UFPR quer lista de obras mais dinâmica

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Este será um ano teste para o Núcleo de Concursos da Universidade Federal do Paraná (NC-UFPR). Depois de manter a mesma rotina desde 2001, em que a relação de livros cobrados no vestibular sofria mudanças a cada dois anos, a lista recebeu três novas obras em dois anos consecutivos. Caso a novidade corresponda com as expectativas dos organizadores, as alterações devem ser mais constantes, o que deve tornar a relação mais dinâmica e oxigenar as provas.

Há cinco anos à frente da Coordenação de Elaboração de Provas do NC, a professora Iara Bemquerer Costa explica que a permanência de obras por muito tempo na lista obrigatória costuma gerar um esgotamento em relação ao conteúdo que pode ser cobrado nas questões. "A lista nunca é alterada totalmente. A ideia é fazer com que os livros permaneçam menos anos na lista", afirma Iara. "Não posso dizer que isso é algo definitivo. A gente introduz uma modificação e acompanha os resultados", completa.

De acordo com Iara, a relação de livros cobrados no vestibular da UFPR busca contemplar obras relevantes de diferentes gêneros e escolas literárias brasileiras. Além disso, os dez livros escolhidos devem ser acessíveis aos estudantes, atendendo aos níveis de exigência cobrados no ensino médio. "As mudanças sempre tentam preservar essa característica da lista, com obras de ficção, poesia e dramaturgia", afirma.

Os três livros que foram substituídos neste ano haviam entrado para a relação em 2009. A coletânea de contos de Urupês, de Monteiro Lobato, deu vez a Várias Histórias, de Machado de Assis, que volta com uma obra à lista da UFPR depois de três anos fora dela. A peça de teatro Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, foi substituída por Eles não Usam Black-Tie, do ator e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri. Por fim, o romance Inocência, de Visconde de Taunay, sai da relação para a entrada do livro de estreia do escritor contemporâneo Raduan Nassar, Lavoura Arcaica.

As mudanças foram bem-vindas pelo professor de Literatura Marcelo Müller, do curso Dom Bosco. "Acho a lista da UFPR altamente elogiável. É muito melhor que a cobrada pela Fuvest, mas fico chateado da maneira como as obras caem na prova", avalia. Para o professor, as questões poderiam cobrar menos "decorebas". Sobre alterações anuais na leitura obrigatória para o vestibular, Müller defende que os novos livros sejam divulgados com antecedência. "É saudável mudar. Não acho que três livros seja pesado, mas adiantar as mudanças para os próximos três anos, por exemplo, ajudaria escolas e alunos a se prepararem."

Professores arriscam palpites sobre novos livros da relação

A entrada de Eles não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, na lista de obras cobradas no vestibular da UFPR cria expectativas em alguns professores, que já ensaiam palpites sobre o que poderia ser cobrado nas provas. A peça de teatro gira em torno de um movimento grevista no Rio de Janeiro, o que estimula apostas relacionadas aos protestos e greves recentes em todo o país.

"É muito oportuna a leitura que podemos fazer dessa obra. É uma escolha bem feliz e que pode trazer o jovem para a reflexão sobre o bem individual e o coletivo. As questões possíveis são muito atuais", dizem os professores de Literatura do colégio Bom Jesus Cláudia Corrêa Pedroso e Marcelo Brum-Lemos.

Para os dois, Lavoura Arcaica, de Raduam Nassar deve se caracterizar como a leitura mais desafiadora para os vestibulandos. Diante da luta psicológica do protagonista frente à tradição familiar, a obra traz temas que devem estimular o leitor a abstrair preconceitos e dogmas familiares e religiosos "para mergulhar no universo íntimo" do personagem principal e para entender as buscas dele. "Lavoura é um livro difícil, com narrativa poética e que vai exigir muita atenção do aluno", completa o professor Marcelo Müller, do Dom Bosco.