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Problemas relacionados à saúde mental adquiriram, nos últimos anos, características de uma epidemia. Apesar de não serem transmissíveis,  transtornos psicológicos e de desenvolvimento como dislexia, ansiedade e déficit de atenção com hiperatividade têm se tornado mais comuns. A sala de aula é a origem de uma parcela significativa desses diagnósticos. 

O transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), por exemplo, é definido como inquietação, hiperatividade e dificuldade de manter a atenção. Em grande parte dos casos, esses sintomas são percebidos na escola, onde a concentração de diversas crianças leva a um comportamento mais inquieto. 

“Se há dificuldade de aprendizado, a criança é rapidamente diagnosticada com TDAH. Muitas vezes, ela não tem nada, e os problemas de aprendizado estão relacionados à política educacional do país e à falta de qualidade de muitas escolas. Um problema coletivo pode ser transformado em um problema pessoal”, pondera a professora Maria Aparecida Affonso Moysés, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 

O aumento de diagnósticos vem acompanhado de um alto número de tratamentos com medicamentos, sem o auxílio de terapia que possa amenizar os sintomas. Apenas 25% dos estudantes americanos diagnosticados com transtorno de déficit de atenção recebem terapia comportamental. A maioria dos casos é tratada exclusivamente com medicamentos, o que, de acordo com a comunidade científica, deveria ser um recurso utilizado em último caso

Diagnósticos controversos 

Um das controvérsias é que os diagnósticos não são realizados de modo físico; ou seja, não existe uma marca no organismo do paciente que indique a existência de um transtorno psicológico ou de comportamento. Geralmente, o que ocorre é uma avaliação dos padrões comportamentais dos pacientes. No caso do TDAH, sintomas que indiquem hiperatividade e dificuldade de concentração podem ser suficientes para o diagnóstico.

O diagnóstico de dislexia é feito quando há dificuldade de leitura em crianças em fase de desenvolvimento dessa habilidade. Entretanto, o próprio transtorno é definido como uma dificuldade ou incapacidade de desenvolver habilidades de leitura – ou seja, o diagnóstico é o sintoma. “Crianças que simplesmente se distraem e não prestam atenção agora são diagnosticadas com TDAH e tratadas com medicamentos”, aponta Matthew Smith, professor da University of Strathclyde.

Consequência do meio 

Com parâmetros pouco precisos, a alta incidência de diagnósticos de transtornos mentais pode ser uma consequência do modo como os pais e educadores reagem aos problemas de comportamento das crianças, sobretudo quando eles aparecem na sala de aula. 

Na Finlândia, onde o sistema educacional leva os alunos a ocuparem as posições mais altas em rankings mundiais de desempenho, apenas 0,12% das crianças em idade escolar tomam medicamentos para déficit de atenção. Lá, a educação é voltada para o bem-estar e o desenvolvimento individual dos estudantes, com menor influência de demandas padronizadas para o ensino.

O cenário é diferente nos EUA: em 2011, 6,1% das crianças entre 4 e 17 anos receberam tratamento para TDAH com medicamentos estimulantes, como a Ritalina, de acordo com dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

Cenário nacional 

O Brasil acompanha a tendência norte-americana, com um aumento 775% na venda de estimulantes entre 2003 e 2012, segundo levantamento do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). 

A epidemia de diagnósticos se agrava quando eles são feitos por professores e educadores, sem uma triagem por profissionais de saúde. No caso da dislexia, é recorrente professores observarem na criança uma dificuldade para ler e compreender textos e apontarem aos pais a possibilidade do transtorno. 

“Para evitar erros e obter um diagnóstico confiável, é preciso uma avaliação interdisciplinar com neurologista, neuropsicólogo, psicopedagogo e fonoaudiólogo. Outros fatores podem dificultar a leitura, até mesmo problemas simples de visão”, diz Rita Martins, Psicanalista e mestre em Psicologia. 

O papel da escola 

Estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI) aponta que os professores se amparam em diagnósticos, muitas vezes equivocados, que acabam limitando o aprendizado

“É notório que os educadores são carentes de informações acerca desse distúrbio neurobiológico que é a dislexia, que são apresentadas pelos docentes classificações de senso comum, julgamentos equivocados, que vem dificultando o processo de ensino e aprendizagem”, dizem os pesquisadores. 

Para evitar diagnósticos equivocados, a fonoaudióloga do Grupo Hospitalar Conceição, vinculado ao Ministério da Saúde, Andréa Ortiz Correa, indica que os pais procurem um profissional da saúde para avaliação dos seus filhos. “Nem todo mundo com dificuldade para ler e escrever é disléxico, assim como nem todo disléxico apresenta todos os sintomas”, explica.

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