Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Exame

Enem falha no preparo de fiscais

Monitores de sala afirmam que receberam orientações insuficientes e na véspera da prova. Despreparo prejudicou alguns estudantes

Cerca de 300 alunos interditaram a avenida principal de Niterói (RJ) em protesto contra as falhas no Enem: indignação começou nas redes sociais | Fabio Motta/AE
Cerca de 300 alunos interditaram a avenida principal de Niterói (RJ) em protesto contra as falhas no Enem: indignação começou nas redes sociais (Foto: Fabio Motta/AE)

A Defensoria Pública da União (DPU) já recebeu 4.323 reclamações de estudantes que se sentiram lesados pelas falhas na prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). A maioria das queixas, de acordo com o órgão, diz respeito à falta de informação dos fiscais sobre como os candidatos deveriam proceder diante da troca de gabaritos e da duplicação e ausência de questões do caderno amarelo. Fiscais ouvidos pela Gazeta do Povo afirmam que o treinamento dado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ocorreu de forma rápida, às vésperas ou no dia da aplicação da primeira prova, no sábado. Por terem assinado um termo em que se comprometem a não repassar informações a terceiros sobre o exame, os envolvidos pediram para não ser identificados. Um fiscal afirmou que as orientações foram repassadas das 9 às 10h30 de sábado e basicamente tratavam do preenchimento do gabarito e da distribuição das provas nas carteiras para evitar colas, além de diretrizes sobre horário e objetos de uso proibido. Segundo ele, não foi dito como proceder em caso de um candidato colar ou ficar nervoso. Na sala onde trabalhou não foram feitas trocas de prova. "Apenas registramos o problema na ata. A orientação foi para que quem se sentisse prejudicado contatasse o Inep através do site".

Na sala de uma outra fiscal, a recomendação foi diferente: dos sete alunos que receberam a prova amarela, seis receberam um novo caderno de outra cor, e o sétimo uma prova amarela sem problemas de impressão. Como os seis alunos já haviam pintado no gabarito o local correspondente à cor da prova, foi pedido que fizessem uma sinalização próxima ao local da nova cor com a palavra "correto". A fiscal afirma que o treinamento foi "mediano". "Falaram para registrarmos tudo que houvesse de anormal numa ata, mas não fomos orientados sobre o que poderia ocorrer de anormal, e como responder a isso."

Para especialistas, foram quatro as principais falhas no trei­­na­­mento: má-remuneração, au­­sên­­cia de cadastro, treinamento fei­­to às vésperas do exame e contratação de pessoas não habilitadas.

Experiência

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) utiliza como fiscais e aplicadores apenas professores da instituição e da rede estadual de ensino. Atual­mente, de acordo com o coordenador do Grupo Preparador de Área do Núcleo de Concursos da UFPR, Cláudio Portilho, entre 2,6 mil fiscais titulares e reservas, mil são docentes da rede pública, e o restante, da Federal. Os inspetores, que estão acima dos aplicadores de prova, são todos docentes com no mínimo 20 anos de experiência. O cadastro também é obrigatório e seguido com rigor. "Cadastramos e avaliamos quem se candidata, e temos relatórios sobre quem tenha apresentado um comportamento incompatível com a função", explica.

O presidente da Comissão do Vestibular da Universidade Positivo, João Batista Machado, afirma que, para atuar como fiscal ou supervisor, é imprescindível a experiência em sala de aula. "O professor tem experiência em aplicação de testes, já participou de concurso, sabe como lidar com o imprevisto. Muitos, inclusive, gostam de atuar como fiscais". Realizar o treinamento com antecedência também é essencial: o recomendado é no mínimo uma semana antes da prova, durante um dia todo.

A remuneração, de R$ 60 por dia, é considerada insuficiente. Nos vestibulares das universidades públicas e particulares, a média de pagamento é de R$ 200 a R$ 300 por dia, de acordo com Machado, que também atuou na UFPR. Para o professor da Unin­­ter Marlus Geronasso, a boa remuneração aumenta o comprometimento do fiscal com o processo seletivo, e faz com que este encare o treinamento de forma mais séria. "Houve uma economia desmedida no pagamento dos fiscais", diz. "A quantia deveria ser maior, e deveria haver inclusive pagamento pelo treinamento, para incentivar a responsabilidade, pois, por esse valor, realmente é complicado fazer com que a pessoa saia de casa, deixe a família e passe o dia em treinamento".

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.