Uma das tarefas atribuídas ao professor de redação é a de adivinhar o tema da proposta do vestibular.
O dicionário Houaiss, entre outras, traz as seguintes definições para o verbo adivinhar: 1. descobrir ou desvendar por supostos meios sobrenaturais; 2. sentir ou perceber (algo) por antecipação; 3. acertar ou descobrir por suposição ou acaso; 4. interpretar, descobrir, decifrar (algo) por hipóteses ou correlações.
Creio que, dentre essas definições, a que mais se aproxima à atividade de um professor de texto é a 4.
Essa cobrança de acertar o tema vem mais dos alunos do que dos professores. Acertar é ótimo, mas não pode ser um fim em si só.
Primeiro porque sabemos que o trabalho não estaria resolvido se soubéssemos o tema. Segundo porque a UFPR tem uma lógica de trabalho, da qual as "pegadinhas" passam longe.
Precisamos entender o que pode virar tema de uma redação de vestibular. A resposta não parece difícil, em geral caem temas polêmicos. O problema começa aí: o que é um tema polêmico?
Algo polêmico se caracteriza por gerar divergências, controvérsias. Em outras palavras: existem "os contra" e "os a favor". Um assunto muito falado na mídia não é necessariamente polêmico, portanto, não estaria cotado a tornar-se proposta.
O aluno precisa aprender a "enxergar" uma proposta quando fala de um assunto. Tomemos como exemplo o caso do ex-goleiro Bruno. Não há polêmica. Há indignação, precipitação, repercussão, mas não polêmica. Qual seria a proposta sobre o caso? No máximo algo que tratasse da espetacularização da mídia. O que pode aparecer todo ano. Tivemos em 2008 o assassinato da Isabela Nardoni.
Já no caso da menina de 9 anos que foi submetida a um aborto em 2009, além de se discutir a mídia como espetáculo, há uma polêmica: o aborto deveria ou não ser praticado.
Em ano eleitoral como este, o pleito sempre aparece como um dos possíveis temas. No entanto, jamais cairá uma pergunta que gire em torno de questões partidárias esse ou aquele candidato é melhor. Poderão surgir questões mais amplas como o processo eleitoral, voto obrigatório, escolaridade dos eleitores ou mesmo a eleição de um palhaço como o deputado mais votado do país. Seria isso chacota ou protesto?
Não é possível ter certeza do que irá cair, mas um vestibulando bem informado, pronto para debater temas polêmicos, certamente terá mais chance. Força nesta reta final!
