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Uma das visitas da Barca das Letras a comunidade ribeirinha | Arquivo pessoal
Uma das visitas da Barca das Letras a comunidade ribeirinha| Foto: Arquivo pessoal

Volta e meia o servidor público federal Jonas Banhos recebe em Brasília uma correspondência de uma cidade ribeirinha da Amazônia. O contato geralmente faz um pedido: a visita dele a determinada comunidade isolada em meio aos rios da região. 

A ida de Banhos à Amazônia tem um motivo: uma biblioteca itinerante, a Barca das Letras, iniciativa que completou dez anos em 2018. A proposta leva livros e gibis para populações que vivem à beira dos rios amazônicos e que nunca tiveram acesso a leituras diversificadas. 

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Ao longo desse tempo, 70 comunidades ribeirinhas foram visitadas em 50 municípios do Amapá e Pará. Além disso, a distribuição gratuita de leituras alcançou 70 mil exemplares. 

Origens

De acordo com Jonas, o projeto surgiu de uma inquietação pessoal de ajudar as pessoas da região de onde é nativo. Nascido no quilombo Nossa Senhora de Piedade, à margem do Rio Macacoari, no Amapá, o servidor público está há muito tempo em Brasília. 

A biblioteca foi colocada em prática em 21 de abril de 2008 após dois anos amadurecendo a ideia. Para poder colocar o pé na estrada, Banhos precisou tirar duas licenças de três anos do emprego público federal em Brasília. 

“Tirei licença do meu emprego em Brasília por três anos sem remuneração e mergulhei de cabeça no projeto que havia pensado, com divulgação, visita às comunidades e mobilização pessoas para construirmos algo juntos”, conta. 

No início Jonas precisou superar muitas dificuldades em várias frentes. A primeira foi a arrecadação de livros. Depois, a mobilização de voluntários. Em seguida veio a logística no meio da selva, caracterizada por estradas e trilhas sem conservação, preço de insumos elevados e difícil acesso por rios e igarapés.

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Mesmo após dez anos percorrendo o interior amazônico, os desafios ainda cercam o projeto, que depende doações de livros, passagens aéreas e iniciativas voluntariadas. 

“Não conseguíamos pessoas que se engajassem, diferentemente de hoje. Nem todo mundo acredita em uma ideia que não é sua. É muito caro fazer uma expedição desse porte. Precisa de carro, lancha e combustível. Dormia na casa dos moradores. Foram sete dias dentro da floresta”, comentou. 

Hoje

A Barca das Letras vive de doações de livros e financeira de pessoas que se sensibilizam com a iniciativa. Nas comunidades, também há pontuais auxílios do poder público e classe empresarial. Porém, grande parte do dinheiro usado nas expedições sai do bolso do seu idealizador. 

“Já é caro fazer cultura na Amazônia na cidade, e muito mais no interior. É necessária uma infraestrutura que é feita por você mesmo devido a estradas precárias e acessos impraticáveis”, frisa Banhos. 

Atualmente, a sede administrativa da Barca das Letras está em Brasília. Nesse tempo em atividade, a biblioteca conquistou os prêmios  do Ministério da Cultura "Tuxaua Cultura Viva", em 2010, e "Leitura para Todos: projetos sociais de leitura", em 2014. Em 2017, aprovou dois projetos culturais para captação de recursos por meio da Lei Rouanet. A melhor recompensa, porém, não veio através dos troféus. 

“Desde a primeira comunidade, quando mostrei os gibis para as crianças e elas abriam os olhos em minha direção, vi que o projeto daria certo. Minha vida ganhou outro rumo. A Barca das Letras é como se fosse minha filha. Vivo basicamente em função dela”, conclui Jonas.

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