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Para Antoninho Caron, o conhecimento adquirido na universidade deve ser aplicado em benefício da sociedade. | Marcelo Andrade / Gazeta do Povo
Para Antoninho Caron, o conhecimento adquirido na universidade deve ser aplicado em benefício da sociedade.| Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo

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Recém-formada quer garantir mesma oportunidade a outros

Aniele Nascimento / Gazeta do Povo

A médica Priscilla do Carmo Gozzo, 25 anos, tem muito a agradecer pela educação obtida e cumpre seu dever com dedicação rara. De origem humilde, ela morou com a família em Cuiabá (MT) até 2007, quando obteve uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni), que custeou 100% do curso de Medicina na PUCPR. Durante o período de estudo, viveu no Lar da Acadêmica de Curitiba (LAC), uma casa estudantil que acolhe em torno de 40 universitárias.

Como o LAC é autônomo e não recebe verba pública, a estrutura está desgastada e precisa de reformas urgentes. Atenta a essa necessidade, Priscilla fez um curso de empreendedorismo social e agora está movimentando ex-moradoras da casa a se unirem e restaurarem o local. "Faço isso por gratidão. Eu consegui realizar meu sonho de ser médica e quero que outras meninas, que talvez passem pelas mesmas dificuldades que passei, também tenham essa oportunidade", afirma Priscilla.

A consciência social da médica não surgiu somente após a formatura. Enquanto acadêmica da área de saúde, a jovem médica participou como voluntária de missões sociais organizadas pela universidade em comunidades carentes de Guaraqueçaba e Almirante Tamandaré. Até na escolha da especialidade médica que seguirá, a compaixão pesou mais do que as possibilidades de ganho financeiro. "Durante muito tempo eu planejei seguir a área da cirurgia, mas, quando a formatura se aproximou, notei que a medicina da família e comunidade tinha mais a ver comigo". Hoje, Priscilla atende em uma unidade de saúde do município de Campo Largo. (JDL)

O plano do governo federal de estimular recém-formados – que garantiram o diploma graças ao financiamento público estudantil (Fies) – a darem um retorno à sociedade a partir do conhecimento adquirido nas universidades não engrenou. A possibilidade aberta a médicos e professores licenciados de abater parte da dívida com trabalho em áreas carentes ou na rede pública de ensino não desperta interesse. Desde 2010, quando o Fies foi reformulado, somente 16 médicos e 55 docentes em todo o país aderiram ao sistema, total que representa 0,005% de todos os contratantes do Fies no período.

Regido pela Lei 12.202/2010 e gerido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o programa permite aos médicos que recorreram ao Fies durante a faculdade o abatimento de 1% da dívida para cada mês de trabalho em um dos 2.282 municípios carentes estipulados pelo Ministério da Saúde, contanto que complete pelo menos um ano de trabalho ininterrupto na localidade. No caso dos professores, o benefício funciona da mesma forma, mas é válido àqueles que atuarem na rede pública de qualquer cidade.

A falta de interesse no sistema de abatimento revela que o benefício não é suficiente para atrair recém-formados a regiões e setores onde a mão-de-obra desses profissionais é mais necessária. Segundo o reitor da Universidade Positivo (UP), José Pio Martins, especialmente no caso dos médicos, trabalhar no interior é um desafio que afugenta muitos profissionais, já que as condições de trabalho frequentemente são precárias. Na UP, 22% dos acadêmicos de Medicina contam com o Fies, mas a instituição não tem informação se algum deles faz parte do pequeno grupo de 16 médicos que escolheu pagar o financiamento com o trabalho.

Em relação aos professores, o baixo número de docentes que adere ao sistema seria consequência da pequena procura por licenciaturas em instituições privadas. "Só faz licenciatura numa universidade particular quem não passa numa universidade pública. O interesse dos jovens pela docência caiu muito e, mesmo nas instituições públicas, ficou fácil ser aprovado e estudar de graça, sem necessidade de financiamento", diz Martins.

Na opinião do reitor, a possibilidade de pagar o Fies com trabalho é positiva, já que viabiliza o retorno direto à sociedade pela formação obtida, ao mesmo tempo que alivia as finanças do profissional. No entanto, o número surpreendentemente pequeno de inscritos mostra que o programa está longe de atingir seu objetivo de amenizar a escassez de médicos e professores onde esses profissionais são esperados pela população.

Iniciativa deve partir de todos os estudantes

A necessidade de contribuir para a construção de uma sociedade melhor não pode se limitar aos recém-formados beneficiados por bolsas ou financiamentos estatais. A vontade de fazer a diferença deve ser despertada em todos os profissionais que tiveram a oportunidade de concluir o ensino superior, especialmente os que obtiveram formação em instituições públicas, diz Antoninho Caron, diretor de Pós-Graduação da FAE Centro Universitário.

Para Caron, as pessoas esquecem, com frequência, que a educação superior gratuita existe graças à contribuição tributária de toda a sociedade. "Todo estudante de universidade pública pode e deve contribuir para a construção de uma sociedade melhor a partir dos conhecimentos e saberes adquiridos na instituição e que permita avanços na qualidade de vida das pessoas", diz o professor.

Ele enfatiza que, mesmo aqueles que não têm uma dívida financeira com o poder público, como o caso dos financiados pelo Fies, devem retribuir pela formação obtida por uma questão de cidadania, de pertença à sociedade, prestando os melhores serviços que puderem dentro da área que escolheram. "Quem mais se beneficiou do esforço geral da sociedade para torná-lo um indivíduo melhor mais deve e pode contribuir, multiplicando os talentos recebidos."

Estímulo

Para despertar essa consciência, ações de responsabilidade social se tornaram comuns em universidades públicas e privadas. Na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o cumprimento de horas de trabalho em instituições sociais é exigido de alunos de todos os cursos graças ao programa Projeto Comunitário, implantado há 10 anos. Apesar da obrigatoriedade, o pró-reitor Comunitário, José Luiz Casela, diz que são muitos os casos em que o estudante mantém laços com a instituição que ajudou, mesmo após o fim do período exigido.

Segundo Casela, o compromisso duradouro costuma ser mais frequente entre bolsistas. "A capacidade deles de atuar em determinada região carente é maior, já que muitos passaram por situações sociais semelhantes às que atendem, têm experiência de vida naquele problema. A dedicação desses alunos é bem visível", diz.

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