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Crianças com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) enfrentam dificuldades específicas para aprendizagem, mas uma abordagem inovadora oferece possibilidades de melhoria no desenvolvimento. Um estudo da pesquisadora Ana Maria Gonzalez-Barrero, doutora em linguística pela Universidade McGill, em Montreal, Canadá, aponta o bilinguismo como uma possibilidade de melhoria no desenvolvimento de crianças com autismo.

“Existe uma crença comum e equivocada de que o bilinguismo pode ser muito desafiador para crianças com TEA, e os pais de crianças com TEA que vivem em um contexto bilíngue geralmente são aconselhados a usar apenas um idioma ao se comunicar com o filho”, diz.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, Ana Maria Gonzales-Barrero explica porque essa concepção é equivocada e os benefícios do bilinguismo para crianças com autismo.

Quais são as maiores dificuldades para os indivíduos com autismo? Até onde eles melhoram com o bilinguismo?

Uma das áreas em que indivíduos com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) tendem a ter dificuldades é a flexibilidade cognitiva. A flexibilidade cognitiva está relacionada à capacidade de mudar a abordagem da pessoa para resolver um problema ou adotar uma perspectiva diferente sobre uma situação.

Curiosamente, a flexibilidade cognitiva é uma das áreas que pesquisas anteriores mostraram ser aprimoradas em bilíngues em desenvolvimento típico (pessoas que não têm TEA). Em nossa pesquisa, tentamos responder à pergunta se se o bilinguismo pode ajudar nessa área de dificuldade para crianças com TEA – não esperávamos uma mudança nos próprios sintomas do autismo.

Nossos resultados mostram que pode haver algumas melhorias em tarefas laboratoriais de flexibilidade e generatividade*, mas isso precisa ser prosseguido com mais pesquisas.

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Houve alguma mudança na vida cotidiana de crianças com autismo? As melhorias também se aplicam ao desempenho e desenvolvimento escolar?

Em nosso estudo, medimos a flexibilidade cognitiva de duas maneiras: com uma tarefa de flexibilidade cognitiva computadorizada (em que as crianças tinham que classificar uma imagem primeiro por cor, em seguida alternando e classificando-a pela forma) e uma medida de desempenho executivo na vida diária.

Descobrimos que os bilíngues tiveram um desempenho melhor do que os monolíngues com TEA na tarefa de flexibilidade cognitiva computadorizada. No entanto, bilíngues e monolíngues com TEA não diferiram no questionário dos pais sobre a flexibilidade cognitiva na vida diária, por isso não observamos mudanças nesse aspecto. Seria importante conduzir estudos longitudinais para examinar se as vantagens bilíngues observadas no laboratório também podem ser observadas na vida cotidiana.

Qual era o perfil das crianças no estudo (idade, nível educacional, status socioeconômico)? O estudo se aplica a outros perfis de crianças com autismo?

Nosso estudo foi realizado em Montreal, Quebec, Canadá, uma cidade onde o bilinguismo é uma prática comum. Os participantes do nosso estudo foram crianças em idade escolar (entre 6 e 10 anos de idade) com TEA sem deficiência intelectual, que estavam crescendo em um contexto monolíngue ou bilíngue.

Outros estudos são necessários para verificar se os mesmos resultados são válidos se as crianças apresentarem deficiência intelectual ou atrasos graves na linguagem, bem como se nossos resultados se generalizam para outras situações de bilinguismo em outros países.

Aprender uma segunda língua no sentido tradicional (não adquirir duas línguas no começo da infância, como acontece com indivíduos bilíngues) também ajuda indivíduos com autismo?

Essa é uma ótima pergunta. Não temos conhecimento de estudos publicados que investigaram essa questão em crianças com TEA, mas essa é uma área crescente de pesquisa, então, provavelmente, nos próximos anos, alguns estudos podem lançar luz sobre essa possibilidade.

O que as escolas e os pais podem fazer para ajudar esses desenvolvimentos em crianças com autismo?

Existe uma crença comum de que o bilinguismo pode ser muito desafiador para crianças com TEA, e os pais de crianças com TEA que vivem em um contexto bilíngue geralmente são aconselhados a usar apenas um idioma ao se comunicar com o filho. Os achados de nossos estudos, assim como outros estudos, sugerem que o bilinguismo não é prejudicial para o desenvolvimento da linguagem de crianças com TEA.

Assim, os pais de crianças bilíngues com TEA não devem ser aconselhados a criar seus filhos monolíngues, mas em vez disso tentar fornecer para a criança uma boa qualidade e quantidade de informações nos dois idiomas. As escolas também devem apoiar os pais nessa decisão, mostrando respeito às decisões dos pais e, quando possível, tentando fomentar as habilidades linguísticas da criança bilíngue em ambos os idiomas.

* A capacidade de criar, conquistar, ser produtivo.

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