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“Escolhi aqui porque a faculdade é perto de casa e é bem conceituada no exame da OAB”.
Dilberto Consentino Filho, 21 anos, aluno de Direito da Unibrasil | Fotos: Antonio More/Gazeta do Povo
“Escolhi aqui porque a faculdade é perto de casa e é bem conceituada no exame da OAB”. Dilberto Consentino Filho, 21 anos, aluno de Direito da Unibrasil| Foto: Fotos: Antonio More/Gazeta do Povo

Referência

Exame está longe dos estudantes

Diferentemente do que acontecia com o Provão, o Exame Nacional de Desempenho de Estudante (Enade) está desconectado dos estudantes, dizem os especialistas. "O Enade é realizado a cada três anos, até voltar à mesma área. Com isso, perde a sintonia com o estudante. O Provão acontecia todos os anos e marcava mais presença", avalia o presidente do Instituto Lobo, Roberto Leal Lobo.

O Conselheiro do Todos Pela Educação e professor da Universidade de Pernambuco, Mozart Neves Ramos, afirma que os alunos do ensino médio não acompanham as avaliações do ensino superior. Além disso, segundo ele, o Enade é mais complexo do que era o Provão. "Os colégios estão distantes das avaliações do ensino superior e não há fôlego para discutir com relevo", diz. Para Ramos, não significa que os estudantes não estão preocupados com qualidade, mas que, simplesmente, a "avaliação não chega ao aluno do ensino médio".

Para o coordenador do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná, o doutor em educação Ângelo Souza, a simples obtenção do título de ensino superior pode pesar mais do que a qualidade. "É menos preocupante para a população a questão da qualidade do que de condições de acesso. O povo não quer saber se o curso é 1 ou 2, quer diploma. É melhor do que não ter nada", afirma.

Ramos lembra, ainda, do fator de autoexclusão. "O estudante de escola pública tem dificuldade de ingressar em uma universidade pública ou numa PUC, aí ele já nem tenta. Ele acaba indo para uma particular com mensalidade que seja compatível com as condições dele. Quando ele já está na faculdade é que percebe o Enade", explica.

Segundo Souza, isso ocorre porque, apesar dos esforços, ainda há uma demanda reprimida em busca de ensino superior. Além disso, de acordo com o especialista, desempenhos insatisfatórios no Enade não têm se convertido em consequências para as instituições. A impressão para o público em geral é que tudo vai bem. Por isso, para o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, os cursos de baixa qualidade não deveriam operar. "Acredito que o problema está em fortalecer questões de regulamentação e divulgar os critérios de qualidade", afirma.

Contramão

PUCPR não teve queda no Paraná

Com o boicote dos estudantes, os cursos de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) alcançaram conceito 2 e 1, respectivamente, no Enade 2006. De acordo com o pró-reitor de administração da PUCPR, Valdecir Cavalheiro, mesmo com o desempenho insatisfatório, ao contrário do cenário nacional mostrado pela pesquisa do Instituto Lobo, a PUCPR não tem sofrido queda na procura, como em outras instituições confessionais. Segundo o estudo, com mensalidades mais caras que outras privadas, as confessionais tipo PUC têm perdido alunos para as instituições públicas, que tiveram aumento de vagas nos últimos anos. De acordo com Cavalheiro, a PUCPR tem registrado um aumento de 2 a 3% ao ano no número de alunos.

Mesmo não atingindo a PUCPR, Cavalheiro concorda com o cenário desenhado pelo estudo do Instituto Lobo. "Eu concordo que a excelência de qualidade tem um preço. As classes C e D têm procurado cursos superiores compatíveis com o que podem pagar. Para o futuro, porém, Cavalheiro diz acreditar numa procura mais seletiva pelos cursos superiores. "Com uma condição econômica mais favorável, a busca por excelência mais intensiva por parte do mercado consumidor deve se consolidar ao longo do tempo".

  • Veja: procura por cursos reprovados aumentou nas faculdades privadas

Um estudo do Instituto Lobo, de São Paulo, revela que os resultados das faculdades particulares no Exame Nacional de Desempenho de Estudante (Enade), um dos componentes do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), não são levados em consideração pelos estudantes na hora de escolher a instituição que tentarão ingressar. Entre 2006 e 2008, mostra o levantamento, os cursos de Direito e Administração das faculdades particulares, que alcançaram conceito 1 e 2 no Enade 2006, tiveram aumento de 2% e 45%, respectivamente, na procura de candidatos. Os resultados mostrados no levantamento são rebatidos pelo Ministério da Educação (MEC). Um estudo feito pela pasta mostra o contrário: o porcentual de universitários matriculados em instituições de ensino superior com desempenho insatisfatório nas avaliações do Sinaes caiu, passando de 15,6% (ou 735 mil) para 14,5% (680 mil), entre 2008 e 2009. "O MEC considera que esse dado indica que os alunos passaram a se balizar pelos indicadores de qualidade" diz a nota enviada à redação.

De acordo com o presidente do Instituto Lobo, Roberto Leal Lobo, o método adotado pelo MEC não é tão confiável. "Certamente, o método adotado por nós, considerando resultados do Enade e candidatos, é mais confiável do que relacionar resultados do Enade com as matrículas no mesmo ano. A maioria dos estudantes matriculados em um determinado ano ingressou em períodos anteriores, portanto antes de conhecerem os resultados do Enade". Segundo o especialista, o estudo do MEC falha, ainda, em não separar as instituições públicas das privadas. "Os dois segmentos têm comportamentos muito diferentes. O setor público continua sempre crescendo e com boa qualidade. Quando tem de pagar, o estudante escolhe entre preço ou qualidade. E a preferência não é a nota do Enade, mas pelo curso mais barato."

Mesmo entre as privadas, o estudo do Instituto Lobo mostra diferenças. Enquanto nas particulares, que costumam ter mensalidades mais baixas, a procura, mesmo com desempenho insatisfatório no Enade, aumentou; nas privadas comunitárias, confessionais e filantrópicas, que costumam ter mensalidades mais caras, o número de alunos diminuiu. De acordo com o Instituto Lobo, essa modalidade de faculdades pagas, que engloba as Pontifícias Universi­dades Católicas (PUCs), por exemplo, investe em estrutura e professores com titulação alta, com isso, a tendência é que as mensalidades sejam mais caras.

Na balança

Estas conclusões jogam luz sobre os motivos que levam o estudante a escolher determinada instituição privada em detrimento de outra. Proximidade geográfica com residência e/ou trabalho e valor das mensalidades costumam pesar mais do que o resultado satisfatório no Enade, aponta o estudo. A qualidade do curso acaba entrando na conta sob outros parâmetros. Os comentários de conhecidos, o fato de o curso ser ou não reconhecido pelo MEC e, no caso de Direito, o grau de sucesso que os estudantes têm no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) são alguns dos pontos avaliados pelos estudantes.

"Eu nem conhecia o Enade antes de entrar na faculdade. Eu escolhi pela localização, preço e porque eu sei que é uma faculdade aprovada pelo MEC", conta Mário José da Costa Júnior, 19 anos, estudante do 3.º período de Direito da Unibrasil. "Escolhi aqui porque a faculdade é perto de casa e é bem conceituada no exame da OAB", afirma o colega de Costa Júnior, Dilberto Con­sentino Filho, 21 anos.

Avaliação do mercado é mais relevanteAs instituições de ensino superior de Curitiba mal avaliadas no Exame Nacional de Desempenho de Estudante (Enade) 2006 afirmam que o resultado da prova não costuma ser levado em consideração pelo estudante na hora de escolher o curso. "Os alunos não dão im­­portância", diz o diretor pedagógico da Uniandrade, Danilo Nel­son Vailati Filho. "Esse resultado é questionável. Nem sempre reflete a instituição", complementa Vailat, lembrando que o conceito é obtido a partir da avaliação de um grupo pequeno de alunos. O curso de Direito da Uniandrade alcançou conceito 2 no Enade 2006.

Segundo a coordenadora do curso de Direito da Unibrasil, Es­­tefânia Maria de Queiroz Barboza, os estudantes da instituição costumam fazer sua escolha baseada na titulação dos professores e nos bons resultados obtidos nos exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "Temos muitos filhos de juízes, promotores. No meio jurídico, nosso curso é muito reconhecido e bem visto", diz. O curso de Direito da Unibrasil alcançou conceito 2 no Enade 2006.

O reconhecimento pelo mercado também é levado em consideração pelos estudantes de Admi­nistração da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), segundo a nota enviada pela instituição. "O curso de Administração da UTP tem muita aceitação e reconhecimento pelo mercado de trabalho. A em­­pregabilidade que o curso dá também é alta e isso é muito considerado pelo aluno na hora da escolha da instituição de ensino." O curso de Administração da UTP alcançou nota 2 no Enade 2006.

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