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Bolsonaro durante seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU em 2019: presidente discursará novamente na terça-feira (20)
Bolsonaro durante seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU em 2019: presidente discursará novamente na terça-feira (20)| Foto: Alan Santos/PR

O comitê da campanha de Jair Bolsonaro (PL) acredita que a agenda internacional que o presidente cumprirá na próxima semana possa beneficiar sua candidatura à reeleição. Ele irá ao funeral da rainha Elizabeth II, em Londres, na segunda-feira (19), e no dia seguinte discursará na 77ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.

A campanha espera que os compromissos no exterior transmitam a Bolsonaro uma imagem de prestígio enquanto chefe de Estado e candidato à reeleição, a despeito de serem agendas do presidente da República.

Em relação ao funeral da monarca britânica, coordenadores eleitorais asseguram que o intuito não é usar a cerimônia como plataforma eleitoral. Admitem, porém, que, do ponto de vista pragmático, é uma chance para realçar a imagem de estadista do presidente ao aproveitar a exposição natural que receberá da imprensa.

Quanto à presença na Assembleia-Geral da ONU, a campanha admite que é uma oportunidade clara para Bolsonaro usar como palanque eleitoral. Não à toa, interlocutores do núcleo político antecipam que a ideia é fazer um discurso voltado para o público interno.

O que esperar da presença de Bolsonaro no funeral de Elizabeth II

A ida de Bolsonaro ao funeral de Elizabeth II cumpre uma formalidade diplomática. Ele comparecerá à cerimônia na Abadia de Westminster, em Londres, junto de outros chefes de Estado, bem como políticos e a família real britânica. A primeira-dama Michelle Bolsonaro deve acompanhar o marido.

Depois do funeral, o caixão será levado em procissão para o Castelo de Windsor, onde será sepultado. O enterro será na Capela de São Jorge, no terreno do castelo. O corpo da monarca será colocado ao lado do marido, o príncipe Philip; do pai, o rei George 6º; da mãe, a rainha-mãe Elizabeth; e da irmã, a princesa Margaret.

A estadia de Bolsonaro será curta, mas relevante. Para o comitê da campanha, será importante para realçar o status de chefe de Estado da maior economia da América Latina e a importância que o país tem no cenário internacional. Cientes de que a cerimônia terá a cobertura da imprensa, coordenadores eleitorais vislumbram otimistas de que a exposição midiática permitirá à população brasileira e eleitores em potencial conferir a interação do presidente com os chefes de outros países.

Para isso, ele terá de dar uma pausa na agenda de campanha eleitoral. No sábado (17), Bolsonaro visita Pernambuco e havia a possibilidade de ele permanecer no estado até domingo (18). Mas isso foi descartado após o Itamaraty receber o convite para o funeral de Elizabeth II. O presidente embarca para Londres na noite de sábado.

Na última segunda-feira (12), ele visitou a embaixada do Reino Unido, em Brasília, para assinar o livro de condolências pela morte da rainha. O presidente estava acompanhado da primeira-dama.

A ida de Bolsonaro será curta e, portanto, é imprevisível saber se haverá espaço para um encontro com a nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, mas algum encontro bilateral é "sempre possível", disse o secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Itamaraty, embaixador Paulino Franco.

Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (15) para falar sobre a Assembleia-Geral da ONU, Franco esclareceu não ter informações sobre a agenda de Bolsonaro em Londres. Mas destacou que, "em havendo a possibilidade de encontros" na capital inglesa, uma conversa "é sempre do interesse de outros líderes europeus e do presidente". "[Mas] não sei se permitirá uma flexibilidade grande para encontros. Será tudo com o passar muito marcado", ponderou.

Como será a agenda de Bolsonaro na ONU

Na noite de segunda-feira (19), Bolsonaro embarca para Nova York, onde será o primeiro a discursar na Assembleia Geral da ONU, na terça-feira (20). O pronunciamento será voltado para o público interno como uma estratégia eleitoral, admitem interlocutores do núcleo político da campanha.

O objetivo é converter votos de eleitores hoje dispostos a votar em alguma candidatura da terceira via e convencer a escolha da parcela indecisa do eleitorado. Para isso, interlocutores admitem que trechos do discurso podem ser usados dentro da estratégia de comunicação eleitoral nas redes sociais.

Segundo coordenadores eleitorais, o discurso terá como foco exaltar o legado do governo e deve contemplar pontos abordados nos outros anos. Para isso, serão destacados diferentes temas, como: a recuperação econômica e dos investimentos; os esforços ao combate à pandemia da Covid-19 e à guerra na Ucrânia; as ações do governo pela defesa do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável; e a importância do Brasil para a segurança alimentar mundial.

O objetivo é apresentar o governo como o responsável por ter colocado o país no rumo de uma economia liberal que evitou maiores danos causados pela pandemia, pela guerra na Ucrânia, e como sua atuação coloca o Brasil em um papel de destaque na América Latina e no mundo. A meta é transmitir a imagem de que a gestão zelou pelos empregos, pela vida e sempre defendeu as liberdades.

Na coletiva de imprensa sobre a participação da delegação brasileira na ONU, o embaixador Paulino Franco esclareceu que, em última instância, a construção do texto final do discurso cabe à Presidência da República. Ele reconheceu, porém, que o Itamaraty preparou subsídios e sugestões que embasam uma "prestação de contas" à comunidade internacional, com ideias sobre a pandemia, o conflito na Ucrânia, e acerca do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.

Sobre a hipótese de um discurso ao público interno, Paulino acredita que o presidente "separará as duas coisas", mas entende que ele não pode "deixar de ser, também, um candidato à reeleição". "A separação é necessária, mas mas nem sempre é perfeita. Depende da ocasião, do momento e da interlocução que os líderes tenham com outros líderes", ponderou o secretário de Assuntos Multilaterais Políticos.

Agenda de viagens pode trazer bônus internos e externos à campanha

A análise feita reservadamente por interlocutores da campanha sobre os possíveis ganhos eleitorais da agenda de viagens de Bolsonaro é endossada pelo deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e ex-vice-presidente do colegiado.

Para o parlamentar, Bolsonaro ganha não apenas no âmbito interno, mas também externo, a começar pela possibilidade da construção da ideia de um estadista. "Que, até agora, diria que a mídia tem feito de tudo para descredenciá-lo", criticou Orleans e Bragança. Para ele, a agenda externa será uma oportunidade para contrapor a opinião pública mundial que constrói uma uma imagem "totalmente inverídica" do presidente.

"E que precisa ser debelada com ações como essa. Não apenas pela presença, mas também pela comunhão de alguns rituais e valores da comunidade internacional. Uma vez se mostrando com deferência, respeito, isso só ajuda a opinião pública externa com relação ao presidente e também tem impactos internos também", opinou.

Do ponto de vista da política externa, a agenda permite a Bolsonaro ganhar capital diplomático ao assumir um compromisso com a comunidade internacional. "É uma sinalização de que ele está aberto ao diálogo, mas acho que a postura diplomática e também comercial e estratégica que o presidente conduz tem sido um dos pontos fortes do governo", elogiou.

Para o parlamentar, a política de Bolsonaro inaugurou uma nova vertente "soberanista" que recolocou o Brasil em um nível de respeitabilidade internacional. "Porque a gente é um país vassalo das vontades de outros que se julgam mais poderosos e sofisticados, mas o presidente deu um 'tapa na mesa' e está se posicionando. E ninguém mais brinca com o Brasil nesse sentido, e isso é fundamental".

Sob a ótica da política interna e eleitoral, Orleans e Bragança entende que as viagens ajudam Bolsonaro a convencer uma parcela do eleitorado que, hoje, está com candidatos da terceira via. "Por uma questão identitária, muitos não gostam do jeito do presidente por achá-lo cáustico e informal para o cargo. Essa parcela da opinião pública que tentou se construir na terceira via não vota no presidente", disse. "Mas com ele se posicionando internacionalmente como o chefe de Estado que sei que consegue ser, essas opiniões somem ou são reduzidas a nada", acrescentou.

O especialista em relações internacionais Thales Castro, coordenador do curso de ciência política da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), concorda com a análise de que a candidatura pode ser fortalecida com as viagens. "Sem dúvidas é possível obter apoio ao mostrar que tem prestígio ao estar no meio de grandes líderes mundiais no funeral da rainha. Isso desconstrói a narrativa da esquerda de que Bolsonaro não tem prestígio internacional e que a imagem do Brasil está prejudicada", disse. "Já o discurso na ONU garante a ele palanque para falar ao público doméstico", completou.

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