
Os problemas registrados na segunda edição do novo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) abalaram a sua credibilidade. Um levantamento encomendado pela Gazeta do Povo ao Instituto Paraná Pesquisas revela que 90,6% dos estudantes curitibanos do 3.º ano do ensino médio acham que o exame, que tem um papel fundamental na educação brasileira e mudou vidas nos últimos anos, caiu no descrédito. E mais do que isso: 45% defendem que o Enem seja cancelado e refeito integralmente. Um porcentual de quase 18% é mais radical: considera que o melhor é abandonar o exame neste ano (veja no infográfico).
Segundo o diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, a sondagem revela que a razão de ser do Enem não é unanimidade entre os estudantes de Curitiba. "O grande desafio do governo será fazer com que o Enem recupere a credibilidade e não apresente mais problemas em suas próximas edições", ressalta.
O Paraná Pesquisas ouviu 425 estudantes entre os dias 10 e 11 de novembro; 88% realizaram o Enem neste ano. Foram ouvidos estudantes da rede pública e de escolas particulares. A margem de erro da pesquisa é de 5%.
Qualidade
O Enem foi inicialmente projetado para medir a qualidade do ensino médio. Porém, para boa parte dos entrevistados (44%), a ferramenta não tem sido eficiente em relação a esse propósito. A insatisfação cresce mais ainda quando o assunto é o uso da nota do exame para o ingresso no ensino universitário: 72% diem que o Enem não tem a mesma eficiência de concursos vestibulares, defendidos como confiáveis por 84% dos entrevistados, quando em instituições públicas, e por 66%, quando envolvem universidades privadas.
Hidalgo chama a atenção para a diferença de percepção entre os estudantes de escolas públicas e privadas. De acordo com o levantamento, quando questionados sobre a eficiência do Enem, 66,5% dos que estudam na rede pública acham que o exame é um bom mecanismo para a avaliação do ensino médio brasileiro, enquanto que 60,6% dos estudantes das escolas particulares dizem o contrário.
Criado em 1998, o novo Enem foi lançado em 2009 pelo Ministério da Educação (MEC) como alternativa para o ingresso ao ensino superior em instituições federais e estaduais. No Paraná, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) usa integralmente a nota para selecionar seus estudantes. Já a Universidade Federal do Paraná (UFPR) usa 10% da nota para compor o escore do candidato.
A perda de confiança é resultado de uma sucessão de erros. Em 2009, a prova vazou, o Enem foi adiado e uma abstenção superior a 40% foi registrada. Houve erros na divulgação do gabarito e dados sigilosos de candidatos vazaram na internet. Neste ano, no primeiro dia de testes, o exame teve erros de impressão nas folhas de resposta e nas provas. Vinte e um mil cadernos de testes na cor amarela tiveram erro de montagem e não continham as 90 questões aplicadas.
Opiniões divididas
Para grande parte dos estudantes, a sucessão de erros em um exame decisivo para a vida de mais de 3,3 milhões de pessoas (número de candidatos neste ano) é lamentável. Participante de um movimento contra as falhas do Enem, Cidnei Baptista, 18 anos, está entre os que defendem o cancelamento do exame. "Só o Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, responsável pelo Enem] consegue errar duas vezes. Durante três anos nos preparamos para uma prova em que não se admite erro. É uma palhaçada o que estão fazendo com a gente", diz. Uma manifestação dos estudantes está marcada para segunda-feira, às 13h30, na Boca Maldita, em Curitiba.
O MEC estimava que 10% dos 3,3 milhões de alunos haviam sido prejudicados, mas os dados levantados até agora mostram que menos de 200 ocorrências foram identificadas, em cinco estados: Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe, Paraná e Santa Catarina, além do Distrito Federal. A Defensoria Pública da União , no entanto, registrou mais de 4 mil reclamações. A data da prova ainda não foi marcada.



