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“Existe um novo leitor entrando no mercado. É nosso papel escrever para eles, até como forma de devolver à sociedade o que ela investe em educação.” | Marcelo Elias/Gazeta do Povos
“Existe um novo leitor entrando no mercado. É nosso papel escrever para eles, até como forma de devolver à sociedade o que ela investe em educação.”| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povos

O jornalista e escritor paranaense Laurentino Gomes passou por Curitiba, em uma palestra aberta ao público nas Faculdades In­­tegradas do Brasil (Unibrasil), para falar com estudantes e professores não só sobre seus dois grandes sucessos, mas também sobre uma nova forma de ensinar e aprender História. Depois de atingir 1 milhão de leitores no Brasil e Portugal com livros que tratam sobre a vinda da família real portuguesa ao Brasil, 1808, e o processo de Indepen­dência, 1822, o escritor se prepara pa­­ra lançar, em maio, a versão juvenil da segunda obra. A da primeira foi publicada em 2008 e alcançou milhares de estudantes em todo país. Confira a entrevista dada à repórter Anna Simas.

Como surgiu a ideia de fazer uma versão juvenil dos livros?

Comecei a pensar neste formato por uma demanda de pais e professores logo depois do lançamento do 1808. Eles me diziam que o livro tinha uma linguagem bem acessível, mas que sabiam que os filhos e estudantes não leriam as 400 páginas.

Quais foram as adaptações?

Para reduzir o texto tirei o que chamo de conteúdo acessório. Tem um personagem que é o âncora da narrativa, que é o arquivista real. Ele é importante no 1808, mas consigo contar bem a história sem ele. Também retirei algumas partes delicadas, como por exemplo a insinuação de uma suposta relação homossexual de dom João VI. Um leitor adulto vai entender perfeitamente esse contexto, mas eu achei que não seria adequado para o estudante criança e adolescente. Outra mudança foi a imagem. Usei ilustrações da artista plástica Rita Brugger.

Essas alterações não prejudicaram o conteúdo do livro?

De forma alguma interferem no objetivo pedagógico, que é contar por que a corte veio ao Brasil e como o país estava nesta época. O mesmo vale para o 1822, que fa­­la do processo de Inde­pendência. Nos dois casos, quem fez a adaptação foi o Luiz Antônio Aguiar, que é um escritor especializado em literatura juvenil.

Além da versão juvenil, existe o ma­­terial multimídia dos livros. É uma outra proposta de linguagem?

Daqui para frente jornalistas, professores e historiadores precisam pensar em novos formatos para atingir todos os tipos de público. O motivo é simples: a sociedade está se fragmentando. A prova disso são as mídias so­­ciais. Então criamos uma versão interativa em CD e um áudio-livro para deficientes auditivos e para quem passa muito tempo no trânsito.

E como foi o retorno dos estudantes e professores depois do lançamento da versão juvenil?

Muitos estudantes entraram em contato comigo contando que gostaram tanto que acabaram lendo a versão adulta. Mas tem também um outro fenômeno curioso que é o ca­­minho inverso. Dei autógrafo para muito homem barbado que estava comprando a versão juvenil.

Você acredita que o ponto crucial que fez seus livros atraírem tantos leitores é a linguagem?

Acho que sim. Nós temos hoje um desafio de linguagem no Brasil porque vivemos uma experiência inédita, a democratização do ensino, que sempre foi de uma elite. Então temos também de democratizar a informação, principalmente a que é produzida nas universidades e que são financiadas pelo dinheiro do contribuinte. Mas para levar esse conhecimento às ruas é preciso ser mais didático, já que é um público novo, que não tem uma sofisticação intelectual e que antes tinha a televisão como sua única janela para o mundo.

Se os professores usassem uma linguagem mais atraente em sala de aula eles também chamariam mais a atenção dos estudantes, assim como seus livros fazem?

Esses dias eu falei com um professor e disse que ele precisava usar uma linguagem mais didática, jogar luz nos personagens, ter uma visão mais abrangente da História, ao invés de segmentá-la como História do Paraná, do Brasil e Geral. Ele concordou comigo, mas fez uma boa observação. Disse que se ensinasse desse jeito comprometeria a avaliação do aluno na prova do colégio, no Exame Nacional dos Estudantes (Enem) e no vestibular, que ainda cobram a forma tradicional.

Se ainda não é possível que os professores mudem, de que forma seu trabalho pode contribuir ?

Não tenho nenhuma ilusão de que vou mudar a História ou ensinar a estudá-la de outro jeito, mas posso ajudar alunos e professores a entenderem um contexto que não está nos livros didáticos. Claro que não recomendaria que um estudante lesse meus livros e saísse correndo fazer a prova do Enem, mas se ele ler também o didático poderá ter uma visão diferente, menos engessada.

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