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De forma lúdica, a professora Sônia Domingues, da Escola Municipal Paulo Freire, em Curitiba (PR), alerta os seus alunos dos 4º e 5º anos do Ensino Fundamental sobre a importância de conhecer as fontes das informações por meio da leitura. |
De forma lúdica, a professora Sônia Domingues, da Escola Municipal Paulo Freire, em Curitiba (PR), alerta os seus alunos dos 4º e 5º anos do Ensino Fundamental sobre a importância de conhecer as fontes das informações por meio da leitura.| Foto:

Desde a corrida eleitoral que levou Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos (EUA), em 2016, o termo fake news (notícias falsas, em inglês) se tornou extremamente popular em todo o mundo. 

Durante a campanha americana, a internet foi bombardeada com notícias inverídicas: análise feita pelo BuzzFeed News sugere que as histórias falsas tiveram mais alcance do que as informações vindas de grandes jornais, como o The New York Times e o Washington Post

No Brasil, a situação não é muito diferente. Um levantamento feito pela Universidade de São Paulo (USP), em 2017, concluiu que cerca de 12 milhões de pessoas compartilharam fake news sobre política no Brasil

Nesse sentido, o combate à divulgação de informações falsas também é papel das escolas. Não é à toa que, em 2017, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propôs o conteúdo educação midiática; o documento estabelece que alunos dos ensinos infantil e fundamental devem desenvolver a habilidade de lidar de maneira crítica com as notícias. 

Algumas instituições de ensino têm investido em conversas e atividades para preparar os estudantes para o uso responsável da internet. Abaixo listamos quatro dessas atividades que ajudam as crianças e adolescentes a formarem um senso crítico sobre o que o leem e o que ouvem. 

1. Criação de suas próprias fake news 

O professor de geografia, Ricardo Cassab, estava trabalhando o continente europeu com os alunos do 9º ano do Colégio Positivo, de Curitiba (PR). Ao perceber que muitos estudantes consumiam e divulgavam informações falsas na internet, o docente, com a ajuda do colega Wilson Guth, propôs uma atividade: os estudantes deveriam buscar três notícias verdadeiras, em sites diferentes, sobre o mesmo assunto (que envolvesse política e economia da Europa). 

Depois disso, os adolescentes deveriam buscar em sites duvidosos a mesma informação, porém divulgada de forma equivocada. 

“Fizemos uma comparação dessas notícias em sala de aula, tentando encontrar similaridades e diferenças. Analisamos o que foi explorado pelo autor das fake news, que tipo de público ele queria alcançar ferindo a verdade, entre outros aspectos. Também investigamos como uma única informação pode ser divulgada de forma diferente mesmo em sites confiáveis”, explica Cassab. 

Feita essa análise inicial, a atividade partiu para uma segunda etapa. Dessa vez, os próprios alunos produziram notícias inverídicas sobre os temas explorados e distribuíram essas informações em sala de aula, em meio a matérias verdadeiras. O objetivo era fazer com que outros estudantes identificassem quais informações eram as reais. O resultado do exercício extrapolou os muros da escola. 

LEIA TAMBÉM: Como combater as fake news em sala de aula?

“Essa atividade gerou um movimento dentro das casas. Um dos meus alunos jogou uma notícia falsa, criada por ele, em um grupo de WhatsApp de sua família. Imediatamente, a avó dele acreditou, falou mal da informação e não verificou a fonte. O próprio link da matéria tinha sido inventado pelo estudante”, conta. 

2. “É verdade esse bilhete” 

De forma lúdica, a professora Sônia Domingues, da Escola Municipal Paulo Freire, em Curitiba (PR), alerta os seus alunos dos 4º e 5º anos do Ensino Fundamental sobre a importância de conhecer as fontes das informações por meio da leitura, jogos e brincadeiras. 

Uma das atividades é o “júri simulado”, em que as crianças devem “julgar” se uma notícia é falsa ou verdadeira. 

“Pegamos o meme do garotinho que mandou um bilhete falso para a mãe falando que não haveria aula no dia seguinte e fizemos um tribunal. Tinha advogado de defesa, acusação, testemunhas. O objetivo dos exercícios é estimular os alunos a refletir e a encontrar formas de checar as informações, utilizando o computador, artigos, vídeos e outros”, explica Sônia. 

Para aumentar o interesse dos alunos pelo tema, a professora criou uma personagem, a Penélope Lero-Lero, que alerta os alunos sobre o perigo das fake news. Além disso, as crianças disseminam o que aprenderam por meio do sistema de som da escola, alcançando, assim, todos os estudantes da instituição. 

Uma das atividades é o “júri simulado”, em que as crianças devem “julgar” se uma notícia é falsa ou verdadeira. Divulgação.

3. Enganar para aprender 

Para estimular o senso crítico dos alunos do 3º ano do ensino médio do Colégio pH, no Rio de Janeiro (RJ), o coordenador de português e redação, Thiago Braga, precisou enganar os adolescentes. 

Em sala, ele veiculou um vídeo da ONG americana Invisible Children* (Crianças Invisíveis, em inglês) que mostra crianças vítimas de um chefe guerrilheiro em Uganda, na África. Para combater o abuso contra meninos e meninas africanas, a ONG pede ajuda financeira às pessoas de todo o mundo. 

“Os alunos ficaram muito emocionados após a exibição do vídeo. Eles perguntaram como poderiam ajudar e o que poderiam fazer por essas crianças”, conta o professor. 

O grande problema é que diversos defensores dos direitos humanos já afirmaram que o vídeo, que viralizou em 2012, é oportunista. De acordo com pesquisadores, a situação mostrada no filme, de fato, existiu, mas há dez anos (ou seja, por volta de 2002). 

“Como meus alunos têm hoje 17 anos, eles não se lembravam desse caso. Depois de mostrar o documentário, coloquei uma matéria do Fantástico, da Rede Globo, em que especialistas explicam que a história é antiga. Eles ficaram completamente arrasados por terem sido enganados. Criei essa situação para mostrar aos adolescentes como temos que ter senso crítico, refletir e questionar tudo o que vemos na internet e em outros canais”, diz o professor. 

Para Braga, as atividades feitas em sala de aula aumentam a atenção dos alunos em relação às notícias. “Agora, eles trazem um monte de fake news para discutirmos na escola. Analisamos porque aquela informação merece a nossa desconfiança, observando critérios como formatação, data da matéria e fonte”. 

4. Parceria com jornalistas 

Os alunos do 3º ano do ensino médio do Colégio Estadual Euzébio da Motta, em Curitiba (PR), se organizam para realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no próximo mês. Uma das atividades de preparação tem a ver com as fake news.

Talita Brasileiro e Lais Tobias de Carvalho, estudantes de jornalismo da Universidade Positivo, ministraram oficinas para os alunos se prevenirem contra as informações falsas. 

A diretora do colégio, Olinda de Godoi Ribeiro, explicou que as oficinas duraram dois meses. Durante esse período, os jornalistas convidados ajudavam os estudantes a identificar notícias duvidosas. 

“Eles sempre mostravam duas notícias, uma verdadeira e outra falsa. Todo o trabalho fazia com que os adolescentes fossem estimulados a analisar aquelas informações, percebendo falhas, identificando erros de português, verificando fontes. Foi muito bacana”, conta Olinda.  

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