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Bolsonaro venezuelanas
Bolsonaro obteve decisão favorável no TSE que impede que a campanha de Lula use fala sobre venezuelanas contra o presidente| Foto: André Coelho/EFE

O comitê da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) adotou uma estratégia de contenção de danos após a repercussão gerada pela fala do candidato à reeleição de que "pintou um clima" com venezuelanas menores de idade que moram nos arredores de Brasília.

Além de conseguir proibir junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) explore a declaração com fins eleitorais, a coordenação de Bolsonaro atuou em outras frentes, inclusive buscando familiares das venezuelanas e investindo em anúncios nas redes sociais. Três publicidades foram contratadas no Google para rebater qualquer associação do presidente com o crime de pedofilia ou exploração sexual de menor de idade.

Duas delas são idênticas e trazem a imagem do presidente com a frase "Bolsonaro NÃO é pedófilo", além de um texto: "Bolsonaro não é pedófilo. Não acredite nas mentiras inventadas para te enganar". A campanha também impulsionou um anúncio de texto com o mesmo título "Bolsonaro NÃO é pedófilo", mas com outra frase: "Mais uma fake news criada pela esquerda para enganar a população brasileira".

As publicidades gráficas e a textual, bem como os valores investidos, estão divulgados no sistema de Transparência de Anúncios Políticos da Google. Os anúncios foram foram publicados no domingo (16) e, segundo a empresa, os investimentos totais chegam a R$ 166 mil e os conteúdos foram visualizados mais de 20 milhões de vezes.

A estratégia nas redes sociais foi adotada para mitigar os impactos de uma entrevista dada por Bolsonaro a um canal do YouTube na sexta-feira (14). Ele disse que, durante um passeio de moto pela comunidade de São Sebastião (DF), avistou meninas de 14 e 15 anos e que "pintou um clima" antes de pedir para entrar na casa delas.

"Eu parei a moto em uma esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, 3, 4, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas em um sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’. Entrei. Tinham umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando. Todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida", disse Bolsonaro em trecho da entrevista.

Como foi o contato entre Michelle e Damares com as menores venezuelanas

Outra estratégia adotada foi fazer um contato com a família das menores venezuelanas para tentar esclarecer o mal-entendido. A costura foi feita nesta segunda-feira (17) e conduzida pelas equipes da primeira-dama Michelle Bolsonaro e da senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, que integram o núcleo de coordenações regionais e temáticas da campanha presidencial.

Damares disse à Gazeta do Povo que ela e Michelle se encontraram com duas venezuelanas ligadas à família citada por Bolsonaro. O encontro ocorreu no Lago Sul, área nobre de Brasília, e foi viabilizado com o apoio da Presidência da República e da embaixadora venezuelana Maria Teresa Belandria, representante no Brasil do governo Juan Guaidó. "Eu e Michelle fomos abraçá-las. Foi só um abraço e esclarecimento do mal entendido", afirmou a ex-ministra da Mulher.

A insinuação do presidente de que as meninas fossem prostitutas gerou constrangimento e é negado por venezuelanos e pela Cáritas Arquidiocesana de Brasília, que acompanha os refugiados em São Sebastião.

Damares entende que as venezuelanas reconheceram o gesto da campanha de Bolsonaro para desfazer essa polêmica. "Foi encontro de coração", exclamou ela.

Em um primeiro momento, porém, as menores venezuelanas e seus familiares não demonstraram interesse em se reunir com Michelle e Damares, segundo afirmam interlocutores da campanha à Gazeta do Povo. A negativa foi atribuída não apenas pela fala de Bolsonaro, mas pela repercussão na imprensa e nas mídias sobre o tema.

No domingo, em ato de campanha em Aracaju (SE), Michelle minimizou a fala do presidente de que "pintou um clima" e afirmou que Bolsonaro tem "mania" de repetir a expressão em diferentes ocasiões. "Começaram com uma agora que ele é pedófilo. Ele tem uma mania de falar, em tudo ele fala 'se pintar um clima'. Vamos lá, Bolsonaro, jogar. 'Se pintar um clima, eu jogo com vocês'. Amor, você não vai almoçar? 'Não, só se pintar um clima'. Quer dizer, que se a carne tiver boa, se a comida tiver boa, ele vai lá e come", disse.

"Então tudo ele tem essa mania de 'pintar um clima'. E ai falam que agora o meu marido é pedófilo. Levantaram ai uma hashtag #Bolsonaropedófilo. Nos acusam de tudo que eles são, a verdade é essa", complementou a primeira-dama.

Em vídeo publicado em suas redes sociais, Damares também rebateu as acusações contra Bolsonaro. "Eu e Bolsonaro, juntos, vamos pegar todos os pedófilos do Brasil. Vamos dar a resposta à altura", declarou. A senadora eleita disse que ele é o presidente que mais investiu na proteção à criança e o que mais equipou conselhos tutelares no país. "A ordem dele foi 'vamos enfrentar a pedofilia e exploração sexual de crianças e adolescentes'. Aguardem vocês, mentirosos", disse.

Campanha de Bolsonaro conta com aliados para rebater opositores

Após a decisão do TSE de proibir a divulgação de peças que associem Bolsonaro à pedofilia, a estratégia da campanha é não fazer alarde e atuar de forma reativa sobre o caso. Se provocados, vão reagir e rebater as acusações e insinuações. Para isso, contam com o apoio da base aliada, que está mobilizada para rechaçar.

Nas redes sociais é onde a mobilização é mais presente. O deputado federal eleito Mário Frias (PL-SP), ex-secretário especial da Cultura, postou em suas redes sociais trecho da decisão de Alexandre de Moraes, presidente do TSE, e lembra que o ministro considerou como "fato sabidamente inverídico". "Alexandre de Moraes manda PT e redes sociais apagarem fala de Bolsonaro sobre venezuelanas", comentou.

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, também usou suas redes sociais para rebater as acusações de opositores. "Quem defende pedófilo como doença é o PT e a esquerda. O presidente é a favor da castração química para pedófilos. O vale tudo pelo poder está a todo vapor pela esquerda. A esgotosfera do PT está mais ativa do que nunca. Dia 30 acaba de vez pelo bem do Brasil", declarou.

A liminar do TSE também foi destacada por Faria, que é um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro. Durante o debate contra Lula, mesmo sem ser provocado sobre o tema, o próprio presidente também fez menção à decisão de Moraes. Ele chegou ler trechos da decisão para demonstrar que o seu adversário estava propagando uma fake news contra ele.

Em live na madrugada de domingo, Bolsonaro rechaçou as acusações, citou que a visita às venezuelanas foi gravada em live e destacou que sempre combateu a pedofilia e o regime venezuelano. "Acompanho com dor, com sofrimento as família que fogem da Venezula para o Brasil. Fogem da fome, fogem da violência do regime apoiado por Lula. Agora, pegam um pedaço e invertem tudo isso?", criticou.

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