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Ex-juiz Sergio Moro e o governador de São Paulo, João Doria.| Foto: Luis Blanco/Governo de SP

As movimentações de bastidor de dois dos principais nomes da terceira via – João Doria (PSDB) e Sergio Moro (Podemos) – abrem espaço para um grande rearranjo na disputa presidencial deste ano, caso sejam confirmadas. O governador de São Paulo, João Doria, pode anunciar na tarde desta quinta-feira (31) a desistência de sua pré-candidatura à Presidência da República. Além disso, nesta quinta o ex-juiz Sergio Moro, atualmente no Podemos, migrou para o União Brasil – o que, em tese, fortaleceria sua candidatura e poderia levá-lo a ser o favorito para unificar a terceira via em torno de um único nome. Mas também há a possibilidade de Moro desistir de ser candidato a presidente.

Doria causou estardalhaço no ninho tucano ao informar aliados próximos que estaria se retirando da disputa presidencial e que não renunciaria ao governo de São Paulo. A informação causou comoção na ala do PSDB que o apoia. O presidente nacional da legenda, Bruno Araújo, agiu rapidamente e expressou apoio ao governador paulista, afirmando que Doria segue sendo candidato. Doria já teria voltado atrás da decisão de abandonar a eleição ao Planalto. Uma coletiva de imprensa marcada para 16 horas no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, deve acabar com a indefinição.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), tende a ser o maior beneficiado neste momento se Doria desistir. A saída de João Doria do páreo abriria caminho para Leite ser o candidato tucano e tentar viabilizar seu nome na terceira via. O gaúcho havia sido derrotado por Doria nas prévias do partido no final do ano passado, mas conta com apoio de uma ala do partido que faz oposição ao governador paulista.

Leite vem afirmando que o cenário das prévias era outro e que o partido não deve ficar "amarrado" ao resultado das eleições internas. Na segunda-feira (28), o gaúcho confirmou que ficaria no PSDB e que pretende renunciar ao governo estadual, deixando em aberto seus próximos passos. Ele havia recebido convite para concorrer ao Planalto pelo PSD, mas preferiu continuar no PSDB.

“A renúncia [do cargo de governador gaúcho] me abre muitas possibilidades e, ao mesmo tempo, não me retira nenhuma. Eu respeito as prévias, elas aconteceram, são legítimas. Mas não é sobre isso que devemos debater. É sobre o futuro do Brasil”, disse Leite.

Eduardo Leite vai usar eventual desistência de Doria para atrair MDB e União Brasil 

Com o processo de formação de uma federação partidária entre o PSDB e o Cidadania em andamento, Eduardo Leite pretende construir uma aliança com outros partidos da terceira via, como o MDB (que tem como pré-candidata a senadora Simone Tebet) e o União Brasil (que pode ser a nova casa de Moro). O grupo tem um acordo para uma unificação de candidaturas até meados de junho, e Leite pretende usar a desistência de Doria para se apresentar como alternativa.

"Eu estou me apresentando para dar essa colaboração, para que a gente viabilize uma alternativa para o país, para que a gente promova a união do centro democrático", disse Eduardo Leite.

Na avaliação de aliados de Leite no PSDB, o gaúcho conta com mais simpatia entre os demais partidos e isso deve ser ampliado com a desistência de Doria. Nesta semana, Leite afirmou que "muita gente acredita" que ele deve estar na liderança e disse se sentir preparado para concorrer, além de ter vontade e disposição de contribuir num projeto nacional.

Por que Moro deixou o Podemos para se filiar ao União Brasil 

Isolado das articulações entre os demais partidos da terceira via, o ex-ministro Sergio Moro deixou o Podemos e assinou sua filiação ao União Brasil nesta quinta-feira (31).

Dentro do Podemos, Moro tinha desafios a superar. O primeiro é que o partido tem estrutura pequena para uma disputa presidencial – diferentemente do União Brasil, que é um partido grande. Além disso, integrantes do Podemos o pressionavam a desistir da disputa. Essa ala da legenda argumenta que a candidatura do ex-juiz não decolou e que seria melhor para o partido investir os recursos do fundo eleitoral em candidaturas mais viáveis para outros cargos.

Agora no União Brasil, um partido maior, Moro teria mais estrutura para viabilizar sua candidatura presidencial. Mas ainda não está claro se o ex-juiz vai manter a candidatura na nova legenda. Ele, aliás, vem sinalizando a busca por uma composição com outras legendas da terceira via e teria admitido a aliados que pode não ser candidato a presidente para viabilizar a união da terceira via.

O ex-juiz havia se reunido nesta semana com o presidente nacional do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), e reforçou a necessidade de ter “um único candidato do centro político democrático contra os extremos”.

Bivar assumiu as articulações entre os partidos da terceira via nas últimas semanas e vinha sinalizando que o grupo deveria trabalhar em prol de um projeto comum. Até então, Moro e o Podemos estavam sendo deixados de lado dessas conversas como uma forma de pressionar o ex-juiz a “descer do salto” e sinalizar que também toparia abrir mão de sua candidatura em nome de uma união do grupo.

“Bivar seria um ótimo vice-presidente ou cabeça de chapa. Estaremos juntos de 2022 a 2026, pelo menos”, afirmou Moro na sua rede social, com uma foto do jantar com Bivar.

Nos cálculos de Bivar, todos os partidos do grupo devem estabelecer critérios para a definição da candidatura e não apenas pesquisas de intenção de voto devem ser levadas em consideração. A expectativa é de que todas as legendas se reúnam em um evento no próximo dia 6 de abril, no intuito de sinalizarem as convergências do grupo.

MDB diz apostar em Simone Tebet, mas aliança com outras siglas é possível 

Participando das conversas da terceira via, a cúpula do MDB pretende manter, ao menos publicamente, a defesa pela candidatura de Simone Tebet até o esgotamento das articulações. A senadora vem sendo apresentada nas inserções da propaganda partidária e, com isso, o MDB espera ampliar a exposição da pré-candidatura.

"A possível junção dos nomes da terceira via só deverá ocorrer no fim de junho. Em abril, começaremos a discutir os critérios", disse o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP).

Em meio as discussões, Tebet já sinalizou que não pretende aceitar ser candidata como vice na chapa entre os demais partidos do grupo. Nesse cenário, a emedebista seria candidata à reeleição ao Senado pelo Mato Grosso do Sul. De acordo com ela, a indicação como vice colocaria as mulheres num papel subalterno, uma “escada” para os homens, e não é esse o movimento que quer com sua candidatura.

"Eu não sou vice. Vou ser a primeira a estar na televisão [para defender o candidato da terceira via] se precisar, mas não quero ser vice pelo que minha candidatura representa. Eu represento, sem querer, algo muito maior do que eu. Sem querer isso veio. Nunca fui feminista de carregar bandeira, mas caiu no meu colo de ser a primeira prefeita da minha cidade, depois reeleita, depois primeira mulher vice-governadora [do MS], cheguei aqui [no Senado] fui a primeira presidente da CCJ, primeira líder do MDB...e daí aceitar de novo as mulheres abrirem mão? Acho que isso tem um simbolismo muito pesado", disse Tebet ao jornal Valor Econômico.

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