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Simone e Ciro gomes
Candidatos a presidente: Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (MDB)| Foto: Agência Senado/Agência EFE

Os candidatos à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) chegam na reta final do primeiro turno das eleições com pouca campanha nos estados entre seus próprios correligionários, coligações de seus partidos e membros ou aliados históricos das legendas. Levantamento da Gazeta do Povo nos materiais de campanha dos candidatos a governador pelo PDT e MDB nos 26 estados e no Distrito Federal mostra que os apoios prometidos a Ciro e Simone respectivamente, não caminharam como o esperado.

Neste momento de campanha, a 10 dias das eleições, ambos enfrentam resistência dentro dos seus próprios partidos e viram alguns políticos com quem tentaram uma aproximação durante a campanha ou pré-campanha levantando bandeira para outros candidatos. O mais recente foi o apoio declarado de Marina Silva (Rede) a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após ter sido sondada por Ciro para ser vice na chapa ou, ao menos, participar da corrida eleitoral como “ela quiser”, conforme mencionou o candidato em conversa com jornalistas em maio.

É semelhante ao que aconteceu com Simone Tebet, que viu o ex-ministro da Fazenda de Michel Temer (MDB), Henrique Meirelles (União Brasil), também declarar apoio à candidatura de Lula. Até ano passado, Meirelles militava nas trincheiras emedebistas. O apoio dele seria uma sinalização de força ao mercado financeiro, que acabou sendo levado também para a chapa de Lula com Geraldo Alckmin (PSB).

Sem apoio nos estados

Pelo país, Ciro e Simone enfrentam resistência entre seus correligionários e partidos coligados. As promessas de apoio no começo da campanha deste primeiro turno não se concretizaram nos materiais de campanha permitidos no período oficial pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Apuração da Gazeta do Povo feita no final de julho apontava que o pedetista teria palanque em 10 estados do país, mas está terminando com oito apoiadores. Já a emedebista tinha a promessa de sete candidatos levantando a sua bandeira, mas eles se dividiram entre Lula, Jair Bolsonaro (PL) ou nenhum dos três.

A maior cisão é entre os pedetistas, onde correligionários passaram a desembarcar da campanha de Ciro Gomes por discordar da estratégia de críticas incisivas a Lula adotada por ele. Não à toa, o PDT publicou uma nota, no último domingo (18), dizendo que os filiados "que assumirem dupla militância serão excluídos".

No dia seguinte, o então candidato a deputado estadual pelo Paraná, Haroldo Ferreira, enviou uma carta ao presidente do PDT, Carlos Lupi, anunciando apoio a Lula. Segundo o TSE, ele renunciou à candidatura.

Além dele, também desembarcou da candidatura cirista a ex-correligionária deputada federal Tabata Amaral (PSB), que publicou um vídeo no Twitter, na manhã desta quarta (22), pedindo para os eleitores votarem em Lula já no primeiro turno. Para ela, esta é a "única chapa com condições de derrotar Bolsonaro".

O único deputado estadual do PDT no Paraná, Goura Nataraj, chegou a participar do comício de Lula em Curitiba no último sábado (17), onde posou para uma foto que vazou em blogs e redes sociais, o que provocou um ruído interno no partido. À Gazeta do Povo, disse que segue alinhado com a legenda no primeiro turno, mas fará campanha para o petista no segundo.

Já entre os candidatos pedetistas aos governos estaduais que desembarcaram da campanha cirista, estão Weverton Rocha (MA) e Rodrigo Neves (RJ), que não fazem campanha para nenhum candidato – embora ambos tenham feito declarações pró-Lula na pré-campanha.

Além dos correligionários pedetistas, uma dissidência que se diz “brizolista” lançou um manifesto nesta quarta (21), no Rio de Janeiro, com as mesmas críticas sobre o tom adotado por Ciro Gomes nesta eleição.

Desde o começo oficial da campanha, Ciro Gomes tem oscilado pouco nas pesquisas de intenção de votos, alcançando 7% no último levantamento do BTG/FSB divulgado na segunda (19), tecnicamente empatado com Simone Tebet na margem de erro (veja metodologia mais abaixo)

Representantes da campanha do candidato foram procurados pela Gazeta do Povo para comentar o assunto, mas não responderam até o fechamento da reportagem.

Tebet perde espaço em palanques, mas aposta em crescimento nas pesquisas

A falta de palanques mesmo entre os correligionários também atinge Simone Tebet, que iniciou a corrida presidencial com a promessa de apoio de sete candidatos aos governos estaduais, mas nenhum efetivamente levantou sua bandeira nos materiais de campanha – embora tenham participado de eventos com ela.

O mais esperado era Rodrigo Garcia, candidato à reeleição pelo PSDB (o mesmo de Mara Gabrilli, sua vice) ao governo de São Paulo. No entanto, o governador ficou neutro e até ensaiou apoio à Soraya Thronicke (União Brasil) ao se encontrar com ela para receber o plano de governo da candidata a presidente e fazer fotos – o União Brasil faz parte da coligação que apoia Garcia na disputa estadual.

No restante do país, a senadora sul-mato-grossense viu seus palanques locais desidratarem em favor de Lula e Bolsonaro – ou de neutralidade. Mesmo em seu estado, o Mato Grosso do Sul, Tebet não aparece nos materiais de campanha de André Puccinelli, correligionário do MDB, que não cita nenhum outro candidato.

Ao todo, dos nove estados em que a legenda tem candidato próprio, três estão com Lula. Já nos outros 18 em que o partido está coligado, três apoiam Bolsonaro e sete fazem campanha para o candidato petista.

Simone Tebet disse à Gazeta do Povo que a falta de palanques exclusivos ou de precisar dividir em algum estado não seria nenhum impeditivo para a campanha avançar. “Só precisamos de um caixote e um microfone”, disse.

O "caixote e o microfone" tem surtido algum efeito, mas limitado. Segundo a mais recente pesquisa BTG/FSB, divulgada nesta segunda (19), Simone Tebet tem 5% das intenções de voto, três pontos a mais do que no começo da campanha eleitoral, em 15 de agosto (veja metodologia mais abaixo).

Em nota à Gazeta do Povo, o coordenador geral de campanha e presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, diz que Simone Tebet foi muito bem recebida pelos estados que visitou, "seja por candidatos da coligação, seja por representantes e lideranças da nossa base partidária".

"Nesta reta final, temos recebido muitas demandas de candidatos de todas regiões do País, mas vamos concentrar nossa estratégia no Sudeste, que tem os maiores colégios eleitorais", afirmou. "Até mesmo nossos adversários querem se aproximar da Simone por causa do voto das mulheres. Ela é a candidatura feminina mais bem posicionada e tem feito um trabalho brilhante com propostas muito elogiadas para economia e para infraestrutura. Sempre filiada ao MDB, Simone representa nossa identidade: a defesa de mais justiça social, do Estado Democrático de Direito, do equilíbrio e do bom senso", concluiu.

Para o cientista político Carlos Ramos, doutor em ciência política pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), a senadora adotou uma estratégia de campanha que, ao que aponta a pesquisa mencionada anteriormente, não vai levá-la à vitória nesta eleição, mas a deixará com um capital político importante.

“Nesta eleição, a Simone Tebet sai maior do que entrou. Ela é jovem para a política, e vejo que tem esses planos [concorrer no futuro sem uma polarização como a desta eleição]”, diz.

Por outro lado, Carlos Ramos considera que Ciro Gomes sairá desta campanha numa situação diferente, com mais dificuldade pelas estratégias adotadas que o fizeram disputar essa eleição sozinho, sem apoio de outros partidos.

Metodologia da pesquisa BTG/FSB

O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 16 e 18 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-07560/2022.

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