. A mãe, a dona de casa Marli, por ter horários mais flexíveis, fica responsável por comparecer aos eventos da escola e levar e buscar a filha mais nova, Emanuelly Thais, de 10 anos, aluna da Escola Municipal São Luiz. Para o pai, o vendedor Henrique, ficou o acompanhamento diário das lições de casa. Apesar de trabalhar o dia todo, ele não reclama da tarefa. “Pelo contrário, acho que é um investimento no futuro da minha filha e tenho prazer em tirar algumas horas à noite para mostrar que, apesar do pouco tempo, ela é muito importante para mim”, explica Henrique| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Lição de casa

Veja algumas dicas dos especialistas consultados na matéria sobre o modo certo de ajudar nas tarefas:

> Crie o hábito de, mesmo por alguns minutos no fim do dia, monitorar a lição da criança.

Não é preciso cobrar ou ameaçar. Basta saber se há dever de casa, se ele fez e se está com alguma dúvida.

> Fique de olho na agenda. É nela que os professores, principalmente das séries iniciais, descrevem o que foi feito em sala e quais as tarefas de casa.

> Em caso de dúvidas, evite as respostas prontas. Se a criança está com dificuldade, tente identificar onde está o problema e comunique à escola.

> Se não sabe o conteúdo, admita e recomende que a criança tire a dúvida com a professora no dia seguinte. Se tiver tempo, o pai pode propor uma pesquisa conjunta, em livros ou na internet, para que cheguem juntos a uma resposta.

Contato

Torne a comunicação com a escola mais eficiente:

> Na dúvida, procure a escola. Os colégios têm equipes capacitadas para tirar dúvidas e ajudar na organização do tempo e do estudo, e até interferir nas relações com professores e colegas.

> Valorize a escola e não rivalize com professores ou desqualifique o trabalho feito em sala. Caso existam discordâncias, converse com a equipe pedagógica e avalie se aquele colégio é o mais adequado.

> O site do colégio pode ser uma ferramenta para acompanhar as crianças. Várias escolas têm em sua página os conteúdos trabalhados em cada turma, quais as tarefas de casa e até as notas.

Diálogo

Atitudes simples melhoram o diálogo com as crianças:

> O limite é tênue, mas, ao conversar, não seja muito exigente e não faça apenas cobranças. Nem seja complacente com os problemas, o que pode deixar a criança acomodada.

> Ouça com atenção o que a criança tem a dizer. Muitas vezes, situações sérias, como episódios de violência, bullying e casos de dificuldades de aprendizagem, podem ser percebidos nos detalhes da conversa. Mesmo que pareça uma bobagem, procure a escola: pode ser só sinal de muita criatividade, mas também o início de alguma coisa que merece atenção.

> Nos fins de semana, aproveite para reunir a família e passear, ler, ir ao teatro ou ao cinema e participar de eventos culturais promovidos pela escola. Também é bom criar oportunidades de interagir com os conteúdos dela. Se, por exemplo, os pequenos tiveram uma aula sobre os animais durante a semana, uma ida ao zoológico pode ser motivo de lazer e de contextualização das lições.

Desconhecimento das matérias justifica distância

Cotidiano puxado, tarefas estressantes no trabalho e falta de tempo para conversar e ir à escola. Com frequência, essas são as justificativas mais utilizadas pelos pais para explicar porque não acompanham os filhos de perto quando o assunto é a vida escolar.

Duas pesquisas recentes, uma feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e outra pelo movimento Todos pela Educação, mostraram como os pais veem essa questão. A primeira – que ainda está em fase de produção e só deve ser divulgada totalmente em julho –, verificou que a maioria dos pais entrevistados (77%) reconhece que tem responsabilidades sobre a educação e o desempenho escolar das crianças, mas 25% atribuem a função de educar e ensinar valores, que deveria ser conduzida pela família, à escola.

"Essa postura de achar que a obrigação dos pais é matricular os filhos no colégio e pagar as mensalidades e despesas com estudo, enquanto a escola deve fazer o restante do trabalho ainda é recorrente e prejudicial para todos. É importante que os pais vejam que a escola é responsável pela construção do conhecimento, mas somente eles podem educar", diz Lucélia Cavalcanti de Albuquerque, diretora da Escola Municipal São Luiz.

Na pesquisa promovida pelo movimento Todos pela Educação, um dos focos foi entender o porquê desse distanciamento na hora de acompanhar a educação dos filhos na escola. As justificativas variam, mas as duas mais apontadas foram não conhecer as matérias e não saber ajudar nas dúvidas com lição de casa (resposta de 16% dos entrevistados) e não ter tempo para ir à escola (com 15%).

"Educar não se restringe a fazer lição de casa e se reunir com os professores e a equipe pedagógica do colégio onde as crianças estudam, mas exige dar bons exemplos, transmitir valores, criar hábitos saudáveis e responsáveis e manter um processo contínuo de diálogo, compreensão e cumplicidade", afirma Silvia.

  • Montar uma parceria com a escola e valorizar todas as formas de contato com ela. Essa foi uma das estratégias da empresária Adriana Dallagnol para conseguir acompanhar os filhos Rhayani, de 11 anos, e Ryan, de 5 anos, alunos do Colégio Positivo Júnior. Mesmo trabalhando fora de casa, ela está sempre de olho na agenda das crianças e na intranet da escola e não perde uma oportunidade de conversar com os professores.
  • Mesmo trabalhando o dia todo, Ana Cristina Bigarelli e o empresário Luiz Eduardo se revezam para levar e buscar Giovanna, de 16 anos, e Bruno, de 13 anos, alunos do Colégio Bom Jesus Divina Providência. E não abrem mão de almoçar juntos diariamente.

Os irmãos Isadora e Bernardo Fabiani, de 16 e 17 anos, são daqueles alunos que deixam qualquer família orgulhosa: têm boas notas, só faltam às aulas quando estritamente necessário, sabem dosar o tempo de estudo e o de diversão e têm prazer em aprender. Aliás, por causa do bom rendimento, os dois ganharam bolsas de estudos no Colégio Marista Santa Maria, onde Isadora faz o segundo ano do ensino médio e Bernardo terminou o terceiro ano em 2009. E mais: a menina está de malas prontas para fazer um curso de sete semanas em Harvard, nos Estados Unidos, a partir do fim deste mês. A fórmula para tanto sucesso? O apoio incondicional dos pais. "Mesmo com a correria do dia a dia, eles sempre davam um jeito de estar por perto e mostrar que se preo­cupavam conosco", diz Isadora.

Assim como a maioria das famílias, os pais de Isadora e Bernardo, a economista Maria Rita e médico ginecologista Luiz Angelo Fabiani, trabalham o dia todo fora de casa e contaram com muito jogo de cintura para poder equilibrar as exigências da vida profissional com as necessidades dos filhos.

"Como a empresa onde trabalho me permite flexibilidade nos horários, foi um pouco mais fácil, mas desde a educação infantil esforçava-me para ajudar nas lições de casa no fim do dia, participar de eventos promovidos pelo colégio e sempre eu ou meu marido íamos levá-los e buscá-los, o que rendia minutinhos preciosos de conversa", conta.

Com uma rotina de trabalho cada vez mais corrida – e o número crescente de mães que também trabalham fora de casa –, não são raros os pais que ficam sem saber o que fazer para acompanhar os filhos, com tão poucas horas de convívio ao longo do dia. A tarefa é complicada, mas, segundo os especialistas, é algo possível. "É como se esse fosse o dever de casa do pai e da mãe. Da mesma forma que a criança precisa separar um tempo para fazer suas lições da escola todos os dias, os pais precisam se organizar para ter momentos de contato saudável com seus filhos", explica Neide Noffs, professora da faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).

Comunicação aberta

Nesse caso, o que importa não é a quantidade de tempo dedicada, mas sim a qualidade. Atitudes simples podem fazer toda a diferença. "Cada família tem suas peculiaridades e é preciso respeitá-las, mas ações como conversar, monitorar a lição todos os dias, manter um canal aberto de comunicação com a escola e ficar de olho nas notas são essenciais para que as crianças sintam-se motivadas", afirma Silvia Colello, educadora e professora de Psicologia da Educação da faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo Neide, além de fazer bem para a autoestima, o apoio dos pais promove a união da família, rende chances para que as crianças aprendam mais e tenham um melhor rendimento escolar. "Desde pequeno, o filho precisa ser orientado para ser autônomo e ver no pai um apoio, alguém que valoriza seu esforço e em quem ele confia para dividir alegrias, tristezas, problemas e sucessos", diz Sandra Hoffman, psicóloga e orientadora e coordenadora do Ensino Fun­damental I do Colégio Positivo.

Cuidado

Além de exigir um esforço extra para adequar a rotina, o acompanhamento exige um cuidado especial: ter e demonstrar prazer por estar fazendo aquelas atividades com a criança. "Não adianta o pai tirar meia hora do dia para conversar se só reclama do emprego, desvaloriza o esforço da criança e mostra desinteresse no que o filho faz ou diz", comenta Sonia Guariza Miranda, professora do Setor de Educação da UFPR.

Por isso, é bom tomar cuidado com a qualidade desse acompanhamento, além de tornar esse trabalho contínuo e permanente. De acordo com Silvia, os resultados ficam para sempre e são positivos para todos. "Os filhos crescem muito rápido, se os pais não aproveitam essa fase agora para ficarem juntos, conversarem e se apoiarem, depois pode ser muito tarde para criar esse vínculo."

Rotina

Se a lição de casa é o terror de muitas crianças, ela também pode ser uma dor de cabeça para os pais, que se sentem culpados por não conhecer (ou lembrar) os conteúdos exigidos nos deveres.

Para os especialistas, esse problema pode ser facilmente resolvido. "Pai é um apoio, não um resolvedor das tarefas de casa ou professor particular. Seu papel não é ensinar o conteúdo, mas monitorar as crianças no sentido de criar hábitos de estudos saudáveis, despertando a curiosidade e a vontade de aprender", comenta Neide.

Assim, a preocupação dos pais desde a educação infantil não deve ser responder às dúvidas das crianças, que devem ser tiradas pelos professores e monitores na escola, mas mostrar a importância de um cronograma de horários, da escolha de um local na casa adequado para estudar e da organização na realização de suas tarefas e responsabilidades.

No caso dos pais que não passam o dia em casa, é possível combinar com a pessoa que cuida das crianças nesse horário (a babá ou um familiar), para que ela verifique se a rotina está sendo cumprida e ajude em caso de problemas. Porém, isso não dispensa o acompanhamento dos pais ao fim do dia.

Mas, segundo Cleide Barbosa, gestora do Bom Jesus Divina Providência, em geral as crianças que passam por esse processo de adequação da rotina desde cedo não rendem qualquer problema para cumprir as tarefas. "Pelo contrário, elas não precisam de cobranças, ficam mais autônomas, controlam seus horários e passam a se sentir mais valorizadas pela confiança que os pais depositam nela", diz.

Pela internet

Central de atendimento, telefone, e-mail, blog e intranet. Essas são apenas algumas das formas atuais de comunicação de vários colégios. "Não ter tempo para ir à escola com frequencia não justifica a distância do colégio", explica Gerson Luis Carassai, diretor educacional do Colégio Marista Santa Maria.

Vale a pena tirar alguns minutos para olhar a agenda da criança. Essa é a forma de as professoras avisarem aos pais o que foi feito ao longo do dia na escola e, em contrapartida, é uma maneira simples de os pais se comunicarem com a equipe pedagógica. "É ali que o pai indica problemas de saúde, situações atípicas que podem influenciar o comportamento do aluno e dificuldades que a criança teve na hora da lição, para que a escola conheça, compartilhe e ajude na resolução da situação", diz Lucélia.

Mesmo assim, nada substitui a participação em palestras e reuniões pedagógicas promovidas pelo colégio. "Nessas ocasiões, pais podem co­­nhecer outros pais, tirar dúvidas e entrar em contato direto com a equipe pedagógica", afirma Sandra. Ir a eventos da escola, como festas, feira de ciências e oportunidades culturais, também é bom por oferecer esse contato em um ambiente descontraído.

Pequenos momentos

Mesmo para os pais que têm pouco tempo disponível para acompanhar a rotina escolar dos filhos, uma coisa é imprescindível: diálogo. Quanto ao horário, depende do tempo dos pais, mas pequenos momentos no começo da manhã, na hora do almoço ou no fim do dia são suficientes para colocar a conversa em dia, saber como foram as aulas, o que aconteceu no colégio, o que ele aprendeu e mostrar que, mesmo com um ritmo intenso de trabalho, a família tem tempo para se reunir. "Mas é bom não confundir conversa e cobrança. Quando o pai pergunta, deve ser porque se interessa pelo cotidiano do filho, e não porque quer uma simples prestação de contas", afirma Sandra.

Nessa hora, também é bom va­­lori­zar a troca de informações. "As crianças precisam se sentir à vontade para comentar de forma natural co­­mo foi o seu dia e até questionar os pais co­­mo foi o dia deles no trabalho. Ao res­­ponder, tome cuidado para não despejar problemas e tornar esse momento tão esperado pelo filho em uma verdadeira frustração", diz Nei­de.

Quanto aos fins de semana, eles po­dem até ter momentos de estudo, mas devem ser oportunidades de la­­zer com a família. "O sábado e o do­­min­go serão muito produtivos se forem momentos para que pais e fi­­lhos passem tempo juntos e se sintam realmente unidos", explica Clei­de.

* * * * *

Interatividade

Como você faz para participar da educação dos seus filhos?

Escreva para projetosespeciais@gazetadopovo.com.br.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]