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Bernardo Klein, 10 anos: preparação para ingressar na 5ª série desde a metade do ano passado | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Bernardo Klein, 10 anos: preparação para ingressar na 5ª série desde a metade do ano passado| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Família

Uma transição tranquila só ocorre se houver diálogo entre a escola e os pais. Conheça o papel da família e como ela pode ajudar na adaptação às novas séries:

Múltipla escolha

O término de uma fase escolar coincide, muitas vezes, com a mudança de colégio. Como cada instituição tem seu próprio projeto pedagógico, cabe aos pais verificar se a proposta da nova escola garante a adaptação do aluno. Quando há espaço para a brincadeira? Como é a infraestrutura? Tem áreas de lazer? Tem projetos e atividades extracurriculares?

Formação garantida

É preciso estar certo de que todos os professores da instituição já são formados. Muitas escolas têm profissionais que ainda cursam a graduação.

Plano B

O docente e a escola têm de ter uma estratégia para lidar com situações não rotineiras. Por exemplo: se seu filho não acompanhar ou não entender os conteúdos, qual a estratégia existente? E se ele tiver um desempenho muito acima dos outros alunos, como será incentivado?

Tem de participar

Reunião de pais é só o começo. Em casa, é preciso conversar com os filhos e verificar quais as dificuldades encontradas e levá-las aos professores.

Fontes: Arleandra Cristina Talin do Amaral, professora do curso de Pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP); Esther Cristina Pereira, psicopedagoga diretora de ensino fundamental do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe).

Adaptação

O primeiro bimestre é determinante para saber como será o ano letivo do aluno. Alguns comportamentos podem ser um sinal de que a adaptação não está indo bem.

Reações que não significam problemas

Ansiedade na véspera ou uma semana antes das aulas começarem.

Dificuldades para dormir ou acordar nos primeiros dias.

Perda de apetite durante a primeira ou segunda semana.

Estranhamento inicial com os conteúdos ensinados ou com a quantidade de tarefas.

Comportamentos que exigem atenção extra

Não conseguir fazer parte de um grupo e isolar-se em casa ou na escola.

Roer as unhas.

Tornar-se agressivo com os pais, professores ou colegas de sala.

Demonstrar insatisfação ou tristeza continuamente por não conseguir fazer atividades passadas em sala de aula.

Fonte: Maria de Fátima Minetto, pesquisadora e professora do curso de Psicologia da Faculdade Evangélica do Paraná.

  • Desde os seis meses na mesma escola, Ana Julia , 6 anos, ainda estranha a mudança de escola e da série
  • Camila Savaris já entra no ensino médio decidida quanto à profissão que quer seguir

Material arrumado, uniforme com cheiro de novo e um mundo de preocupações. Se o primeiro dia de aula é uma data marcante para qualquer aluno, a ansiedade é ainda maior quando esse dia representa o início de uma nova fase escolar, como a entrada no ensino fundamental ou a passagem para o ensino médio. Nesse caso, as mudanças são bem maiores do que simplesmente conhecer novos colegas e professores ou mudar de sala.

"São etapas muito significativas. Parece que, em um piscar de olhos, a criança tem de virar adulta. Quando ela sai da educação infantil, por exemplo, deve parar de brincar em sala de aula", diz Evelise Portilho, professora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Da 4ª para a 5ª série – do 5º para o 6º ano do ensino fundamental de nove anos –, as responsabilidades aumentam junto com o maior número de matérias, mais professores e mais tarefas. No ensino médio, a demanda pela escolha profissional exige amadurecimento.

Para Maria de Fátima Minetto, psicóloga e professora da Faculdade Evangélica do Paraná (Fepar), a passagem por todas essas etapas sempre resulta em alguma ansiedade. "Qualquer mudança no ciclo vital tem elementos que geram estresse. Sem isso, não existe amadurecimento. Conforme o meio social, a qualidade da escola e os relacionamentos familiares, a ansiedade pode ser maior ou menor", explica.

Biologicamente, as crianças de 6 ou 10 anos e os adolescentes de 14 anos estão prontos para novos desafios. O início de uma fase escolar coincide com etapas do desenvolvimento cognitivo. "De 5 a 7 anos, as crianças começam a perder os dentes, um sinal de que nosso corpo está amadurecendo e de que estão prontas para receber mais conhecimento", afirma Maria de Fátima. Aos 10 anos, o indivíduo já consegue perceber as consequências dos seus atos. E aos 14 anos tem início a vida sexual, as escolhas pessoais e o enfraquecimento do vínculo com a família.

A estudante Camila Savaris, 14 anos, terminou o ensino fundamental no ano passado e optou por cursar o magistério. Além de sair da escola que estuda desde os 2 anos, Camila adiantou parte da decisão profissional. "Desde a 5ª série penso em estudar Magistério, mas já mudei de idéia de seguir carreira e fazer Pedagogia. Nem por isso desisti do Magistério porque acho que terei uma formação mais completa. Vou me preparar para o vestibular e ainda terei uma alternativa profissional", comenta.

Se na passagem para o ensino médio ela não teve grandes problemas, a entrada na 5ª série foi mais complicada. "Eu era criança e, de repente, não era mais. As meninas se juntam em grupos para falar de meninos, começam a ter namoradinhos proibidos", lembra. As notas da sala toda despencaram na época. "Foi quando tirei a minha primeira nota vermelha. Só no fim do ano as coisas voltaram ao normal."

Recomeço difícil

"Ela diz que ainda tem 5 anos e quer continuar na mesma escola", conta Juliana Danielewicz Kruger, mãe de Ana Julia, 6 anos. Desde os seis meses de idade a menina estuda na mesma instituição de educação infantil. "Agora ela vai entrar em um colégio maior, que tem até o ensino médio. Tenho medo de ela não se adaptar, não conseguir acompanhar", conta.

Seja pelo aumento no número de matérias, pela maior cobrança nos deveres de casa ou mesmo pelas provas, as séries de transição acabam sendo mais difíceis para os alunos. Não é à-toa que esses são os anos em que as taxas de reprovação são mais altas, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação. Na 1ª série, por exemplo, a taxa de reprovação foi de 16,1% em 2005, números mais recentes. Nas outras séries iniciais do ensino fundamental, o índice fica em 12%. A 5ª série é o ano em que a taxa de reprovação é a maior de toda a educação básica: 16,5%. O índice volta a ser menor nas séries posteriores e dá um salto na entrada do ensino médio, em que, segundo a pesquisa, 14,8% dos alunos ficaram retidos.

"A maior dificuldade nem é com o conteúdo, mas sim com o planejamento. As atividades aumentam e os alunos têm de reaprender a organizar o tempo, se dividir em mais disciplinas ou a fazer mais tarefas", explica Sonia Küster, psicopedagoga presidente da Associação Paranaense de Psicopedagogia – Seção Paraná Sul.

Se os alunos têm de correr atrás de soluções, os professores devem contribuir para que a transição seja menos brusca, tanto na série anterior à mudança quanto nos primeiros bimestres da nova fase. "Precisamos buscar brechas, encontrar momentos em que os conteúdos possam ser transmitidos de uma forma mais lúdica. Cada um reage de uma maneira. O professor precisa cumprir um conteúdo, mas tem de estar preparado para lidar com alunos em diferentes estágios", comenta Arleandra Cristina Talin do Amaral, professora de Pedagogia e pesquisadora da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).

Mais tempo para crescer

Com o caderno de dez matérias já comprado, Bernardo Klein, 10 anos, diz estar preparado para entrar na 5ª série. "Espero que seja bem legal. Vai ser mais difícil, mas não estou com medo", diz. Para Maria Elizabeth Fernandes Klein, mãe de Bernardo, a tranquilidade de seu filho (e dela também) foi alcançada graças a um projeto de adaptação desenvolvido na escola onde ele estuda.

"Desde a metade do ano passado as crianças já começaram a ser preparadas para a mudança e as orientadoras conversaram conosco, que entendemos o processo. Eu, que estava muito apreensiva, com medo de que ele não acompanhasse, consegui ficar mais tranquila", conta.

A ideia do projeto foi de Cristiane Sliza, orientadora educacional das séries iniciais do Colégio Dom Bosco. As crianças da 4ª série passam a ter o mesmo horário de recreio da 5ª série, têm contato com os professores e participam de encontros com os alunos mais velhos para esclarecer dúvidas. "Antes, os estudantes tinham muita ansiedade e percebíamos a necessidade de um trabalho como esse. Hoje, poucas crianças da 5ª série têm dificuldades de adaptação", afirma a pedagoga.

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