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Da carteira para o laboratórioRenan Vidal Viesser, 21 anos, se formou no ano passado em Tecnologia em Processos Ambientais e quer seguir a carreira docente. “Eu já tinha afinidade com Química, e a questão ambiental chamou minha atenção por ser uma área em crescimento e com várias oportunidades”, conta. Renan entrou para o curso de mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental da UTFPR e se diz muito satisfeito com o rumo da carreira. | Valterci Santos/ Gazeta do Povo
Da carteira para o laboratórioRenan Vidal Viesser, 21 anos, se formou no ano passado em Tecnologia em Processos Ambientais e quer seguir a carreira docente. “Eu já tinha afinidade com Química, e a questão ambiental chamou minha atenção por ser uma área em crescimento e com várias oportunidades”, conta. Renan entrou para o curso de mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental da UTFPR e se diz muito satisfeito com o rumo da carreira.| Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo

De olho no mercado

"Não é modismo, é necessidade", afirma o engenheiro civil José Fernando Arns, mestre em Planejamento de Cidades e doutor em Gestão Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Arns é coordenador do projeto EcoHabitare, desenvolvido na instituição para aproximar os alunos ao mercado sustentável. Pelo projeto, estudantes de onze departamentos diferentes podem ter acesso a vivências de sustentabilidade, com foco na busca de soluções para o lixo e resíduos industriais.

"As empresas que contratam profissionais e estagiários voltados para a sustentabilidade estão colocando uma semente dentro da própria empresa. Por isso é muito valorizado um gestor ou um funcionário que tenha esse perfil e que queira trabalhar nessa área", diz. O professor conta que apenas cerca de 7% das empresas da construção civil reciclam o lixo da obra (chamado de entulho) e que isso é exemplo de como o mercado ainda pode absorver muita mão de obra especializada em questões ambientais.

Para o presidente do Crea-PR, Álvaro Cabrini Júnior, o mercado precisa de profissionais e tecnologias voltados para o meio ambiente para mudar essa realidade. "Se as empresas não reciclam, é porque falta conhecimento, tecnologia, mercado regulado e mão de obra. Somente novas tecnologias e um novo profissional, com uma nova visão e propostas inovadoras, podem fazer com que o mercado absorva uma mudança de paradigma", diz.

Na grade

Confira exemplos de disciplinas que vêm sendo inseridas nos cursos universitários brasileiros:

- Projetos Sustentáveis- Biodiversidade- Monitoramento ambiental- Ecoestratégia- Ciências Ambientais - Desenvolvimento Sustentável- Direito Ambiental- Agroecologia- Energias renováveis- Auditoria ambiental

  • Tijolos ecológicos e muito maisAlunos de Engenharia Civil da PUCPR, Fábio Junior Martinkoski e Cristiano de Jesus Floriano participam do Projeto EcoHabitare, de desenvolvimento de tecnologias para construção verde, o que proporciona a eles um maior envolvimento com a área sustentável.
  • Ex-aluna, atual mestre

Ano após ano, quem está sentado nas carteiras da universidade se vê mais próximo da sustentabilidade e do meio ambiente. Seja em cursos que não têm ligação direta com essas questões ambientais ou naqueles que já trazem a sustentabilidade na sua essência, o meio universitário está mudando pela exigência do mercado. Empresas querem profissionais aptos a lidar com os impactos ambientais dos negócios.

Para o presidente do Conselho Regional de Enge­­nharia, Ar­­qui­­te­­tura e Agro­no­mia (Crea-PR), o en­­ge­­nheiro agrô­­nomo Álvaro Jr. Ca­­brini Jú­­nior, a inclusão de temas am­­bientais nas faculdades é ne­­cessária e justificável. "A área é fundamental, pois sem o meio ambiente não existe sustentabilidade. Temos de produzir alimentos e energia e preservar o planeta. E não dá para preservar o planeta sem produzir, ou a exis­­­tência humana sucumbe".

As empresas precisam ter uma gestão ambiental e, no Paraná, as auditorias são obrigatórias, o que amplia a área de atuação dos estudantes que buscarem uma formação nessa área, segundo a bióloga Tamara Simone Van Laick, mestre em Inovação Tecnológica e doutora em Meio Ambiente e De­­sen­volvimento pela Uni­­versidade Federal do Paraná (UFPR). Os profissionais "verdes" podem trabalhar como auditores ou consultores ambientais, treinar funcionários de empresas para a gestão ambiental, atuar junto do profissional de saúde e segurança no trabalho e cuidar do dimensionamento de estações, ensaios de tratabilidade, planos de gerenciamento de resíduos sólidos, plano de tratamento das emissões atmosféricas e tratamento de afluentes, entre outras atribuições. "Temos muitos alunos se formando como técnicos em gestão ambiental. A diferença principal entre eles e o engenheiro ambiental é que este pode assinar projetos para construção de obras", explica Tamara.

O desafio na sala de aula

Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), novos cursos e disciplinas estão sendo criados para atender essa demanda, que também vem dos alunos. O curso de Engenharia Ambiental está sendo ofertado em novos câmpus e os mais recentes Tec­nologia em Processos Ambientais e Tecnologia em Gestão Am­­biental têm atraído cada vez mais estudantes. O diretor de graduação da UTFPR, Álvaro Peixoto de Alencar Neto, explica que mesmo nos cursos que não têm como característica principal a questão, o tema é trabalhado. "Há uma indicação nas diretrizes da instituição que os cursos devem in­­cluir abordagens de questões de sustentabilidade. Mas a forma como cada um vai fazer isso é algo que ainda precisa ser discutido. Acrescentar uma disciplina não resolve a questão nem cria no aluno a cultura desejada. Nin­­guém tem uma fórmula pronta, mas sabemos que é necessário que as instituições não fiquem só nisso. Elas precisam ter ações integradas com outras disciplinas para discutir a questão", conta.

A inserção dos temas ecológicos como transversais ao longo da formação é defendida pelo coordenador do programa de mestrado e doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Po­­sitivo, Mário Sérgio Michaliszyn. "Pode haver uma disciplina específica, mas ela não pode estar isolada. Assim como esses temas são transversais no ensino fundamental e no médio, devem ser tratados dessa forma também nas graduações", afirma. Ele comenta que ainda há uma longa caminhada até que o ensino superior esteja maduro. "Embora os problemas ambientais estejam interferindo na nossa vida, esse ainda não é um conhecimento priorizado. Se analisar a grade curricular dos cursos de graduação de uma forma geral, poucos são os que contemplam essa questão dentro das diferentes disciplinas", afirma.

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