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Português, matemática e ciências compõem as bases do ensino tradicional, mas não contemplam toda a gama de conhecimentos e habilidades necessárias para uma educação completa. Para atender a essa limitação, escolas brasileiras começam a adotar a educação para habilidades socioemocionais, que já fazem parte das competências na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 

Pesquisadora no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e CPO (diretora de Produtos) da metodologia Lumiar, Jennifer Groff, defende que é preciso colocar o desenvolvimento dessas habilidades no centro da experiência de aprendizagem. 

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Em entrevista à Gazeta do Povo, Jennifer fala sobre a inclusão de habilidades socioemocionais no currículo escolar, seus benefícios e modelos que podem ser aperfeiçoados.  

Escolas brasileiras estão começando a incluir no currículo habilidades socioemocionais. Como isso melhora a educação? 

Habilidades socioemocionais estão ganhando muita atenção no mundo porque, em sociedades que estão mudando rapidamente, ter conhecimentos apenas em matemática e ciências não são suficiente. Essas habilidades – que foram definidas como autoconsciência, autogestão, habilidades de consciência social para relações pessoais e tomada de decisões de forma responsável – tratam sobre entender a si mesmo e como se relacionar com os outros de forma eficaz. 

Isso está no cerne de todo trabalho, toda profissão e em todos os aspectos da vida e da sociedade. Nós vimos isso quando crianças que têm apoio no desenvolvimento dessas habilidades crescem de forma incrível e muito mais do que quando focamos apenas em currículos tradicionais (e ultrapassados) de letramento, matemática e ciências. 

Como as habilidades socioemocionais são ensinadas? A inclusão desses conteúdos toma espaço de matérias de base, como português e matemática? 

Eu diria que elas não são “ensinadas” de forma tradicional. Em vez disso, bons ambientes de aprendizagem incentivam os estudantes a cultivarem essas habilidades ao longo de sua educação. Em outras palavras, você pode ter uma lição direta sobre empatia, mas isso provavelmente não terá um grande impacto no desenvolvimento dessas habilidades no estudante em longo prazo. 

O que faz isso são projetos de ensino profundos e recorrentes e experiências que exigem que o estudante consiga enxergar melhor outras perspectivas ao longo do processo, tomar decisões eficazes de forma colaborativa com outros membros da equipe sobre problemas do mundo real. Esse é um dos muitos motivos pelos quais o ensino por projetos tem sido utilizado há décadas na educação nos melhores ambientes de aprendizagem. 

Propostas para uma reforma educacional oferecem uma gama maior de disciplinas do que apenas português e matemática. Esse modelo é eficiente? As matérias básicas contemplam toda a base da educação? 

Evitei aqui a ideia de que as matérias básicas simplesmente não são o suficiente, mas as pesquisas também apoiam isso. Esse é um motivo pelo qual vimos países em todo o mundo caminharem nessa direção. Nos EUA, ao longo dos últimos 20 anos houve um grande avanço no movimento de charter schools para enfatizar mais o alto desempenho especificamente em matemática e letramento para que mais estudantes pudessem entrar na faculdade. 

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Ainda assim, vimos o contrário disso, que apenas focar nesses conteúdos sozinhos não preparava os estudantes para a universidade. Bons níveis de letramento e matemática são importantes, mas nem mesmo coisas como trigonometria ajudam muito. Mas se um estudante não sabe como interagir com os outros, como se relacionar com os outros de forma bem sucedida e resolver problemas colaborativamente, não terá consigo fundamentos da vida, do trabalho e da sociedade. 

A educação integral é uma das mudanças propostas para a educação brasileira. Aumentar o número de horas é eficaz para promover melhorias na educação? 

Aumentar o número de horas pode ajudar, mas como a aprendizagem acontece é o que realmente importa. Então, se o modo como o ambiente de aprendizagem está sendo organizado não é eficaz, acrescentar mais horas não vai ajudar muito. Por outro lado, se o ambiente de aprendizagem é bem organizado, é possível cortar o tempo de permanência pela metade e preparar os estudantes para fazerem um uso eficaz do tempo fora da escola. 

Não deveríamos nos prender a coisas como o tempo de permanência na escola, mas olhar para todos os jeitos em que continuamos a manter o velho sistema educacional do mesmo modo ultrapassado, mesmo sabendo que não é eficaz para as crianças, e fazermos tudo que pudermos para remodelar isso. 

Estamos em 2018, sabemos como fazer isso. Agora é uma questão estarmos dispostos coletivamente a deixar o passado para trás e tomar medidas para implementar o que sabemos que é certo para os estudantes de hoje. 

Você é diretora de produtos da Lumiar, metodologia que já trabalha com o formato de competências. Quais são os diferenciais da Lumiar? 

Organizamos o ambiente de aprendizagem de forma muito diferente das escolas tradicionais para colocar o estudante e suas necessidades no centro da experiência – o que é geralmente chamado de ensino personalizado. O ensino com base em projetos é utilizado para desenvolver experiências de aprendizagem, que mapeiam conteúdos e as competências que eles precisam de acordo com o seu desenvolvimento e crescimento. 

O que o Brasil pode exportar para outros países quando falamos sobre competências? 

Há muitas coisas que podemos aprender e que podem ser usadas em outros contextos, em outros países. O ensino com base em projetos tem um longo histórico de pesquisas que o reiteram e é utilizado em muitos lugares do mundo. Autogestão e autonomia agora também são destacadas como necessidades críticas para os estudantes, mas é algo que muitas escolas têm dificuldades para implementar.

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