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Com o projeto, Carolina pretende também conscientizar pais e professores de que não se alfabetiza uma criança surda sem o ensino de libras. | Reprodução/Facebook.
Com o projeto, Carolina pretende também conscientizar pais e professores de que não se alfabetiza uma criança surda sem o ensino de libras.| Foto: Reprodução/Facebook.

Durante o período de pesquisa para seu doutorado com foco na literatura para surdos, a professora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Carolina Hessel, percebeu que, enquanto existia muito material na internet com contadores de “histórias ouvintes”, ou seja, contos infantis narrados a partir da fala, a parcela de uma produção audiovisual que suprisse as demandas literárias do público surdo era praticamente nula. 

Foi então que, em outubro de 2017, Hessel criou o canal no Youtube “Mãos Aventureiras”, acompanhado de um blog hospedado no site da própria UFRGS, que juntos ajudam pais, crianças e estudantes de libras a desenvolver a linguagem de forma lúdica e envolvente, contando histórias literárias pela língua de sinais. 

Carolina busca incentivar o hábito da leitura logo na infância, assim como difundir o aprendizado de libras que, segundo ela, é diversas vezes negligenciado, fazendo com que a aquisição da língua de sinais seja tardiamente implantada na rotina das crianças. 

“A questão central é o uso da própria língua em um contexto de dramatização. Não se trata simplesmente do uso dos sinais, mas das expressões faciais e corporais que aproximam os leitores surdos da obra”, explica.  

Histórias originais 

Carolina conta que sempre buscou trazer histórias que fugissem dos tradicionais “contos de fadas”, que costumam ser constantemente apresentados nas escolas.

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Entre os vídeos já publicados, a professora já contou histórias como ‘O Urso Rabugento’, do autor australiano Nick Bland, ‘O Sanduíche da Maricota', do ilustrador brasileiro Avelino Guedes, e o famoso conto ‘Sete Camundongos Cegos’, do americano Ed Young.  

Quando iniciei o trabalho de tradução para o canal, já tinha em mente que não trabalharia com histórias clássicas, pois elas já acabam sendo apresentadas em outras ocasiões. A ideia é produzir um material diferente do que é encontrado em outros canais e proporcionar aos surdos o contato com publicações novas e com temáticas atuais.  

Ela explica que procura abordar temas como os refugiados e a representatividade feminina, assim como abordagens diferentes de datas comemorativas, procurando outras perspectivas de assuntos comuns à realidade das crianças.  

Contando atualmente com 36 videos no canal, o projeto “Mãos Aventureiras” é atualizado, em média, uma vez por semana. E tem recebido, além do público infantil, interessados em aprender a linguagem de sinais.  

“Obviamente, a produção foi organizada para o público infantil, mas com as postagens comecei a receber muitos feedbacks de pessoas ouvintes que estão aprendendo libras. Tem sido um trabalho muito prazeroso e de grande alcance, até mais do que os objetivos pensados inicialmente”, diz. 

Com o projeto, ela pretende também conscientizar pais e professores de que não se alfabetiza uma criança surda sem o ensino de libras. 

Gostaria que as pessoas pudessem compreender que a língua das crianças surdas é a língua de sinais, e que o melhor espaço para a constituição destes sujeitos é no contato com surdo-surdo, ou seja, em escola de surdos. Nestes contextos escolares as crianças são alfabetizadas em língua portuguesa, mas compreende-se que a língua de sinais é a primeira língua dos surdos.

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