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As estratégias do PT para tentar derrotar Bolsonaro nas eleições já no primeiro turno
Na comemoração dos 42 anos do PT, lideranças do partido anunciaram a criação dos “comitês populares de luta” para retomar o “olho no olho” com grupos estratégicos.| Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação PT

O Partido dos Trabalhadores (PT) tem se mobilizado em diversas frentes para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições deste ano. À base de militantes, porta-vozes do partido têm dito que a expectativa é retomar o Palácio do Planalto com a vitória do o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já no primeiro turno. Nessa estratégia também está o objetivo de eleger o maior número possível de parlamentares, tanto federais quanto nos estados.

Para isso, o PT tem lançado mão de várias estratégias. Dentre elas estão a formação de uma frente ampla de partidos para a disputa das eleições e a criação de milhares dos chamados “comitês populares de luta” – que terão a tarefa de levar informações da alta cúpula do partido para as ruas. Também faz parte desse plano o estrito alinhamento dos militantes aos posicionamentos e convicções do partido, especialmente sobre temas que devem ser explorados na campanha eleitoral. E, por fim, o PT também quer atrair eleitores evangélicos. Esse segmento, que hoje representa 30% do eleitorado, foi essencial para a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

Em todas as frentes, o partido encontra desafios. Para a alta cúpula do PT, no entanto, a saída passa pela mobilização de todos os públicos que rejeitam Jair Bolsonaro, seja de esquerda ou não, e pela apresentação de Lula e do partido como os únicos capazes de derrotar Bolsonaro nas eleições de outubro.

“Nós, do campo progressista, devemos centrar esforços em debater os temas fundamentais para a vida do povo, como o enfrentamento da fome, da miséria, a geração de empregos e renda. É nosso dever apresentar alternativas à deterioração de políticas públicas desencadeada pelos desgovernos Temer-Bolsonaro”, disse o ex-senador Aloizio Mercadante, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Lula nas eleições de 1994, ao comentar sobre a preparação do partido para 2022.

Veja a seguir as principais estratégias do PT para sair vitorioso nas urnas nas eleições deste ano:

Frente ampla de partidos contra Bolsonaro

A criação de uma frente ampla com partidos de oposição a Jair Bolsonaro, que sustente a candidatura de Lula à Presidência da República, é a prioridade petista. A estratégia do partido é focar na narrativa de que não se trata apenas de o PT ou a esquerda voltar ao poder, mas sim de um “movimento maior”, de reconstrução do país após a “devastação promovida pela extrema direita”.

Mesmo com sinalizações positivas de alguns partidos e de figuras públicas importantes, a exemplo do ex-tucano Geraldo Alckmin, que até então era adversário político de Lula e que tem negociado a vaga de vice-presidente na chapa do petista, há dificuldades em angariar novos personagens para a frente ampla.

Com apoio confirmado ou negociações avançadas com partidos como PCdoB, PV, PSB e Psol, o PT ainda tem como desafio – para garantir negociações em andamento e efetivar novos apoios – superar resistências de outras legendas, que sinalizam não querer perder projeção política para ficar debaixo do “guarda-chuva” petista.

O Psol, por exemplo, apoia o PT, mas tem ressalvas quanto à participação de Geraldo Alckmin na campanha presidencial. O partido criou, recentemente, uma plataforma de propostas para “reconstruir o Brasil” e condicionou o ingresso da sigla na frente ampla à aceitação dos termos. Dentre essas propostas constam a revogação do teto de gastos, da reforma da Previdência e da reforma trabalhista, além da a taxação de grandes fortunas – medidas que partidos mais ao centro tendem a rejeitar.

O Psol também mantém negociações com a Rede Sustentabilidade para a formação de uma federação entre os dois partidos. A negociação enfrenta resistência principalmente por parte da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que rejeita manifestar apoio a Lula. Em 2014, quando disputou a eleição presidencial, ela foi alvo de uma campanha difamatória por parte do PT.

A definição dos candidatos a governadores nos estados é outro motivo de dor de cabeça para o PT, cujos representantes têm realizado diversas reuniões para costurar acordos sobre candidaturas sem enfraquecer a frente ampla. No estado de São Paulo, por exemplo, considerado estratégico para o partido, figuram como pré-candidatos Fernando Haddad (PT), Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (Psol). O PT quer os dois últimos apoiem a candidatura do petista. A ideia, entretanto, não é bem vista pelos pré-candidatos e pelas suas legendas.

Outro desafio para a formação da frente ampla são as ressalvas de alguns partidos quanto à grande rejeição que o PT sofre em várias partes do país e as investidas que Lula e o petismo deverão sofrer nos próximos meses, sobretudo com adversários políticos trazendo à tona os diversos escândalos de corrupção da era petista e a derrocada econômica do segundo mandato de Dilma Rousseff.

Por fim, falas polêmicas da alta cúpula do partido, a exemplo das declarações de Lula favoráveis à regulação dos meios de comunicação, medida que flerta com o autoritarismo e sinaliza riscos à liberdade de expressão e de imprensa, podem representar dificuldades na cooptação de legendas mais ao centro.

Comitês populares de luta organizados pelo PT

Acusado de abandonar as bases do partido – trabalhadores do “chão de fábrica” e camadas mais pobres da população – para focar em pautas identitárias, o PT tem como prioridade para 2022 a criação de ao menos cinco mil “comitês populares de luta”. A divulgação da estratégia no evento de comemoração do aniversário de 42 anos do partido, celebrado em 10 de fevereiro, foi considerada uma das grandes novidades do partido para as eleições e para os próximos anos.

A estratégia consiste em criar comitês em locais estratégicos para a legenda, como favelas, bairros de periferia, assentamentos rurais e comunidades quilombolas, focando nas classes econômicas mais baixas a partir de um discurso unificado. Outros locais em que o PT sempre busca gerar influência, cooptar militantes e angariar votos, como universidades e escolas, também estão no alvo.

O discurso a ser explorado com as comunidades desses locais é, em primeiro lugar, a culpar o governo de Jair Bolsonaro pelas mortes por Covid-19 durante a pandemia e, paralelamente, alegar que a piora dos índices econômicos do país, como desemprego, inflação e redução de renda, a partir da pandemia da Covid-19, está totalmente relacionada à má condução do governo Bolsonaro.

Na prática, o partido se apresenta como solução para a economia do país ignorando o cenário deixado pela ex-presidente Dilma Rousseff – pior recessão da história, desemprego em alta, inflação no maior patamar desde 2002 e dívida externa em alta. Com isso, o PT busca fixar a narrativa de que antes do “golpe” o Brasil ostentava indicadores econômicos positivos.

 <em>Comitês populares fazem parte da estratégia do PT de retomar comunicação com trabalhadores do “chão de fábrica” e camadas mais pobres da população (</em>Ricardo Stuckert/Divulgação PT)
Comitês populares fazem parte da estratégia do PT de retomar comunicação com trabalhadores do “chão de fábrica” e camadas mais pobres da população (Ricardo Stuckert/Divulgação PT)

A estratégia de “olho no olho” por meio dos comitês será feita a partir do envolvimento de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), além de outros partidos de esquerda.

Mesmo após as eleições, o partido pretende manter a atuação desses comitês. Em caso de vitória do candidato petista, as unidades serão responsáveis por mobilizar as comunidades em relação a temas sensíveis, como a revogação da reformas trabalhista e previdenciária e o fim do teto de gastos.

Dentre as atividades previstas para os comitês estão reuniões periódicas, panfletagens, visitas de casa em casa, organização de manifestações e atuação nas redes sociais e grupos de aplicativos de mensagens para “espalhar a verdade na rede”, conforme cita a cartilha criada pelo partido.

Apoio de eleitores evangélicos ao PT

De acordo com uma pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto DataFolha, os evangélicos representam 31% da população brasileira, o equivalente a mais de 65 milhões de pessoas. De olho nos números, o PT tem buscado criar estratégias para angariar eleitores desse público.

“Queremos dialogar com eles, ouvindo seus anseios, suas angústias, suas preocupações, suas propostas, de forma democrática e bastante respeitosa”, disse o secretário nacional de comunicação do partido, Jilmar Tatto, ao comentar as estratégias para aproximação dos evangélicos.

Como um dos primeiros passos da estratégia, em novembro de 2021 Lula organizou um encontro virtual com comunidades evangélicas, no qual creditou a sua chegada à Presidência “à mão de Deus”. “[O PT] é um partido que não pode acreditar na história de que os evangélicos e as evangélicas são como se fosse um gado, são tangidos por aqueles que querem mentir. O que a gente percebeu nesse encontro é que as pessoas têm cabeça, que as pessoas têm inteligência”, disse o ex-presidente durante o encontro.

No mesmo encontro, o ex-presidente sugeriu a criação do “momento evangélico” no canal de vídeos e na rádio do PT. A partir daí, semanas depois foi anunciada a criação de um podcast direcionado ao público cristão, a ser iniciado em março, com foco em atrair as camadas mais jovens das igrejas. O apresentador do programa será o pastor Paulo Marcelo Schallenberger, nomeado para liderar projetos de aproximação do partido ao público evangélico.

De acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo, Schallenberger apresentou um projeto para a entrada do partido nas igrejas. Entre as estratégias estão “trazer para entrevistas pastores que foram beneficiados no governo do PT" e “incentivar menções de atos dos governos anteriores que beneficiaram a igreja evangélica".

A aproximação, entretanto, não deve ser fácil para o partido, cujos representantes frequentemente se manifestam favoravelmente a pautas condenadas por grande parte dos evangélicos, como a defesa do aborto e da ideologia de gênero e a legalização das drogas.

Formação para militantes: história e política sob a ótica petista

Outra aposta do Partido dos Trabalhadores é o lançamento de um curso de História e Política sob a ótica do partido. O curso, que ocorrerá durante todo o primeiro semestre, tem como objetivo preparar sua militância para o período de campanha. Estão previstas dezenas de aulas abordando marxismo e socialismo, ditadura militar, racismo estrutural, feminismo e o “impacto” do PT na política nacional. Críticas ao capitalismo, à Lava Jato e a opositores do partido também fazem parte do conteúdo programado. A última aula tem como tema “A derrota do bloco reacionário e o programa para um novo governo petista”.

O curso é ministrado pela Fundação Perseu Abramo, criada pelo PT para produzir conteúdos de formação para militantes e mantida com recursos do Fundo Partidário.

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