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Discutir o Sistema Único de Saúde (SUS) como parte fundamental da formação dos acadêmicos de Medicina é a proposta do 47.º Congresso Brasileiro de Educação Médica (Cobem), que ocorre entre hoje e terça-feira em Curitiba. Serão 3,2 mil pessoas de todo o país discutindo como o SUS pode ajudar na humanização e melhoria na qualidade da profissão. O debate ocorre em um momento crítico para os futuros profissionais. Hoje, no Paraná, um terço dos estudantes corre o risco de ficar sem residência médica, já que se formam todos os anos 860 alunos e há apenas 600 vagas.

Atualmente 70% da população depende exclusivamente do SUS para ter acesso à saúde e quase 100% dos procedimentos complexos, como cirurgias do coração, também ocorrem deste modo. Grande parte dos médicos recém-graduados atua na rede pública, portanto uma formação de qualidade garante também uma rede pública mais eficiente. Para especialistas, ter o SUS como escola traz ganhos tanto para os acadêmicos quanto para a sociedade.

A presidente do Cobem 2009, a pediatra Patrícia Tempski, diz que participando do cotidiano do SUS o acadêmico conhece uma realidade diferente dos bancos universitários. "A sociedade também precisa de médicos generalistas, que costurem as especialidades. E a rede pública pode oferecer isso", afirma. Patrícia argumenta que aprimorando a formação de base, todo o sistema vai melhorar. Para o coordenador do curso de Medicina da Univer­­sidade Positivo, Ipojucan Calixto Fraiz, a formação médica deve ser dentro do SUS porque ele re­­presenta o Brasil. "Sem isso, o aluno não terá condições de atender a população brasileira", argumenta.

Desde a sua constituição, o SUS previa também ser um modelo de ensino. Mas isso ocorria apenas nos grandes hospitais. Agora, com a descentralização do sistema e a criação de unidades de saúde e unidades de média complexidade, professores, médicos e estudantes têm o desafio de se adaptar a essa nova realidade. Algumas universidades já conseguiram, mas a grande maioria ainda esbarra muitas vezes na própria desarticulação da rede em seus municípios. Curitiba é tida como um dos raros bons exemplos.

Tendo contato com o SUS desde o primeiro período, o estudante conhece a medicina de família, prevenção e não apenas tratamento, além de aprender um atendimento individualizado e focado nas pessoas. Como parte do currículo, o aluno precisa fazer um estudo sobre a comunidade que vai atender, participa do cotidiano das famílias e tem uma formação generalista de qualidade.

Diretora adjunta do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Lídia Zytynski Moura explica que os estudantes sempre tiveram boa parte de sua formação no SUS, mas com o aumento da rede, as universidades precisam se adaptar. "Se o acadêmico não conhecer a unidade de saúde, nunca vai ver um paciente com gripe, porque ele não chega ao hospital. Há uma triagem. E levar uma sala de aula para esse espaço é o grande desafio, porque é pensar em ética e logística."

A professora da Faculdade Evangélica Lívia Sissi Gonçalves Souza vive essa realidade em sala de aula. Com as disciplinas de Saúde Coletiva, ela consegue mostrar que o SUS pode, sim, ser melhorado e que isso também depende dos profissionais que nele atuam. Nas 11 cadeiras sobre o tema no curso, os estudantes têm contato com as comunidades e participam do dia a dia das unidades de saúde. "Paciente eternamente particular não é uma realidade. O aluno tem de entender as necessidades, estratégias e possibilidades que o sistema permite", diz a professora.

O estudante do terceiro período de Medicina da Evan­gélica Lucas Wagner Gortz teve a oportunidade de quebrar preconceitos com as disciplinas de Saúde Coletiva. "Entramos no curso com uma visão equivocada. O mais interessante dessa abordagem é que aprendemos a trabalhar a saúde e bem-estar e não somente a doença", diz.

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