Dezenas de estudantes do curso de Obstetrícia da unidade Leste da Universidade de São Paulo (USP) se reuniram com parteiras, mães e ONGs no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), às 10 horas deste sábado (26). Com cartazes e um abaixo-assinado, os manifestantes pretendem impedir a extinção dessa faculdade, que é a única do Brasil, mas pode se fundir à de Enfermagem da USP e ter o próximo vestibular cancelado.
Segundo a coordenadora do curso, Nádia Narchi, os professores e alunos são contra essa mudança porque, apesar de profissões "irmãs", as duas áreas representam paradigmas profissionais diferentes. "Se a gente for diluído na Enfermagem, não vamos construir um campo de conhecimento próprio. Não aceitamos essa proposta e queremos que a USP compreenda a importância social e acadêmica da nossa profissão."
Nádia disse ainda que a USP está se dobrando ao Conselho Federal de Enfermagem, que tem dificultado o registro de obstetrizes formadas, também pouco reconhecidas pelo mercado. "Há duas saídas possíveis: a reformulação curricular ou a contestação judicial, mas a USP optou pela saída covarde, de atender ao conselho", afirmou a coordenadora.
Atualmente, o curso de Obstetrícia da USP Leste, que pertence à Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), tem cinco turmas de 60 alunos cada e duas já formadas. A graduação tem uma duração de quatro anos e meio e, em 1974, já sofreu com a extinção e a fusão à Enfermagem ressurgindo em 2004. A estudante Jéssica Nascimento, do terceiro ano, afirmou que a universidade quer reduzir 330 das 1.020 existentes nos dez cursos do campus. "A Enfermagem não tem estrutura para nos abrigar", avaliou.
Para a aluna Flávia Estevan, também do terceiro ano, "a faculdade surgiu como um pedido de movimentos sociais para atender à demanda brasileira de partos normais e para reduzir o número de cesarianas".
De acordo com ela, o objetivo é acabar com a "fábrica de cesáreas", já que 90% dos partos na rede privada do país e 50% do Sistema Único de Saúde (SUS) são desse tipo, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda no máximo 15% nos dois sistemas juntos. "Hoje, o médico é o protagonista e a mulher passa por uma cirurgia. Gravidez não é doença", destacou Flávia.
A enfermeira obstetra Vilma Nishi, que atua há 35 anos com partos humanizados e já fez mais de 700 em residências, acha que enfermeiros e obstetrizes devem unir forças, porque a figura mais importante dessa história é a mulher. "Nunca vi a USP fechar um curso", lamentou. Segundo a administradora Priscila Ariani, mãe de Francisco, de 3 anos e meio, e Arthur, de 9 meses (o primeiro nasceu de cesariana e o segundo, de parto normal em casa), a cesárea é uma invasão e uma falta de respeito ao momento mais especial na vida de uma mulher. "O médico vem com um suposto saber, o bebê é retirado de você, fica no seu colo por 2 minutos e depois preciso me recuperar da anestesia", disse. Priscila acredita que o médico entende o parto como um procedimento cirúrgico, não como o nascimento de um filho.
Em comunicado, a direção da universidade diz que "a avaliação permanente da graduação e a revisão dos cursos da EACH é absolutamente natural, indo ao encontro das demandas sociais, científicas e tecnológicas da sociedade". "A principal preocupação é com os egressos e com os alunos que estão cursando obstetrícia. Se for necessária outra reformulação do curso, ela será feita", afirmou Telma Zorn, pró-reitora de graduação.
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